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4 poemas de Gáston Sequeira - tradução de Luciana Cañete

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ESPERA

salpica salpica
o eu   o super eu
instalados na dentadura amarelada
que parafraseia           que mastiga outros tempos

a esposa defunta        os beijos debaixo da  pele
os brotos de silêncio           de perguntar-se por que

detrás dos olhos  passeiam as coroas
atiradas todos os anos sobre a testa dos afogados

o trânsito dos filhos sobre o ofício
tarefa envelhecedora t      umidade que encapsula os ossos
doloridas engrenagens entre a carne

salpicam salpicam
os donos do mar       as âncoras mudas
incrustadas no fundo      nos elos livres

pupilas libertinas capturando a linha céu mar
boca rachada                ressecada de contar historias
de pedir auxílio              como se Deus
fosse uma gaivota risonha clamando paciência
escarvando na solidão
camada por camada de um coração derrotado

retardando o dia em que o último grito
se unirá aos ausentes

*

Espera    

salpica salpica
el yo    el superyó
instalados en la dentadura amarillenta
que parafrasea           que mastica otros tiempos

la difunta esposa        los besos debajo de la piel
los brotes de silencio           de preguntarse por qué

detrás de los ojos se pasean las coronas
arrojadas cada año sobre la frente de los ahogados

el tránsito de los hijos sobre el oficio
envejecedora labor      humedad que encapsula los huesos
doloridos engranajes entre la carne

salpican salpican
los dueños de la mar       las anclas mudas
incrustadas en el fondo      en los eslabones libres

libertinas pupilas apresando la línea cielomar
boca tajeada                 reseca de contar historias
de pedir auxilio              como si Dios
fuera una gaviota risueña clamando paciencia
escarbando en la soledad
capa por capa de un corazón derrotado

retrasando el día en que el último grito
se una a los ausentes



Barquinha amarela

amansando os estádios do mar   caminha
entre países vivos e mortas fronteiras
na fêmea da fome se somam  à luta
tremem os limites

como se não tivesse corpo
se despoja de sua imponência
e nada ao ar livre

é escudo e sensibilidade
apogeu terno de animais acostumados
seres errantes para certeiros martírios

nau ferida raivosa      persevera

*

Lanchita amarilla     

jineteando los estadios de la mar    camina
entre vivos países y muertas fronteras
en la hembra del hambre se suma a la lucha
tiemblan los límites ante su paso

como si no tuviera cuerpo
se despoja de su imponencia
y nada al descubierto

es escudo y sensibilidad
apogeo tierno de animales acostumbrados
seres errantes para certeros martirios

nave herida rabiosa       persevera
y así se va comiendo todo el sur

***

você de mim


assim é você de mim                     vem mas se vai
como o bagaço das uvas no paladar
as sobras do que falta e amamenta meu tempo

a cabeça cheia              é você em mim
parietal perfurado pelo indicador
o vigia de meus pensamentos acha que minto

uma vez tive ventos no coração
que me extirpavam a realidade               tomados
como violinos nas mãos de seus amos
eram lambidas impulsionados  à que te criaste

eu nunca pude sustentar o peso de minha alma
nem o peso que valia e vale hoje     ainda

não é que eu queira me vitimar
nem correr afoito atrás de um consolo
ou planar          como borboleta fraca em seu último minuto

é tão somente aguardar que a sombra de tua consciência
sustente minhas feridas

*

vos de mi    

así es vos de mi                     como que venís pero te vas
como el hollejo de las uvas en el paladar
las sobras de lo que falta y amamanta mi tiempo

la cabeza llena               es vos en mi
parietal horadado por el índice
el vigía de mis pensamientos cree que le miento

una vez tuve vientos en el corazón
que me extirpaban la realidad               tomados
como violines a las manos de sus amos
eran lengüetazos impulsados a la que te criaste

yo nunca pude sostener el peso de mi alma
ni el peso que valía y vale hoy      aún

no es que quiera victimizarme
ni correr despavorido detrás de un consuelo
o planear          cual mariposa reseca en su último minuto

es tan solo aguardar que la sombra de tu conciencia
sostenga mis heridas




casuarina   

perfume no ar             respiro seu oxigênio rítmico
aguardo                         seu cabelo pleno de céu

zumbido do trigo sacudido       no meu rosto
escurecido pelas unhas de sol
foi        estreito             errático

tuas raízes entranhadas            sabem de profundidade e frescura
passo um dedo com minha água           pelos teus pés de parto apenas

sou pássaro espiando a pele
experimentada maciez que ascende até tua boca
sonhadora de bosques

tua boca que cicia meu nome
escolhido pela mãe deste quase que sou

tua folharada abatida para nutrir
esse sustento que nos resgata da gravidade

*

casuarina    

perfumada al aire             respiro su oxígeno rítmico
aguardo                         su cabello pleno de cielo

zumbante trigo venteado          en mi rostro
oscurecido por las uñas del sol
asido        estrecho              errático

tus raíces entrañadas            saben de profundidad y frescura
paso un dedo con mi agua           por tus pies de parto apenas

soy mirlo curioseando la piel
experta sedosidad que asciende hasta tu boca
soñadora de bosques

tu boca que sesea mi nombre
elegido por la madre de este casi que soy

tu hojarasca abatida para nutrir
ese sustento que nos rescata de la gravedad
ingrávida broza sedienta en la muerte

cada remolino ha pretendido desorientarte
veleta alocada como este corazón que acá
entinta la tersura de tu existencia       


Galeria: Erik Johansson




Gáston Sequeira nasceu em 1975 em Coronel Pringles, Provincia de Buenos Aires, Argentina. Reside em mar del Plata desde sua infancia. É escritor e editor. Realizou diversas oficinas de leitura e criação literaria. Integra alguns grupos ligados a leitura. Participou de feiras dolivro (Mar del Plata, 2011 e 2013, Vila Mercedes, San Luis, 2013), do Festival  Internacional VaPoesía Argentina 2017, assim como de encontró de escritores. Seus textos circulam em formato digital em diversos sítios e blogs (Mispoetascontemporâneos da Argentina, metaforologia.com da América Latina e ILA Magazine do Marrocos). }Seu  libro de poemas La lengua del poeta foi editado por Alma de Diamante (Mar del Plata), premiado em certame internacional. Alguns de seus poemas foram incluídos em uma  plaquete pela editora La Garza Mora (Buenos Aires). É criador, director e coordenador do ciclo “Palimpsetos Encuentro de lecturas de autor



Luciana Cañete é poeta, tradutora, intérprete e mãe. Formada em Letras Português/Espanhol pela UFPR e pós-graduada em Tradução pela Universidade Gama Filho. Tem um livro publicado Meu coração bate e às vezes me espanca (Multifoco, 2009) e poemas na antologia 29 de abril : o verso da violência (Editora Patuá, 2015) e na antologia de 5 anos do Jornal Relêvo2015 além de poemas publicados diversos sites e blogs.

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