Image may be NSFW. Clik here to view. ![]() |
Imagem: Wordpress.com |
A poesia profunda e filosófica do professor,
escritor e poeta Jose Couto:
A máquina do mundo
nada se compara a esse entardecer
a lágrima do sol avermelhando o rio
sem culpas esculpindo desejos no silêncio
a lágrima do sol avermelhando o rio
sem culpas esculpindo desejos no silêncio
mas quem verdadeiramente se importa?
e no entanto essa beleza vai impregnando de avessos
a delicadeza que finda na luz que se despede
a delicadeza que finda na luz que se despede
tão pouco ofereceu esse dia que parte
talvez um minúsculo fragmento de folha
sendo levada sem rumo
pousou seu desvelo aos meus pés
e depois partiu em frêmito alucinante
talvez um minúsculo fragmento de folha
sendo levada sem rumo
pousou seu desvelo aos meus pés
e depois partiu em frêmito alucinante
mas quem verdadeiramente se importou?
entretanto agora nesse porto
esvaziado de opacidades
desprendendo cheiros familiares
algo não tangível
porém me escapa seu sentido
se há algum
transborda preso na garganta
do tamanho de um navio atravessado
esvaziado de opacidades
desprendendo cheiros familiares
algo não tangível
porém me escapa seu sentido
se há algum
transborda preso na garganta
do tamanho de um navio atravessado
mas verdadeiramente
alguém se importa?
alguém se importa?
a escuridão chega
e nos abraça implacável
vislumbro longe
às fragilidades que o mundo sussurra
e nos abraça implacável
vislumbro longe
às fragilidades que o mundo sussurra
despido do tempo que o dia me furtou
reparo nas indeléveis cicatrizes
que os cravos dilaceraram no centro das mãos
reparo nas indeléveis cicatrizes
que os cravos dilaceraram no centro das mãos
e nesse exato instante
revela-se a epifania das infinitudes
revela-se a epifania das infinitudes
perfumes óleos avelãs
a mirra o incenso e o indecifrável
a mirra o incenso e o indecifrável
subitamente desaguam
desconcertantes
desconcertantes
acendo o último cigarro
caminho sobre às águas turvas
anoitecidas sem compaixão
caminho sobre às águas turvas
anoitecidas sem compaixão
na margem orixás
babalorixás me saúdam
homens e mulheres registram nos celulares
ambulantes oferecem bugigangas
babalorixás me saúdam
homens e mulheres registram nos celulares
ambulantes oferecem bugigangas
todos aguardam
antes de tocar as pontas dos dedos
na pele úmida do afluxo
na pele úmida do afluxo
uma esfera esdrúxula
circunspecta drummondiana
de cor incerta
emitindo permanentemente
um mantra stotram
cruza o céu de ponta a ponta
em porto alegre
circunspecta drummondiana
de cor incerta
emitindo permanentemente
um mantra stotram
cruza o céu de ponta a ponta
em porto alegre
mas me diga leitor
quem verdadeiramente se importa?
quem verdadeiramente se importa?
*
O templo
eu penso no hálito de gim e café frio
do solitário cafetão sifilítico
quando vejo a magreza das meninas
contabilizando minguados michês
de seus corpos ocres de não tempo
do solitário cafetão sifilítico
quando vejo a magreza das meninas
contabilizando minguados michês
de seus corpos ocres de não tempo
eu penso no odor do liberal
em sua singela sinceridade
distribuindo moedas
nos semáforos do tempo interrompido
em sua singela sinceridade
distribuindo moedas
nos semáforos do tempo interrompido
um desolhar de revés
tempo desassossegado fluindo indo in
tempo desassossegado fluindo indo in
eu penso no êxtase de jimi hendrix compondo little wing
o ácido no pico exercendo a não liberdade
quando ouço um acorde dissonante ou iluminado
transmutando-nos em seres delicados altruístas
ressignificando perversas desumanidades
o ácido no pico exercendo a não liberdade
quando ouço um acorde dissonante ou iluminado
transmutando-nos em seres delicados altruístas
ressignificando perversas desumanidades
eu penso em Charles Baudelaire
alucinado de ópio e insight desfigurado
reescrevendo a modernidade
“é que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.”
quando escrevo o que minha anima inspira
nessas horas onde o tempo germina
auroras luminosas de nossa impermanência
alucinado de ópio e insight desfigurado
reescrevendo a modernidade
“é que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.”
quando escrevo o que minha anima inspira
nessas horas onde o tempo germina
auroras luminosas de nossa impermanência
um desolhar de revés
tempo de sincronicidade
relâmpagos dissipando-se em silêncios.
tempo de sincronicidade
relâmpagos dissipando-se em silêncios.
*
A música do mundo
como se tecesse breve
as sonatas de schubert
ou as bachianas de villa-lobos
as sonatas de schubert
ou as bachianas de villa-lobos
eu afago dentro da tua pele
o som da água limpa
essa que inunda o mundo
de amorosa luminosidade
e deixa indeléveis aromas
indecifráveis
o som da água limpa
essa que inunda o mundo
de amorosa luminosidade
e deixa indeléveis aromas
indecifráveis
como se fossem
as sobras do amor de passagem
e pudessem reacender
aqui e ali utopias
causas perdidas
um halo esvanescente
e inesperado
as sobras do amor de passagem
e pudessem reacender
aqui e ali utopias
causas perdidas
um halo esvanescente
e inesperado
capaz de desentranhar
um sentido absurdamente
límpido
na paisagem idílica do ser
um sentido absurdamente
límpido
na paisagem idílica do ser
e no coração do poeta
um inquestionável sopro
de delicadezas
Impulsionando auroras
um inquestionável sopro
de delicadezas
Impulsionando auroras
José Couto é professor e escritor. Pós-graduado em Educação Ambiental no Centro Universitário La Salle. Publicou "A Impermanência Da Escrita", poesias, 2010. Editora Alcance. Participou de diversas Antologias de poesias, crônicas e contos em diversos livros e periódicos da imprensa cultural do País. Escreve semanalmente no jornal O Alvoradense sobre poesia. Além da obra autoral, o poeta também abre espaço para divulgar novos talentos e obras de já consagrados escritores. Tem pronto para publicação o livro inédito "O Soneto de Pandora", poesias. Contato: jrobertocouto@ig.combr - Blog: http://oalvoradense.com.br/opiniao/josecouto