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Três poemas de Jose Couto

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A poesia profunda e filosófica do professor,
escritor e poeta Jose Couto:



A máquina do mundo

nada se compara a esse entardecer
a lágrima do sol avermelhando o rio
sem culpas esculpindo desejos no silêncio

mas quem verdadeiramente se importa?

e no entanto essa beleza vai impregnando de avessos
a delicadeza que finda na luz que se despede

tão pouco ofereceu esse dia que parte
talvez um minúsculo fragmento de folha
sendo levada sem rumo
pousou seu desvelo aos meus pés
e depois partiu em frêmito alucinante

mas quem verdadeiramente se importou?

entretanto agora nesse porto
esvaziado de opacidades
desprendendo cheiros familiares
algo não tangível
porém me escapa seu sentido 
se há algum
transborda preso na garganta 
do tamanho de um navio atravessado

mas verdadeiramente
alguém se importa?

a escuridão chega 
e nos abraça implacável
vislumbro longe
às fragilidades que o mundo sussurra

despido do tempo que o dia me furtou
reparo nas indeléveis cicatrizes
que os cravos dilaceraram no centro das mãos

e nesse exato instante 
revela-se a epifania das infinitudes
perfumes óleos avelãs 
a mirra o incenso e o indecifrável

subitamente desaguam
desconcertantes

acendo o último cigarro
caminho sobre às águas turvas
anoitecidas sem compaixão

na margem orixás 
babalorixás me saúdam
homens e mulheres registram nos celulares
ambulantes oferecem bugigangas

todos aguardam

antes de tocar as pontas dos dedos
na pele úmida do afluxo

uma esfera esdrúxula
circunspecta drummondiana
de cor incerta
emitindo permanentemente
um mantra stotram
cruza o céu de ponta a ponta
em porto alegre

mas me diga leitor
quem verdadeiramente se importa?

*

O templo

eu penso no hálito de gim e café frio
do solitário cafetão sifilítico
quando vejo a magreza das meninas
contabilizando minguados michês
de seus corpos ocres de não tempo

eu penso no odor do liberal
em sua singela sinceridade
distribuindo moedas
nos semáforos do tempo interrompido

um desolhar de revés
tempo desassossegado fluindo indo in

eu penso no êxtase de jimi hendrix compondo little wing
o ácido no pico exercendo a não liberdade
quando ouço um acorde dissonante ou iluminado
transmutando-nos em seres delicados altruístas
ressignificando perversas desumanidades

eu penso em Charles Baudelaire
alucinado de ópio e insight desfigurado
reescrevendo a modernidade
“é que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.”
quando escrevo o que minha anima inspira
nessas horas onde o tempo germina
auroras luminosas de nossa impermanência

um desolhar de revés
tempo de sincronicidade
relâmpagos dissipando-se em silêncios.

*

A música do mundo

como se tecesse breve
as sonatas de schubert
ou as bachianas de villa-lobos

eu afago dentro da tua pele
o som da água limpa
essa que inunda o mundo
de amorosa luminosidade
e deixa indeléveis aromas
indecifráveis

como se fossem
as sobras do amor de passagem
e pudessem reacender
aqui e ali utopias
causas perdidas
um halo esvanescente
e inesperado

capaz de desentranhar
um sentido absurdamente
límpido
na paisagem idílica do ser
e no coração do poeta
um inquestionável sopro
de delicadezas
Impulsionando auroras



José Couto é professor e escritor. Pós-graduado em Educação Ambiental no Centro Universitário La Salle. Publicou "A Impermanência Da Escrita", poesias, 2010. Editora Alcance. Participou de diversas Antologias de poesias, crônicas e contos em diversos livros e periódicos da imprensa cultural do País. Escreve semanalmente no jornal O Alvoradense sobre poesia. Além da obra autoral, o poeta também abre espaço para divulgar novos talentos e obras de já consagrados escritores. Tem pronto para publicação o livro inédito "O Soneto de Pandora", poesias. Contato: jrobertocouto@ig.combr - Blog: http://oalvoradense.com.br/opiniao/josecouto




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