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Ilustração: Leonora Carrington |
O RELENTO DA NOITE
Curva-se à sina
e ao senão
dos varados
solventes ventos
varados
lá no ângulo
- dos capatazes –
rebenta a moura corda
do passado
danado
danoso
doloroso
(ao fundo um céu
de chafarizes)
e ao senão
dos varados
solventes ventos
varados
lá no ângulo
- dos capatazes –
rebenta a moura corda
do passado
danado
danoso
doloroso
(ao fundo um céu
de chafarizes)
jasmim ribanceira
lareira de lábios
umedecidos
conchas cavadas
no relento da noite
lareira de lábios
umedecidos
conchas cavadas
no relento da noite
o assobio de uma estrela espuma na terra
como a vingança do açoite da vida.
RELENTE DE LA NOCHE
Se curva a la suerte
y al sino
de los varados
diluyentes vientos
varados
allá en el ángulo
- los capataces –
reventa la mora cuerda
del pasado
dañado
dañoso
doloroso
( al fondo un cielo
de chafarices)
jazmínladera
hoguera de labios
humedecidos
conchas cavadas
en el relente de la noche
el silbo de una estrella fugaz en la tierra
como la venganza del azote de la vida
***
CARAVELAS
Movimentos? quase só
os conheço aos poucos,
dos incomensuráveis
me poupo em cada pouso
para amar caravelas
antes de chegar-me
assumo a distancia
o espelho da nave
era sombra e, excluído,
fez-me crer que mais graves
são as manhãs de domingo
quase sempre amigas
dos papéis em branco
das recordações recortadas
dos múltiplos feriados.
os conheço aos poucos,
dos incomensuráveis
me poupo em cada pouso
para amar caravelas
antes de chegar-me
assumo a distancia
o espelho da nave
era sombra e, excluído,
fez-me crer que mais graves
são as manhãs de domingo
quase sempre amigas
dos papéis em branco
das recordações recortadas
dos múltiplos feriados.
Quando se surpreende o móvel,
no movimento ou no esquecimento?
Quando se forma a forma,
na correção ou na divagação?
no movimento ou no esquecimento?
Quando se forma a forma,
na correção ou na divagação?
são infinitas as maledicências
da matéria, as fazem de forma
a estarmos em constante humilhação
da derrubada dia e ponto
noite e selo
nas armações de suas venturas
mudadas de tática e conteúdo
à piragem da Nave.
da matéria, as fazem de forma
a estarmos em constante humilhação
da derrubada dia e ponto
noite e selo
nas armações de suas venturas
mudadas de tática e conteúdo
à piragem da Nave.
CARABELAS
¿Movimientos? Casi solo
Los conozco de a poco,
de los inmensurables
me ahorro en cada poso
para amar carabelas
antes de llegarme
asumo la distancia
el espejo de la nao
era sombra y, excluido,
me hizo creer que más grave
son las mañanas de domingo
casi siempre amigas
de los papeles en blanco
de recordaciones recortadas
de los múltiples festivos.
¿Cuándo se sorprende el móvil.
en el movimiento o en el olvido?
¿Cuándo de forma la forma,
En la corrección o en la divagación?
Son infinitas las maledicencias
de la materia, se las hacen de manera
a que estemos en constante humillación
de derrumbe día y punto
noche y sello
en las armazones de sus venturas
cambiadas de táctica y contenido
a la locura de la Nave.
cambiadas de táctica y contenido
a la locura de la Nave.
***
LÁCTEA
Os tempos de migração batem as asas
Esquento dois pedaços de néctar
- espremido e vacilante -
para minguar a quantia de fugas
grinaldas de lince e lua
ainda a magia do nada
o olfato benfazejo
creio-me láctea e feroz na madrugada
passos estreitos andarilhos
calçadas vazias em lentos lamentos
de escrita e esperança.
LÁCTEA
Los tempos de migración baten alas
Caliento dos pedazos de néctar
– exprimido y vacilante –
para menguar la cuantía de fugas
guirnalda de lince y luna
aún la magia de la nada
el olfato bienhechor
Me creo láctea y feroz en la madrugada
pasos estrechos andariegos
veredas vacías en lentos lamentos
de escritura y esperanza.
Jandira Zanchi é poeta, ficionista e editora. Publicou Área de Corte (2016) e Gume de Gueixa (2013) ambos pela Editora Patuá, Balão de Ensaio (2007) pela Editora Protexto. Tem lançamentos para breve de A Janela dos Ventos e A Minha Casa pela Editora Singularidade. Integra o conselho editorial de mallarmargens revista de poesia e arte contemporânea.
Luciana Cañete é poeta, tradutora, intérprete e mãe. Formada em Letras Português/Espanhol pela UFPR e pós-graduada em Tradução pela Universidade Gama Filho. Tem um livro publicado Meu coração bate e às vezes me espanca (Multifoco, 2009) e poemas na antologia 29 de abril : o verso da violência (Editora Patuá, 2015) e na antologia de 5 anos do Jornal Relêvo, 2015 além de poemas publicados diversos sites e blogs.