Helena Figueiredo
Registo fotográfico - Marta Monteiro
A CICATRIZ
Oh mar, oh mar
abri em tuas vagas
o coração magoado
afundei a tristeza
na prata dessa espuma
e tu
enamorado de meu vil sofrer
queres seguir-me os passos
rebentar os taipais da minha alma
num tsunami sem fim.
Prostro-me a teus pés
e numa súplica te peço
não me persigas
não batas à minha porta
não te guardes salgado
em meus olhos
hoje mais que tristes.
Forrava-lhe o peito a força do trabalho
e a majestade dos pinheiros bravos.
Tantas vezes o vi passar, a caminho do futuro
esse herói dos dias claros
que passeava os dedos no rosto dos filhos
dos netos
esse guerreiro destemido
partido a salto, para terras de França
na miséria de outros séculos.
Eram seis da tarde
e um homem desceu à terra, para nunca mais voltar.
Os raios oblíquos
projetam na parede as sombras
marionetas baloiçam
de cá para lá, de lá para cá
a imaginação é um fermento
anestesiado, o espinho verde
que nos feriu de morte.
A CICATRIZ
Cacos amontoados, retratos rasgados
lutas desiguais.
Toquem as sirenes, os sinos
clamem aos portais.
E quando se abater sobre nós o silêncio do fim
pedirei ao vento que não sopre rasteiro.
Acocorada, buscarei entre os despojos
estilhaços de alguém
a quem chamaram mãe
a quem beijaram de forma veneranda
(dias claros, esses, de supernovas
de flores em rebento, de paz celestial).
Fez-me a vontade o vento
e encosto cada ruga outrora curva
de um sorriso
mas verga-se a expressão
ao contorno da mágoa.
Sou eu, deposta sobre a mesa
exíguo o cabelo, agora baço
e naquele sinal castanho
que me adornava o lado esquerdo do nariz
ainda em sangue, a cicatriz.
lutas desiguais.
Toquem as sirenes, os sinos
clamem aos portais.
E quando se abater sobre nós o silêncio do fim
pedirei ao vento que não sopre rasteiro.
Acocorada, buscarei entre os despojos
estilhaços de alguém
a quem chamaram mãe
a quem beijaram de forma veneranda
(dias claros, esses, de supernovas
de flores em rebento, de paz celestial).
Fez-me a vontade o vento
e encosto cada ruga outrora curva
de um sorriso
mas verga-se a expressão
ao contorno da mágoa.
Sou eu, deposta sobre a mesa
exíguo o cabelo, agora baço
e naquele sinal castanho
que me adornava o lado esquerdo do nariz
ainda em sangue, a cicatriz.
POEMA SALGADO
Oh mar, oh mar
abri em tuas vagas
o coração magoado
afundei a tristeza
na prata dessa espuma
e tu
enamorado de meu vil sofrer
queres seguir-me os passos
rebentar os taipais da minha alma
num tsunami sem fim.
Prostro-me a teus pés
e numa súplica te peço
não me persigas
não batas à minha porta
não te guardes salgado
em meus olhos
hoje mais que tristes.
A VENDEDEIRA
Quem que comprar laranjas d´ouro
clamas, como quem transborda luz
elevas ao céu a voz
perdeste a fé nos homens
virgem decepada
que geraste um filho na hora de fugir.
Era ainda branco o sangue nos silvados
e na oliveira, pendurado
o teu tesouro morreu.
E nada mais aconteceu.
clamas, como quem transborda luz
elevas ao céu a voz
perdeste a fé nos homens
virgem decepada
que geraste um filho na hora de fugir.
Era ainda branco o sangue nos silvados
e na oliveira, pendurado
o teu tesouro morreu.
E nada mais aconteceu.
Secaram em teus gestos, os anseios
cobriste de negro o olhar
mulher sem nome
que carregas na cesta o desencanto
cobriste de negro o olhar
mulher sem nome
que carregas na cesta o desencanto
tropeça na calçada
deixa que rolem pelo chão esses tormentos
e recolhe viva, a cor da madrugada.
deixa que rolem pelo chão esses tormentos
e recolhe viva, a cor da madrugada.
.
NOME DE CÓDIGO: ÓMEGA
Eis-nos chegados ao leito dos enfermos
local soturno onde o tempo sobra.
E preenchemos o teto com quadros nus
onde apanhámos flores para cobrir os mortos.
Aqui estamos, imunes à felicidade
num corpo que deixou de nos pertencer.
Há um desconhecido para lá da porta
uma encruzilhada agreste. onde reina a anarquia
um beco sem saída
ou apenas uma poça de lama
que leva ao suicídio.
Tememos acabar possessos
ingerindo o nosso próprio fel
perante a branca indiferença das paredes.
local soturno onde o tempo sobra.
E preenchemos o teto com quadros nus
onde apanhámos flores para cobrir os mortos.
Aqui estamos, imunes à felicidade
num corpo que deixou de nos pertencer.
Há um desconhecido para lá da porta
uma encruzilhada agreste. onde reina a anarquia
um beco sem saída
ou apenas uma poça de lama
que leva ao suicídio.
Tememos acabar possessos
ingerindo o nosso próprio fel
perante a branca indiferença das paredes.
O BEIJO ETERNAMENTE DOCE
Tinha nascido
na compulsão do amor
viu as mesas marcadas de sangue
a lei do silêncio espetada nas portas
e sentiu-se só
como o íntimo dos homens.
na compulsão do amor
viu as mesas marcadas de sangue
a lei do silêncio espetada nas portas
e sentiu-se só
como o íntimo dos homens.
Escolheu morrer na fonte
onde bebiam os animais.
onde bebiam os animais.
HOMENAGEM
Hoje, pelas seis horas da tarde
um homem desceu à terra
envolto em panos brancos e chuva miudinha.
um homem desceu à terra
envolto em panos brancos e chuva miudinha.
Forrava-lhe o peito a força do trabalho
e a majestade dos pinheiros bravos.
Tantas vezes o vi passar, a caminho do futuro
esse herói dos dias claros
que passeava os dedos no rosto dos filhos
dos netos
esse guerreiro destemido
partido a salto, para terras de França
na miséria de outros séculos.
Eram seis da tarde
e um homem desceu à terra, para nunca mais voltar.
O GARROTE
Tragam os lenços
os que acenámos
os que limparam o suor
os que secaram as lágrimas
todos os que lavámos, pútridos de doença.
os que acenámos
os que limparam o suor
os que secaram as lágrimas
todos os que lavámos, pútridos de doença.
Os raios oblíquos
projetam na parede as sombras
marionetas baloiçam
de cá para lá, de lá para cá
a imaginação é um fermento
anestesiado, o espinho verde
que nos feriu de morte.