Hitman
O clone da violência muda,
outra valência de violência.
O silêncio que só o escuro sus-
peita, o ponteiro vermelho dos
segundos, sussurrando: menos
um, menos um, menos um.
Os fantasmas depositados nos
armários, os despojos de um
jogo que não se pode vencer
sem códigos, barras que não
se mostram, impressas, o livre
arbítrio, arbitrária verdade, da-
da de princípio. O Fim. O ser
humano, lixo num saco plástico
confortável:
um só serdescartável.
Pitfall
Durava
uma – exata – hora, a aventura
Maia. Era um tempo em que
os games eram jogados até o
cabo, ou tornava-se do início
a cada nova vez. Nunca ter-
minamos a missão. Segu-
íamos para a velha janela,
nosso megazord particular,
para, de lá, salvarmos o mundo
do mal, a começar pelos namorados
das primas mais velhas, com modos
de mais violência.
Enquanto, nosso avô,
sentado em sua poltrona, moldada
sob o peso do corpo, encostado
por sobre os braços, na quina da si-
nuca surrada, marcada de suor e ci-
garro, ensinava, sem que ninguém
soubesse, a sabedoria surda das coisas
que sabem, debruçado sobre o abismo
da caçapa, sem fundo aparente, a única
regra do jogo, a única verdade que vale.
Do amor, nem tanto.
Do jogo, restam algumas – poucas – fichas
e vidas que vão se esgarçando a cada mini-
morte diária.
Daquele tempo,
dos mortos e vivos,
nem isso.
Logan
para o Rics
“Now you run on home to your mother
and tell her, tell her, everything's alright”. –
Shane- Os brutos também amam
O homem velho é
a soma de seus dias
mais o dobro de todos
ao outros
que se viu viver em vão.
Aquilo que nos mata
é o mesmo que nos fortalece.
Enquanto o tempo,
mutante, segue seu
curso sem o mínimo
abalo, o corpo só conhece
o câncer, que se espalha,
fogo tocando a palha,
sem agulha, nem palheiro.
O homem velho tosse
seco
como quem quer ex-
pelir o passado, cada
centímetro de todos
os seus sentimentos,
o próprio peito;
mas, da boca
entre insultos,
só solta sangue,
a forma surda
de dizer a palavra
absurda, pulsante
antes que estanque.