Bragancinha gostava de terra batida, molhada, o cheiro das plantas. Virginal, um encanto nada febril. Uma moça aerada, cabeça nas nuvens, daquelas que ria dançando na chuva. O destino de Bragancinha anunciou: uma passagem a outros ares. Duque Caravaggio, pretenso homem de bens e dotes, se encantou com Bragancinha. acreditou que seu silêncio e títulos de nobreza o salvariam da miséria recém-anunciada. Ao saber que entrava em bancarrota, o Duque pediu ao Rei demente um baú de ouro, jurando que se casaria com boa moça, rica e bem comportada. Ledo engano. Tudo começa em Parati. Uma viagem em que o Duque, inconsciente, depositou todos os quinhões, crente que o futuro despontaria para a glória e a nobreza.
Bragancinha nunca tinha visto um membro duro, o do Duque, mesmo malemolente, a levou a um estado anfetamínico e hipomaníaco. Felicidade plena, montava no membro mole as 20 das 24 horas do dia. O Duque, amedrontado e anteriormente sugado por outras vaginas venenosas, enxergou em Bragancinha o perigo eminente, empurrando-a da cama. Desnuda, assim mesmo se foi.
Enquanto ela pulava pedindo, com ganas, ele espumava pela boca, chapado de opióides. Letárgico e zumbítico, mal teve a lucidez de perceber que ela fugia na madrugada, 2, 3 ou foram 4 vezes? Mal da memória já, pelo excesso de uso contínuo de ópio, Bragancinha nem podia lembrar-se com quantos se deitou, não necessariamente na horizontal. Primeiro foi uma festa na senzala, no centrinho e Bragancinha se sentiu tão em casa naquele dia. Dançando as dezoito pombagiras. Confundiu picas com beringelas e a boca cheia. Na casa de um sueco desmemoriado que cultivava cachaça de butiá mostrou o suíngue. Depois parece que foi um hóspede muito solitário e misterioso que a agarrou pelos cabelos no meio da noite calorenta, enquanto ela ganhava no jogo de bocha.
Parou na beira da praia com um argentino espião, uma lindeza de ser humano, foi pego por confabular maquiavelicamente contra o rei. Aprendeu a brigar no calabouço na prisão. Ao sair, penetrou na moça com a fúria real de um ex-presidiário. Apaixonou-se, a pobre Bragancinha, e não se lembrou nunca mais o nome do dito, outra dó.
Depois voltava já no sol à pino, rachando o côco; E o humor do varão continuava apodrecendo; como se ele comesse um corvo por dia no café da manhã. O passo lento e pastoso, a cada dia mais enfermo, desenganado e enganado por ela, que corria para os aposentos matrimoniais, banhava-se e dormia feliz.
Já na noite seriam novos arranjos; muito propícios para o veraneio, sobretudo quando se está linda e desacompanhada, o marido mofando na cama. As economias do Conde se esvaindo em noites de luxúria e lassividão.
Ela quase se esquece dos Bandeirantes, quando já em São Paulo; foram só dois: mas isso são outros 500 ( cruzeiros)
Ana Farrah é gaúcha de 1981; Teve sua escrita notada nas redes sociais quando seus textos começaram a ser publicados em blogs e revistas eletrônicas de literatura contemporânea no Brasil e em Portugal. Participou da coletânea de contos Sete Pecados, pela editora Scenarium Plural e da AntologiaContemporâneas na Revista Vida Secreta, editada por João Gomes. Publicou poemas também no Livro da Tribo, pela Editora da Tribo. É colaboradora/curadora na Malarmargens, revista virtual de poesia e arte contemporânea. Escreve poesia sarcástica, mas transita entre outros estilos. Ana no momento trabalha com estética e escreve nos intervalos entre uma massagem e outra. Publicou o livro "Orquídea Trepadeira e outras flores ordinárias", em 2017, pela Editora Benfazeja.