chuva, vento
o céu: chuva, vento
o céu, escuro,
tem estado assim desde cedo, e
minha alma em tormento.
agora: cinco da tarde,
mais chuva, mais vento.
no horizonte, mal
se distingue: o vago ponto
onde termina o mar
e começa o firmamento.
o céu, escuro,
tem estado assim desde cedo, e
minha alma em tormento.
agora: cinco da tarde,
mais chuva, mais vento.
no horizonte, mal
se distingue: o vago ponto
onde termina o mar
e começa o firmamento.
as roupas
Depois de “The sadness of clothes”, de Emily Fragos.
a pior parte (uma das piores partes,
pelo menos) é a de abrir os armários,
as gavetas, olhar as roupas, decidir
o que fazer com elas: pegar para si, para algum
parente, doar? porque quando abrimos
os armários e olhamos as roupas e
sentimos o cheiro delas, nós nos
lembramos de tanta coisa, de tantos
momentos. e revivemos um pouco,
e morremos um pouco. e, em
silêncio, de nós para nós mesmos,
rimos, choramos. ainda que não derramemos
lágrimas, choramos. por quê?, ah, porque,
ora, o momento de abrir os armários
e as gavetas, o momento das roupas, é o pior.
conselheiro mata
o que eu adoraria estar vendo
agora
é o seu perfil, tão
meu conhecido, tão bonito
diante do horizonte
sem fim
da estrada (de terra) que leva
a conselheiro mata.
agora
é o seu perfil, tão
meu conhecido, tão bonito
diante do horizonte
sem fim
da estrada (de terra) que leva
a conselheiro mata.
* * *
André Caramuru Aubert nasceu em São Paulo em 1961. É editor, tradutor e escritor. Já colaborou com publicações como O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Atualmente é colunista da revista Trip e colaborador do jornal Rascunho, para o qual mensalmente seleciona e traduz, entre seus preferidos, algum poeta estrangeiro. Publicou, pela editora Patuá, o livro de poemas Outubro/Dezembro e, pela editora Descaminhos, os romances A Vida nas Montanhas, A Cultura dos Sambaquis, Cemitérios e, agora em novembro, Só uma estranha luz como pensamento.