A FLOR QUE FITO
A flor que fito
distante
no fátuo eflúvio do horizonte – fovismo
, sinestesia provocante-canto-de-sereia,
, é abismo
: ilusão desnorteadora do tangível.
A flor que fito
errante
fincada na ferida a fogo a ferro
(lágrimas de sangue e um berro)
, pela pétala de brutalidade instigante
, torna-se
num sopro paradoxal
singular suave bela...
Tão bela essa flor mutante!
A flor que fito
descomunal
habita a visceral entranha
: tamanha é a força instintiva primal
fricçãocarne-carne
afago que arranha
fluido corporal.
A flor que fito
embevecida
também fede também cheira
; não é Amor
nem flor amarela.
A flor que fito
– nudez-mais-que-merecida–
não é Vênus de Milo
; só o sonho revela...
PERMANÊNCIA PERENEEM ESTADO DE SER-EM-SI
Sofro de flor:
a beleza da cor mora num morro,
lá onde a alma brejeia o silêncio da tarde
(o sol caindo...
vindo agora a saudade...)
Todos os dias
pétala por pétala
o tempo despenteia o ser plantado ali:
existência enraizada em si.
Só os pássaros norteiam o Aonde
Só o vento traz/leva o Aqui...
Sofro de flor:
parado permaneço próximo do pouso
de um passarinho
que acaba de levantar voo...
(O) SER
Não fosse super
Seria hiper
Não fosse botão
seria zíper
Não fosse a flor
da tua blusa estampada
faria de tudo pro Nada
deixar de ser tudo
isso.
AS FLORES BROTAM SOB A ÍRIS DO ANOITECER
As flores brotam sob a íris do anoitecer...
Meu silêncio responde aos gestos e apelos
de ambos os corpos
colados-flor-de-lótusUno-ser.
As flores brotam sob a íris do anoitecer...
Ser...
Seres...
Colibri & hibisco no chuvisco etéreo
que inunda poros
fecunda o mistério
num infinito oroboros...
Ilustrações : Francisco Gomes
Francisco Gomes(cor)rompeu a existência em 1982 no arcaico município de Campo Maior (PI), mas fixou raízes na provinciana Teresina (PI), onde habita desde os sete anos de idade. Iniciou as faculdades de História e Letras/português, abandonou ambas. Publicou os livros Poemas Cuaze Sobre Poezias (FCMC - 2011), Aos Ossos do Ofício o Ócio (Penalux - 2014) e Face a Face ao Combate de Dentro (Kazuá - 2016). É autor/editor do blog PULSO POESIA (www.franciscogomespoiesis.worpress.com). Tem poemaspublicados em revistas, coletâneas nacionais, jornais, blogs, sites, muros etc. Admira a carência orgulhosa dos gatos e a tranquilidade dos jabutis. Adora fígado acebolado.