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Foda-se a gramática - Renan Chiaparini

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Em uma conversa de bar
Em que brancos discutiam sobre supremacia
E desovavam seus ideais liberais e podres
Defecando pela boca
Foi dito e posto como regra que o “mim” não fazia nada
E que o “eu” era quem dava a letra e fazia a conexão da vida e da gramática
E eu pobre curumim
Regado à literatura marginal
Sentindo-me parente de Sergio Vaz e Mano Brown
Vaguei-me pelas interessâncias estruturais da sociemática
E pensei... pensei , visualizei entre nuances didáticas literárias de
nossas histórias verdadeiras contadas pelos filhos de nossos pais.
E encontrei o mim em alguns momentos, em alguns lugares.
O mim já perambulou pelas florestas e se fez presentes nas tribos pataxós, guarani, ticuna e terená
O “mim” já usou ecstasy com reiveros em rituais de musicas que seguiam as batidas dos corações acelerados das moças e dos rapazes nas tardes de domingos azedos e loucurantes.
O “mim” já andou de ônibus, apé, à cavalo, de carroça, e de bike.
O “mim” já participou de churrascos da família proletária liberal brasileira que discutiam sobre como tirar a Dilma e enfiar todo o resto no cu
O mim veio da favela, dos becos, das ruas
O mim é parte das moças dos lares, dos pedreiros, serralheiros, dos leiteiros.
O mim tem sangue quente
O mim tomou uma cachaça com o Lula e fez moradia, bolsa geladeira e Fome zero.
O mim conseguiu chegar à faculdade onde só o “eu” era quem rosnava e vomitava conversas fétidas sobre tênis da nike e camisetinhas de marca.
O mim é primo do “noiz” tio do “mano” parente distante do “Brother” e filho das mães putas, por consequente, não livres.
O mim toma cachaça e joga sinuca com o diabo em uma tarde quente e sólida no inferno
O mim é palpável
O mim é uma tarde de samba com Jorge amado no pandeiro e neguinho da beija flor no vocal, assistido por gente da nossa gente.
O mim já tomou enquadro, cuspiu na cara do polícia, pichou muro e escondeu o baseado dentro do tênis para não lhe ser desferidos golpes de “eu” em suas costelas pobres.
E ainda dizem que só o “eu” faz coisas.
E mim vos digo:
Enquanto o Eu e os ricos forem filhos de Deus
E o Mim e os pobres filhos de chocadeiras
Continuaremos a vociferar ódio para os pobres
Marginalizar o mim para os seres
Oferecer todo o crédito aos ricos
E dizer que o “eu”
e a meritocracia
são
Os corretos,

E as verdadeiras verdades



Fotografia: Linconl Costa   


Minibiografia: Renan Chiaparini, 27 anos, é escritor. poeta e ativista.Reside em São José do Rio Preto, formado em Direito e cursando Letras na Universidade Julio Mesquita Filho, (UNESP-IBILCE), já com um livro publicado pela editora MODO de Campo Grande – MG chamado 1° ato, escreve profissionalmente há 4 anos e ministra aulas de poesia em oficinas de Escrita Criativa.


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