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6 poemas de Ruy Proença

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Robert Doisneau





TUBARÃO VEGANO

             para Marc

só come:

a batata
da perna

as maçãs
do rosto

a planta
do pé

a palma
da mão

a flora
do intestino

o pomo-
-de-adão

a raiz
do cabelo

sobremesa?
só o coco



MENOS OPACO


Antonio Houaiss
um notável
filólogo
disse certa vez
que

uma das iguarias
mais exóticas
que provara
em suas viagens
por aí

foi uma aranha

diante do espanto
do jornalista
arrematou:

era
muito crocante

quando criança
na chácara
de meus pais

gostava
de caçar vagalumes
e colocá-los
num vidrinho

hoje imagino
exótico seria
comer vagalumes
vivos

quem sabe
tivesse feito
de mim

um homem
brilhante



O X DA QUESTÃO


cachimbo não tem x
mas xote tem

xícara tem
chácara, não

xepa e xampu, sim
chupim e chuchu, não

cheque de pagar, não
xeque de risco, sim

xá da Pérsia, sim
chá de beber, não

xale tem
chalé, não

ó língua cruel
ó dúvida sem fim

xará, nossa língua é mesmo
uma charada!



PARA QUE TANTA PERNA?

             para Luiza Castelli Rizzo


como será
que dança
a aranha?

com tanta perna
como não tropeçar
na própria
perna?

como dançar xaxado
forró?

com oito pernas
mais dois braços

sério é o risco
da aranha
ficar sem par

a menos que
no salão de sua teia
receba

a improvável visita
de um amigável
polvo



CADEIRA GIRATÓRIA


socorro,
acudam!

de tanto girar
girar

a cadeira
ficou tonta
caiu
quebrou o braço

rápido,
acudam!
direto
pro ortopedista!




ESPANTO

para Fernanda Crancianov e Paulo Ferraz


os sofás
bem desfiados
nas quinas

o ap.
tinha gatos –
isso se via!

o que era
inimaginável
– e que susto! –

foi quando
um dos sofás
pariu um gato

na verdade
(descobriu-se depois...)
uma gata

Marisa Proença

Ruy Proença nasceu em 9 de janeiro de 1957, na cidade de São Paulo. Participou de diversas antologias de poesia, entre as quais se destacam: Anthologie de la poésie brésilienne (Chandeigne, França, 1998), Pindorama: 30 poetas de Brasil (Revista Tsé-Tsé, nos 7/8, Argentina, 2000), Poesia brasileira do século XX: dos modernistas à actualidade (Antígona, Portugal, 2002), New Brazilian and American Poetry (Revista Rattapallax, nº 9, EUA, 2003), Antologia comentada da poesia brasileira do século 21 (Publifolha, 2006), Traçados diversos: uma antologia da poesia contemporânea (organização de Adilson Miguel, Scipione, 2009) e Roteiro da poesia brasileira: anos 80 (organização de Ricardo Vieira de Lima, Global, 2010). Traduziu Boris Vian: poemas e canções (coletânea da qual foi também organizador, Nankin, 2001), Isto é um poema que cura os peixes, de Jean-Pierre Siméon (Edições SM, 2007); Histórias verídicas, de Paol Keineg (Dobra, 2014) e Dahut, de Paol Keineg (Espectro Editorial, 2015). É autor dos livros de poesia Pequenos séculos (Klaxon, 1985), A lua investirá com seus chifres (Giordano, 1996), Como um dia come o outro (Nankin, 1999), Visão do térreo (Editora 34, 2007), Caçambas(Editora 34, 2007) e dos poemas infantojuvenis de Coisas daqui (Edições SM, 2007).





 

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