TRÊS POEMAS
(PORTUGUÊS - INGLÊS)
ANTES DE VER a grande beleza Dos teus olhos mal abrindo – Qual infância despertou daquele sonho? Qual saudade se afogou feito criança? Qual um sono só errância: chega aos dentes – qual um soco? Aos mares da memória – qual socorro? Às raízesdainfância– qualfissuraareabriraterra– Qual cesura a discernir em sopro o soluço desta estança? Antes de ver fechas teus olhos À grande beleza, ao cio das lembranças, Ao fogo-fátuo do visível, estes fogos de artifício – Chamas. | BEFORE I SAW the great beauty Of your eyes barely opening – What childhood had awoken from dreaming? What longing was drowned in its infancy? As wandering in sleep: as a punch – in the teeth? In the waters of memory – as comfort? Down to childhood’s roots – as a fissure reopening the ground – As a caesura sets apart this stanza’s murmured lament? Before looking your eyes enclose Such beauty, memory’s desire, The will-o’-the-wisp of sight, these fireworks – Your words ignite. |
ESTRELAS Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. – ÁLVARO DE CAMPOS Com a palavra longe te aproximas deste nome, E de teu nome, arrancado pela Raiz, Procuras os sais. Confundes a hora da aurora se alvoreces E tornas originais os que amanhecem Na palavra dia. Abissais tuas sílabas soam a melancolia Natural da melodia que se oculta Entre a palavra escuta e a palavra escrita. Adias os nomes, de vozes te acercas em portos Infinitos. E na palavra abismo Cais. | STARS Always this or always the other or neither this one nor the other. – ÁLVARO DE CAMPOS With the far-off word you approach this name, And in your name, torn out by the Root, You search for its salts. You confuse the break of day if you are dawning And make authentic all who find morning In the word day. Your fathomless syllables sound the melancholy Ingrained in the melody that hides Between the word listen and the word, written. You adjourn names, in infinite ports you draw near To voices. In the word abyss You fall. |
SOBRE A SUPERFÍCIE Assim principia: esculpes areia, é escuro. Sem rugas darias fisionomia às datas – incólume paisagem no entulho. De passagem, prestes também ao inefável, emudeces, mudas de figura: Abbild und Nachbild perdes; tudo perdes, é escuro. Ausência fia restos de sombra, vaga ressonância, vultos: o não-dito, rente ao alcance que então significa, esculpes. | ON THE SURFACE So it begins: you sculpt sand, it is dark. Without furrows you would give physiognomy to dates – unscathed landscape in the debris. In passing, and near to the ineffable, you fall silent, change shape: you lose Abbild und Nachbild; you lose everything, it is dark. Absence weaves the remnants of shadow, vague resonance, silhouettes: the unsaid, near to the reach that now signifies, you sculpt. |
Thiago Ponce de Moraes (Rio de Janeiro, 1986)é poeta e tradutor. Publicou os livros de poemas Imp. (Caetés, 2006), De gestos lassos ou nenhuns (Lumme Editor, 2010) e dobres sobre a luz (Lumme Editor, 2016), além dos livros de ensaios Remos e Versões (Multifoco, 2012) e Agora sim... talvez seja eu e mais alguém: específica experiência da leitura de Paul Celan e Ricardo Reis (NEA, 2014). Atualmente, termina tese de doutorado em Literatura Comparada sobre a obra de Paul Celan. As peças aqui publicadas fazem parte da plaquete Glory Box, publicada este ano pela Carnaval Press (Londres). |
Rob Packeré poeta e tradutor. Nasceu em Londres, cursou Línguas Modernas e Medievais na Universidade de Cambridge e mora no Brasil desde 2011. Seus poemas foram publicados em revistas no Reino Unido e na Irlanda, como Lighthouse, The Moth, Orbis e The Honest Ulsterman. Escreve um blog que inclui traduções e resenhas de poesia contemporânea. As suas traduções de Tróiades, de Guilherme Gontijo Flores, foram publicadas online e as de Thiago Ponce de Moraes na plaquete Glory Box. |