flores de vapor
E quando os corpos se demoram
nas ondas que vão que vêm
o lá fora infindo [cúmplice de fato]
é puro brilho
espremido no quarto.
E as essências fundidas
na matéria do amor
são única primavera
brotando flores de vapor.
O resto é sal e sol
nas deformidades do lençol.
minhas pedrinhas de joão e maria
Telhas d’água cobrem casas
copas, vagas, matas.
Dos poucos vãos que restam,
réstias beijam testas.
E, no palheiro da imensidade,
continuo a procura do pássaro perdido.
Perco-me como já perdi o chão tantas vezes.
Mas ouso adiante ir, porque é busca
de uma vida...
As margaridas silvestres da beira da esteira,
semeei-as para marcar o caminho da volta.
Talvez eu retorne pelo cheiro do ouro vivo,
talvez pelo brilho das estrelas rasteiras.
casa vazia
bem distante da epiderme lanhada
muito além das frestas surradas pelo sal do tempo
um coração antigo volita na futura morada.
raras vezes volta.
voa baixo.
beija-flora.
sorve o sumo.
e cansado
e criança
e perfumado
e saciado
e
novela-se ao sonho
:
levemente sorridente.
fartamente vingado.
a esperança é uma flor amarela no topo de uma montanha
no topo
de uma montanha,
f l o r e s !
amarelas!
elas, sim,
estão acima do mal e do bem
[e bem merecem,
pois que são filhas bem-amadas
do sol maravilha.
ah, quanto sal
inda hei de derramar
para aprender a conjugar o verbo amar do verbo do Amor,
e receber a insígnia de ouro vivo!
por isso vivo revivendo
reacendendo a interna flor
reacendendo a interna flor
reacendendo
a
interna
flor
...
quando eu me for, creia,
ela acender-me-á.
lá,
onde a esperança
é uma flor amarela
no topo de uma montanha.
re/en/canto
passa
passa
rinho
repassa
repassa
rinho
trans
passa
trans
passa
rinho
re
principia
pia
pia
pia
dos galhos que me agasalham
Cercada de lados
por todos os galhos
uma sombra companheira
cerca as beiras do poema
sem nome ou codinome
e o ampara e lhe empresta
novo lindo e leve olhar
e se depara com o meu
me sorri me abraça me beija na testa
me adula e, madura,
sopra meu sonho caçula
com seu passaraio ruidoso
pras bandas do horizonte
manga-rosa-quase-podre
aliviando minha pulsação... ... ...
Cercada de galhos por todos os lados
cerco o cerco da que me cerca de liberdade por eras.
Na verdade a árvore da minha vida e eu somamos solidões.
fragmento
Amanhecia colada na quentura.
Era preciso um esforço descomunal
pra pular da cama e recomeçar a peleja.
Ir ao trabalho pisando na grama dura era moleza.
O pior era voltar da escola, 22 e 40, encarangada de frio.
Nem olhava se alguma estrela caía: cortava caminhos a trote.
A mãe esperava o último ‘fio’ chegar. Pra servir alguma coisa,
pra saber se estava tudo bem, pra aliviar o coração dividido em oito.
Colocava garrafas d’água quente enroladas em lãs nos nossos pés,
mais nos da Ieda que era a mais friorenta.
Eu me aninhava do meio dela e da Nice. Chegava a suar!
Porque a mãe nos cobria com cobertores de doer os ossos.
Costurados por ela, à mão calejada, camada por camada.
A gente morria na quentura do amor.
Ilustrações: Maja Vuckovic
Janet Zimmermann é natural de Catuípe (RS) e mora em Campo Grande (MS) desde 1980; é calígrafa, artesã, poeta e colunista;participou do 1º sarau literário brasileiro pelo Twitter e fez parte dos 61 escritores participantes da primeira mostra interativa de tuítes literários de autores consagrados e novos talentos da literatura contemporânea de língua portuguesa (SESC Santo Amaro/SP); publica em vários jornais, blogues, portais e revistas;em novembro de 2013 publicou “Asas de JIZ” (Life Editora), seu primeiro livro (com 220 poemas), prefaciado por Rubenio Marcelo;está em “As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira”, projeto de Rubens Jardim, e nas listas dos “Poetas do Rio Grande do Sul” e “Poetas do Mato Grosso do Sul” do portal de Poesia Ibero-Americana Antonio Miranda; em 2015 participou da Antologia Poética “Sobre Lagartas e Borboletas”em prol da ONG Mano Down (livro e e-book);em 1º de novembro de 2016 publicou “Pétalas Secretas” (Editora Patuá - 100 poemas), prefaciado por Raquel Naveira. é filiada à União Brasileira de Escritores de Mato Grosso do Sul – UBE/MS.