Poetas
: Pássaros
Fazendo ninhos
Com arame farpado.
Autorretrato
Sou
Nativa
Do interior
Matuta
Astuta
: Não troco
Meus porcos
Por pérolas.
Entrega
Com os ateus
Aprendo a fé
Sem amparo
Das flores de
Precipícios.
Relógio muscular
Sístole
Diástole
Sístole
Diástole
– Enfadonha
A vida sem paixão
Alardeando vazios.
A nau dos loucos
A nau
Dos loucos
Tinha asas
Como velas
Mas eles
Preferiam
Andar sobre
As águas.
A lua de Ismália
Quando Ismália
Enlouqueceu
Não havia superlua
: A loucura era feita
De pequenos assombros
A inocência tem os pés nus
Impossível
Caber na
Floresta
Virgem da
Infância
Sem descer
Dos saltos
– A inocência
Tem os pés nus.
Poema de maio
Membro
Ereto
O Senhor
Aloja o
Cetro
No sexo
Do Abismo.
Copulam
Deus e o Diabo.
À minha imagem e semelhança
Deus
Contorna
Os olhos
Com lápis
Preto
Levanta
Com rímel
Os cílios longos.
Explode ao não achar
O batom vermelho.
Desiste de sair já pronto
Por causa do novo livro
Pelo poema que lhe acode
À mente suplicante;
Pelo blues que não quis
Ser rock in roll.
Deus
Como toda mulher
Está sempre sem roupa
Quando precisa sair;
Um guarda-roupa cheio
De Ausências é coisa que
Nenhum homem compreenderá.
Pra seu azar
Na TPM Deus
Se enfurece e
Manda todos
Pro Diabo.
"O Diabo que os carregue!"
E o Irmão, compassivo, carrega
Nos braços parte do sonhos que
Os dois sonharam juntos.
À entrada do oráculo
Mulher
: Entrega-te
A ti mesma.
A arte de viver em si
Como queria
Uma velha tia
Sem letramento
Lendo meus versos
E dizendo: "Minha
Fia, tu é uma autista!
***

Tânia Contreiras é poeta, graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal da Bahia; arteterapeuta junguiana pelo Instituto Junguiano da Bahia; docente em Sensibilização Poética na formação de Arteterapeutas pelo IJBA.
Imagem: O Navio dos Loucos, Hieronymus Bosch