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11 poemas de Tânia Contreiras

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Poetas

: Pássaros
Fazendo ninhos
Com arame farpado.



Autorretrato

Sou
Nativa
Do interior

Matuta
Astuta
: Não troco
Meus porcos
Por pérolas.



Entrega

Com os ateus
Aprendo a fé
Sem amparo
Das flores de
Precipícios.




Relógio muscular

Sístole
Diástole
Sístole
Diástole
Enfadonha
A vida sem paixão
Alardeando vazios.



A nau dos loucos

A nau
Dos loucos
Tinha asas
Como velas
Mas eles
Preferiam
Andar sobre
As águas.



A lua de Ismália

Quando Ismália
Enlouqueceu
Não havia superlua
: A loucura era feita
De pequenos assombros



A inocência tem os pés nus

Impossível
Caber na
Floresta
Virgem da
Infância
Sem descer
Dos saltos
A inocência
Tem os pés nus.



Poema de maio

Membro
Ereto
O Senhor
Aloja o
Cetro
No sexo
Do Abismo.
Copulam
Deus e o Diabo.



À minha imagem e semelhança

Deus
Contorna
Os olhos
Com lápis
Preto
Levanta
Com rímel
Os cílios longos.
Explode ao não achar
O batom vermelho.
Desiste de sair já pronto
Por causa do novo livro
Pelo poema que lhe acode
À mente suplicante;
Pelo blues que não quis
Ser rock in roll.
Deus
Como toda mulher
Está sempre sem roupa
Quando precisa sair;
Um guarda-roupa cheio
De Ausências é coisa que
Nenhum homem compreenderá.
Pra seu azar
Na TPM Deus
Se enfurece e
Manda todos
Pro Diabo.
"O Diabo que os carregue!"
E o Irmão, compassivo, carrega
Nos braços parte do sonhos que
Os dois sonharam juntos.



À entrada do oráculo

Mulher
: Entrega-te
A ti mesma.



A arte de viver em si

Como queria
Uma velha tia
Sem letramento
Lendo meus versos
E dizendo: "Minha
Fia, tu é uma autista!


***




Tânia Contreiras é poeta, graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal da Bahia; arteterapeuta junguiana pelo Instituto Junguiano da Bahia; docente em Sensibilização Poética na formação de Arteterapeutas pelo IJBA. 
Imagem: O Navio dos Loucos,  Hieronymus Bosch





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