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MARCELO ARIEL - 3 POEMAS

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STEFANI, Felipe - Retrato do Poeta Marcelo Ariel





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O QUE É UM POEMA?
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Um poema PODE SER um deslocamento contínuo DA PRESENÇA até PRESENÇAS, obviamente UM POEMA É O OPOSTO DE UMA METAFÍSICA DA PRESENÇA, nenhuma palavra utilizada no tempo linear pode dar conta deste deslocamento, principalmente nenhuma palavra do século XX, este híbrido de movimentos feudais e nazipsíquicos INFILTRADOS na realidade, pré-gravado para a conversão do corpo através dos celulares e o corpo JAMAIS SERÁ UM POEMA como UNIDADE INDIVISÍVEL ou seja como NOSSO, as zonas e circuitos de dissipação-CIDADES criam essa ILUSÃO e MISTIFICAÇÃO, mas ELE pode ser UM POEMA  como EXPANSÃO DA ENERGIA para uma sequência infinita E NÔMADE DE METAMORFOSES, se há a indivisibilidade de inúmeras senhas para o movimento similar ao dos drones emocionais, não pode haver o poema, os drones emocionais exigem senhas de pertencimento e NÃO EXISTEM SENHAS PARA O POEMA EXATAMENTE PORQUE ELE  É CONTÍNUO, o poema contínuo é A ENERGIA DO ABERTO, capaz de gerar campos de tempos elípticos onde só se movimenta O SER que é ele mesmo uma energia do aberto. OUTRAS TEMPORALIDADES acontecem, mas o poema acontece cada vez mais FORA DA PALAVRA e FORA DA LINGUAGEM, o que tateamos nestas CARCAÇAS PSÍQUICAS é um estilhaço da SEMIPRESENÇA. Uma rosa pegando fogo dentro do gelo e etcétera e etcétera.


O que motiva a escrita de seus livros?


A doçura do Sol, todos os planetas querem entrar no Sol, cosmoerotismo como o não-lugar, isso é dentro mas lá no espaço, intrigante como a explosão lenta de uma árvore em dez mil anos de ontem, mãos de gelo na chuva, oceanos nômades sem interioridade, isso move as insurreições, em breve.


No que você está trabalhando atualmente?


Não trabalho! Acontece e saio da frente, pede que se saia da frente, é o atravessamento para a o fora múltiplo, sem nomes, sem nomes, nem países, encontro e diálogo, estes sóis, estas águas, uma amiga me disse que quando tocamos no pó dos cadáveres que foram cremados, ele não é como a areia, há uma porosidade etérea, há algo que está vivo neste pó, algo que pulsa, como um poema, acordando.


Como seu trabalho atual irá intervir na sua fala no Seminário?


Povoamento de abismos, como cancelar o teatrofantasma, o olhar é como o pólen, flutuante, ver é ouvir e ouvir é ver.





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Do livro COM O DAIMON NO CONTRAFLUXO (Patuá, 2015)







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RECADO DO ANJO PARA AQUELA
QUE SEGURAVA AS FLORES DIANTE DA TROPA
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“ São pouquíssimos os espíritos aos quais é dado descobrir
que as coisas e os seres existem.”
Simone Weil


Podemos ouvir dentro das flores 
o eco do silêncio
dos presos atirados no mar
cortando nosso céu
o que você agita diante da tropa
aparece como estas flores
que também são como raios que se misturam com gritos
vemos os fios de vozes se misturando
com  a fumaça das bombas
estes que estão no fundo do mar cantam vosso nome
Devemos descer
na velocidade das trevas
dizem
para lugar algum
a tropa avança
diz uma
a da criança
cancelada por vossas lágrimas
na Ágora onde floresce ainda a ideia
da aliança
entre a exterioridade do espírito
e a outra, que chamais de urbana
por você, uma vez mais
a visitação do Anjo da dignidade humana
não, a criança que ordena, nunca ouviu falar
nas bombas de mel de Beuys
ela não pode ver a luz saindo do fundo do mar
da voz dos sem sepultura
convertendo a tristeza em coragem


O Arcanjo segura nestas mãos
que sustentam no ar, as flores
como se abençoassem a terra,
enquanto você chora,
professora,
décadas depois
Porque todos os tempos são simultâneos ,
no antissonho, o Anjo mostra ao “governador”
agora , apenas uma criança assustada
a beleza & nudez da verdade
da luz que sai das flores
apagando as cidades.





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Ò SAGARBHA NO CAMINHO DO SABIJA - SAMADHI
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Lapida o que no nome se cristaliza O_____________ como neblina genealógica, a visão de uma árvore como um recado
das Nebulosas
Eis o parentesco mais sutil que explica a palavra que costura em nós os mortos, Árvore
O efeito é encantatório, Respirar
Primeiro êxtase dentro de Outra-Outro
Lapida o Rosto do que será este
duas metades , Solar-Lunar
que Seu nome _________________________________________
Não te fará lembrar









Marcelo Ariel Santos, 1968. Livros: Tratado dos Anjos Afogados (Letra Selvagem, 2008), Retornaremos das cinzas para sonhar com o silêncio (Patuá, 2014), Com o Daimon no Contrafluxo (Patuá, 2015), entre outros. Coordena cursos livres de criação literária em Santos-SP e São Paulo-SP.





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