Ouso falar de beleza, ouso falar de poesia. De consequência, ouso falar de magia. E se querem todos ouvir falar de poesia-beleza-magia é de José Inácio Vieira de Melo e seu livro de poemas SETE que estarei falando. Com ilustrações próprias de literatura popular, de cordel (embora a poética desse livro não seja) feitas por Hallina Beltrão, com sete partes e sete poemas cada, o poeta alagoano, radicado na Bahia, brinda-nos, já de início, com versos dessa categoria, começando o poema O Pianista Selvagem I como se cantasse um hino:
"Eu sou o pastor da pérolas orvalhadas.
Minhas mãos unem contrastes,
teclas de natural marfim e de ébano acidental."
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Trabalha seus versos mitologicamente, num sentido sertanejo-bíblico, exuberantemente lírico e sedutor, com plenitude de sentimentos e linguagem, em ecos vibrantes. Assim:
Trabalha seus versos mitologicamente, num sentido sertanejo-bíblico, exuberantemente lírico e sedutor, com plenitude de sentimentos e linguagem, em ecos vibrantes. Assim:
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"E foram sete vezes sete os reinos que visitei
até encontrar no soturno mundo velho
uma lua cheia que crescia sem parar
e a solidão do pianista dentro de um Noturno."
O grito bíblico e belo se faz tão retumbante como se ecoasse nas lonjuras de seu sentimento frente ao mundo, numa sabedoria em dizer com semelhança de estilo dos grandes versejadores e cantadores, enunciando sua verve poética rica e iluminada. Dessa forma:
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"Jesus anda pelos pastos
recebendo as sete cores do Sol,
comunicando os sacramentos da vida
e abençoando os bichos que pecam."
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José Inácio Vieira de Melo fotografado por Ricardo Prado na Pedra Só. |
Salienta esse versos diferentes, criativos, de Concertos para Cavalos I:
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"Rincha o vento da lembrança.
(Sopranos:era uma vez...)"
Ainda em Concertos para Cavalos, o Poema VII, enuncia a atitude nobre do alazão, relinchos, asas, poemas. Tudo no galope e cavalgar que se concretiza, alucinado e louco " sobre telhados atônitos,/ sobre gemidos e coitos."
No Poema VII, de A Virgem Universal do Reino do Sétimo Filho, encontro versos de tamanha grandeza feito esses, que nos concedem a alegria de acreditarmos cada vez mais no milagre da poesia e sua essencialidade para a vida. Embevecida, destaco:
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"Por sete vezes a virgem
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"Por sete vezes a virgem
se ajoelhou a imprimir
o prazer supremo em mim,
tatuando epifanias!"
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No Poema I, de A Catedral do Nome, entonteço-me de tanta poesia. Trago os dois primeiros versos, para degustação:
No Poema I, de A Catedral do Nome, entonteço-me de tanta poesia. Trago os dois primeiros versos, para degustação:
"Um dia, ao acordares,
o espelho vai dizer que não te conhece."
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Também no Poema VI pérolas feito essas:
Também no Poema VI pérolas feito essas:
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"O outro que és é o longe
que se alonga ao meu encontro."
No Poema I, de Sete Perguntas para Voar, indagações do devir, em extremo apelo poético e verdadeiro:
"De onde vem a pastora
que apascenta o beijo de Safo
até minha língua ficar encantada?"
A contracapa da edição de SETE é honrosa, escrita pelo grandioso poeta Thiago de Mello, orelha de Salgado Maranhão e Posfácio de Ronaldo Correa de Brito. O selo editorial é da 7Letras. Um livro que já está em minha estante para infinitas releituras e comentários. Um livro para todos. Um livro verdadeiramente com o rótulo de poesia. Vamos apreciar.
Sônia Elizabeth é poeta e ensaísta. Autora do livro de poemas Sinfonia Natural e membro da UBE-GO. Reside em Goiânia-GO.