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3 POEMAS DE ADRIANA SYDOR

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Les Rubans de Noel (2015) - Isabelle Delamarre

tradutor


eu tenho uma vida inteira desperdiçada em lágrimas
toda mi vida a llorar, caer en lluva de sal
escorreu em meu rosto, traços fundos, todo tipo de lástima
sufrí pelos hombres que no lo saben
gritei as verdades num coro total
naufragué en los córregos menos profundos
e por fim larguei as esperanças no canto dos boicotes
poco a la izquierda para otros tiempos
mesmo assim insisto nessa música que não termina
y me río de los que piensan que me conocen
a eles ofereço, sem volta, a espada de Dâmocles
y zapateo sin piedad toda la dança del mundo



-

viagem de trem


uma missa em latim
o reflexo do rosto no trem
o som do baixo, o jazz
bombas em Bruxelas
vento varre capim.
menos uma hora em Paris
ando descalça em Londres
ouço a velha música
o livro está sobre a mesa
e a tragédia no jornal
falso espanto da realeza.
no relógio, o mesmo horário
campos de trigo, de nada
um avião, árvores secas, paisagem morta
s’il vous plaît, monsieur, éteignez la musique
há fumaça no céu
no vilarejo, piquenique
por favor, senhor, não bata a porta.

-

com o infinito ao redor

sem saber da chuva que chovia
nem ligar para a moral
dos grandes homens
dormia na rede.
e o dia passava lá fora
sem lembrança
porque o sono não era vida
nem formava história.
sonhava barulho dos sapos
passarinhos e água que caía.
sonhava com uma baía
e uma ilha
com grama do continente
e uma chaminé que soluçava
fumaça azul.
e no sonho ouvia
um galo chorando
o latido longe de um cachorro velho
e os primeiros grilos do mundo.
sonhava com brisa fresca
com sol que não existia
e risadas de meninas.
sonhava os prazeres
carne e espírito
cama e mesa
fluidos, toques e versos.
sonhava beijo e anoitecer
gafieira, pastel, cuba-libre.
dormia.



Adriana Sydor. sou jornalista, escritora e editora. creio em Pixinguinha, em Van Gogh, em García Márquez, em Fernando Pessoa porque acredito na beleza como profilaxia. no mais, tenho pensamentos secretos e sonhos que encheriam um caminhão.


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