eutanásia
já sofri duas eutanásias
e não morri
não posso dizer o mesmo
sobre o meu espírito
desde então
estou presa
num corpo desalmado
onde habita
um buraco negro
faminto
ad_vento
toda noite
deitada e estirada na cama
vestida de lençóis florais
eu profetizo a minha morte
mas todo dia
eu amanheço
num deja vu recorrente
o sol se põe
vou pra cama
e anoiteço
(toda noite...)
garoa
prazer
em quase te ter
igual prazer
em ver-te indo
emoções iludem
os sentidos
e sem ti dou
o braço a torcer
já cansada
de ser oblíqua
contento-me
em ser garoa
veia torta
meu amor correu de mim
quando percebeu
minha veia psicopata
uma veinha torta
um vasinho à toa
era a minha aorta
então o sangue me subiu
pela mesma veia morta
depois não vi mais nada
só sei que agora ele se comporta
e hoje vive muito feliz
na parede, atrás da porta
(quem cala, concorda e consente)
golpe
meu coração te elegeu
sem plebiscito,nem sufrágio
desconfio de um golpe
no meu estado são
(meu coração nunca foi democrático)
Disputa
não quero entrar nessa disputa
de quem é mais podre
de quem é mais puta
sou apenas
sou muita(s)
sou meu próprio gueto
minha solitária luta
T.P.M.
meu desejo para hoje:
uma cama e quietude
enquanto sangro
minha parcela de fêmea
viagens I
não foi um dia comum
como outro qualquer
nos céus brilhavam
os dentes de ouro do sol
enquanto isso
joaninhas massoterapeutas
resolviam os torcicolos
de girassóis extasiados
quando um fauno desatinado
surgiu tocando flauta de pã
oferecendo sorrisos e vinho
tirados de um saco mágico
no dia seguinte
só se viam girassóis caídos
joaninhas no Polé(n) Dance
e um sol desdentado
o fauno?
postou tudo no Facebook
sem mais
não se demore muito
sofro de amnésia seletiva
e o tempo não é meu amigo
vive me atropelando
não se atrase demais
excesso de absurdos casuais
nunca me comoveram
vivo deixando-os pra trás
não temporize demasiado
tenho uma fome infinita
de inusitadas explosões
que matam caminhos banais
(sem mais delongas
alcance-me
canse-me
dê longas)
o que eu posso
sentir ciúme
não tenho o direito
posso ter, talvez
um buraco no peito
mas sentir ciúme
não tenho o direito
posso ter até
um cisco no olho, suspeito
mas sentir ciúme
não tenho o direito
posso ainda ter
toda essa falta de jeito
mas sentir ciúme
não tenho-o direito
(nem do lado esquerdo)
RENÚNCIA II
sossega, amor
eu sei que a vida
exigiu-lhe atitudes
eu compreendo
fica em paz, amor
o que há de verdadeiro
não se apaga
nem se esquece
segue tranquilo
o seu caminho
como lhe apetece
eu daqui faço uma prece
(curta pra não cansar o santo)
VERSO PRO TEU EGO E MEU DESCA(N)SO
meio beck antes
o trago (você de volta)
não me ocorria
meio beck depois
o es_trago
da nostalgia
DECISÃO
não tenho espaço em mim
nem pra saudades
nem pra arrependimentos
a decisão foi tomada
por tua omissão
e concordância tácita
a decisão foi tomada
por minha ação
e atitude eremita
nem todas as decisões
são cláusulas pétreas
mas enrijecem a alma
Renata Braz é natural de Franca/SP. Artificial do mundo. Casada. “Bacharéu” em Direito por imposição social. Aprendiz de poeta por invocação, desvirtuadora da semântica, nem sempre romântica. Nascida ácida, com doçura provisória, um dia jura que será zen. Mantém um blog como refém (Tatami, Coisa e Tao - http://tatamicoisaetao.blogspot.com.br) que alimenta quando dá na telha.