![]() |
Imagem: Chema Madoz |
SEMENTEIRAS DE VIDA
Não vandalizem
as flores
mas brotam de asfalto
e humanizam as urtigas
Se fazem de bobas
mas são ontologia
de todas
as coisas
Vulneráveis
à espera de beijos
mas paralisam homens e tanques
na primavera
de todas as pragas.
EVOCAÇÕES A HEIDEGGER
A adâmica (e eterna) busca da melhor palavra
tropeça num limbo conceitual.
As palavras são errantes,
mas nunca erram.
Erramos nós por desejá-las perfeitas.
LINHAS E LINHOS
Os labirintos de minha mãe
escondem segredos e revelam caminhos
entre tramas de textos e tecidos de linho.
escondem segredos e revelam caminhos
entre tramas de textos e tecidos de linho.
*
Eu cultivo um pé de palavras
num canto árido de meu quintal
e quando elas dão frutos,
exalam um cheiro tão bom, mas tão bom
que eu como todas elas
num canto árido de meu quintal
e quando elas dão frutos,
exalam um cheiro tão bom, mas tão bom
que eu como todas elas
![]() |
Imagem: Chema Madoz |
*
Meus olhos estilhaçam
margens,
dúvidas e sentidos,
sem prêmios.
Retenho nas retinas
o que me (im)pressiona,
fixo-me no ponto cego a todas as visões.
Meus olhos,
janelas de mim:
minhas impressões digitais.
O HOMEM, O AVESTRUZ E O TEMPO
Em busca de sombra,
pés em rotação,
o avestruz ignora
o movimento do sol
nos relógios da vida,
homens e ponteiros
escorregam do passado
e deslizam pro futuro (em vão)
no presente,
um olho na ampulheta
um olho no avestruz
levam muito mais do que segundos
de minha atenção.
Liberto,
o tempo do avestruz
zomba de minha falta de tempo.
DA LEVEZA DOS SERES
Por mais leveza na vida
E menos códigos de barras.
Mas que a (in)sustentável leveza do ser
não impeça sua existência.
E ainda que tão leve seja
Não seja assim tão leve
que nos leve a ventania.
A leveza só ganha peso
nas amarras.
À TONA
Mergulhei do mar.
Cortei a água com a força de um golfinho,
trazendo à tona todos as conchas e corais.
Explodi na superfície como fogos de artifício,
colorindo o mundo cinzento e sem sal.
Regina Celi Mendes Pereira nasceu em João Pessoa, em 1963. É professora da Universidade Federal da Paraíba, pesquisadora do CNPq, editora da Revista Prolíngua e coordenadora da sub-sede da Cátedra UNESCO em Leitura e Escritura. Suas publicações em livros e revistas são todas acadêmicas, em Linguística Aplicada. É leitora e apreciadora de poemas e, de vez em quando, arrisca-se em escrever alguns.