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8 poemas de Regina Celi Mendes Pereira

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Imagem: Chema Madoz

SEMENTEIRAS DE VIDA


Não vandalizem
as flores

Parecem frágeis
mas brotam de asfalto
e humanizam as urtigas

Se fazem de bobas
mas são ontologia
de todas
as coisas

Vulneráveis
à espera de beijos
mas paralisam homens e tanques
na primavera
de todas as pragas.




EVOCAÇÕES A HEIDEGGER 


A adâmica (e eterna) busca da melhor palavra
tropeça num limbo conceitual.
As palavras são errantes,
mas nunca erram.
Erramos nós por desejá-las perfeitas.




LINHAS E LINHOS

Os labirintos de minha mãe
escondem segredos e revelam caminhos
entre tramas de textos e tecidos de linho.


*


Eu cultivo um pé de palavras
num canto árido de meu quintal
e quando elas dão frutos,
exalam um cheiro tão bom, mas tão bom
que eu como todas elas
E isso me faz muito bem.
 



Imagem: Chema Madoz


*

          Meus olhos estilhaçam
          margens,
          dúvidas e sentidos,
          sem prêmios.

Retenho nas retinas
          o que me (im)pressiona,
          fixo-me no ponto cego a todas as visões.

          Meus olhos,
          janelas de mim:
          minhas impressões digitais.




O HOMEM, O AVESTRUZ E O TEMPO


Em busca de sombra,
pés em rotação,
      o avestruz ignora
o movimento do sol

nos relógios da vida,
homens e ponteiros
escorregam do passado
e deslizam pro futuro (em vão)

no presente,
um olho na ampulheta
um olho no avestruz
levam muito mais do que segundos
de minha atenção.

Liberto,
o tempo do avestruz
zomba de minha falta de tempo.




DA LEVEZA DOS SERES 


Por mais leveza na vida
E menos códigos de barras.

Mas que a (in)sustentável leveza do ser
não impeça sua existência.

E ainda que tão leve seja
Não seja assim tão leve
que nos leve a ventania.

A leveza só ganha peso                                        
nas amarras.




À TONA


Mergulhei do mar.

Cortei a água com a força de um golfinho,
trazendo à tona todos as conchas e corais.

Explodi na superfície como fogos de artifício,
colorindo o mundo cinzento e sem sal.




Regina Celi Mendes Pereira nasceu em João Pessoa, em 1963. É professora da Universidade Federal da Paraíba, pesquisadora do CNPq, editora da Revista Prolíngua e coordenadora da sub-sede da Cátedra UNESCO em Leitura e Escritura. Suas publicações em livros e revistas são todas acadêmicas, em Linguística Aplicada. É leitora e apreciadora de poemas e, de vez em quando, arrisca-se em escrever alguns.


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