rua dos bobos, número zero
alguns encantos mudam
sem mandar aviso
e fico só – no pó do aguardo -
nutrindo espírito & ácaros
contas
livros
propagandas
cobranças
:
chegam de hábito
onde habita
o previsível
cadê [vinícius]
a casa
muito engraçada
do improviso
?
ficar com certeza maluco beleza
pouco importa
se amor é porto
ou precipício
amar é parto
de certo risco
inferno dentro
do paraíso
fomos feitos
para isso
:
um pé no spa
outro no hospício
dia d
dê-me
deus
um dia
a dois
um dia
que dure
um dia
que doure
um dia
durante
delirante
noite
dia de
ideal
instante
equidistante
ideia
dia dínamo
dinamite
dia amante
dane-se
o que doer
depois
empírico
te toma de
assalto. rouba
teu íntimo. sopra
no início. suga
no último
ato.
tem um quê de
fome. é fúria.
regojizo.
te faz carícias.
inflama. é artifício
da alma
humana.
é divino. abstrato.
e vês. acolhes
nos braços.
é amor. te
mata
de.
horizonte
todo mundo
tem um ontem
tem um ente
um outono
um instante
um só poente
para lembrar
ou enterrar
mise-en-scène
bizarro
é ser voyer
dessa dupla
intenção
e - impotente -
observar
que a farsa
copula e goza
com a culpa
[póstuma]
horror
é ver a tara
[cara a cara]
mascarada
de amor
imprevisto
na certa
é amor
ou
quase isso
[disse a carta
do tarô]
…
búzios
oráculos
horóscopo
até no céu
estava escrito
:
é amor
ou
quase que
…
acreditou
…
e se ferrou
bonito
evidência
é sempre ele
que ilumina o
outdoor da dor
ele que num piscar
[neon ou não]
faísca
afasta o fosco
ajusta o foco
filtra
ele
meu sol
meu pixel
ele bright
holofote
spot
flashlight
ele fosforescência
estrela que entra
sai de cena
deixa
todas as luzes
tesas
do arco da velha
ele flecha
eu alvo [fácil]
quando moça
sonhava suas lanças
já mulher
ansiava as setas
até hoje
estou às moscas
bo[a]te
à noite
bate
uma baita
saudade
:
cair
na
light
penso, logo, dispenso
[dos descartes]
acabou-se
o que era denso
e foi
de propósito
sem um pingo
de peso
na coincidência
euforia
nuble
seja de sol
surja chuva
exista esse êxtase
:
dia com qualquer clima[x]
onde um poema
eu faria
como se fora
sexta-feira
desaforo
no outono
destoo
do todo
perco o tino
adquiro tutano
saio do tom
desafio
o destino
:
se for homem
vem comigo
ser flor
eu te isso
não quero
isso
anêmico
dispenso
isso
cênico
pálido
eu quero
isso
hemorrágico
poético
enigmático
e peço isso
instantâneo
anti-histamínico
antiácido
isso
tem que ser
elástico
flexível
movido
a jato
isso de imediato
as demoras
causam úlcera
cistos
criam ácaros
as esperas
geram riscos
edemas
filhos
dor no ciático
e quero
isso
dopamina
a todo
custo
isso
injetado
adrenalina
pro chilique
anafilático
isso
morfina
[amor é isso
Estar dopado]
isso sem
a dor
do parto
tudo seu
e assim sendo
te ofereço
meu subsolo
e céu
[de bônus
este setembro]
deixo
além dos beijos
meus recalques
e relíquias
um par
de asas
na cabeça
dois mil pés
apenas
[que não
sabem a
direção]
uma lenda
uma lembrança
uma leveza
algumas
pílulas
de poesia
e suas
- pífias -
epifanias
[também te doo
a dor
do que sobrou
e a delícia
que só nós
soubemos]
* * *
Valéria Tarelho, Santos/SP (1962), residente em São José dos Campos/SP, escreve em seu blog "textura" :http://valeriatarelho.blogspot.com e no site Escritoras Suicidas. Tem poemas publicados no Livro da Tribo, livros didáticos, antologias e revistas literárias, além de poemas musicados e encenados. É autora de "O AMOR nem sempre tem o mesmo CEP", Editora Penalux, 2016.