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15 poemas de Valéria Tarelho

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rua dos bobos, número zero 


alguns encantos mudam
sem mandar aviso
e fico só – no pó do aguardo -
nutrindo espírito & ácaros
contas
livros
propagandas
cobranças
:
chegam de hábito
onde habita
o previsível
cadê [vinícius]
a casa
muito engraçada
do improviso
?



ficar com certeza maluco beleza


pouco importa
se amor é porto
ou precipício
       
amar é parto 
de certo risco
inferno dentro
do paraíso

fomos feitos
para isso
:
um pé no spa
outro no hospício





dia d


dê-me
deus
um dia
a dois

um dia
que dure
um dia
que doure
um dia
durante
delirante
noite

dia de
ideal
instante

equidistante
ideia

dia dínamo
dinamite

dia amante

dane-se
o que doer
depois



empírico


te toma de
assalto. rouba
teu íntimo. sopra
no início. suga
no último 
ato.

tem um quê de
fome. é fúria.
regojizo.

te faz carícias.
inflama. é artifício
da alma
humana.

é divino. abstrato.
e vês. acolhes
nos braços.

é amor. te
mata 
de.



horizonte


todo mundo
tem um ontem
tem um ente

um outono
um instante

um só poente

para lembrar
ou enterrar



mise-en-scène

bizarro 
é ser voyer 
dessa dupla 
intenção 
e - impotente - 
observar 
que a farsa 
copula e goza 
com a culpa 
[póstuma] 

horror 
é ver a tara 
[cara a cara] 
mascarada 
de amor



imprevisto


na certa
é amor
ou
quase isso
[disse a carta
do tarô]

búzios
oráculos
horóscopo
até no céu
estava escrito
:
é amor
ou
quase que

acreditou

e se ferrou
bonito



evidência


é sempre ele
que ilumina o
outdoor da dor
ele que num piscar
[neon ou não]
faísca
afasta o fosco
ajusta o foco
filtra 
ele
meu sol
meu pixel
ele bright
holofote
spot
flashlight
ele fosforescência
estrela que entra
sai de cena
deixa
todas as luzes
tesas



do arco da velha


ele flecha
eu alvo [fácil]

quando moça
sonhava suas lanças
já mulher
ansiava as setas

até hoje
estou às moscas




bo[a]te


à noite
bate
uma baita
saudade
:
cair
na
light




penso, logo, dispenso
[dos descartes]


acabou-se
o que era denso

e foi  
de propósito
sem  um pingo
de peso

na coincidência




euforia


nuble
seja de sol
surja chuva

exista esse êxtase

dia com qualquer clima[x]
onde um poema 
eu faria

como se fora
sexta-feira



desaforo


no outono
destoo
do todo

perco o tino
adquiro tutano
saio do tom

desafio
o destino
:
se for homem
vem comigo
ser flor




eu te isso

não quero
isso
anêmico

dispenso
isso
cênico
pálido

eu quero
isso
hemorrágico

poético
enigmático

e peço isso
instantâneo
anti-histamínico

antiácido

isso
tem que ser
elástico
flexível
movido
a jato

isso de imediato

as demoras
causam úlcera
cistos
criam ácaros

as esperas
geram riscos
edemas
filhos

dor no ciático

e quero
isso
dopamina

a todo
custo
isso
injetado

adrenalina
pro chilique
anafilático

isso
morfina

[amor é isso
Estar dopado]

isso sem
a dor
do parto



tudo seu


e assim sendo
te ofereço
meu subsolo
e céu

[de bônus
este setembro]

deixo
além dos beijos
meus recalques
e relíquias

um par
de asas
na cabeça

dois mil pés
apenas
[que não
sabem a
direção]

uma lenda
uma lembrança
uma leveza

algumas
pílulas
de poesia
e suas
- pífias -
epifanias

[também te doo
a dor
do que sobrou

e a delícia
que só nós

soubemos]


* * * 



Valéria Tarelho, Santos/SP (1962), residente em São José dos Campos/SP, escreve em seu blog "textura" :http://valeriatarelho.blogspot.com e no site Escritoras Suicidas. Tem poemas publicados no Livro da Tribo, livros didáticos, antologias e revistas literárias, além de poemas musicados e encenados. É autora de "O AMOR nem sempre tem o mesmo CEP", Editora Penalux, 2016.


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