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Vento do oriente
Aqui caiu um caqui
que deixou semente
*
Uma folha cai
Sem pressa a estação começa
dentro do bonsai
*
Um som vespertino
Cautela! O grilo duela
com seu violino
*
Oh, lua, aparece!
Te espero no tom sincero
da mais bela prece
*
Na ponta do anzol
um isqueiro serve de isca
pra fisgar o sol
*
Kanpai!
Uma gota de orvalho
saquê de samurai
Embala o meu sono
É rede sem ter parede
o vento de outono
*
Cheiro de sardinha
O gato bem de gaiato
chega na cozinha
*
Passa a correnteza –
O reflexo da libélula
o rio não leva
*
Fogueira junina –
Se misturam no céu
fagulhas e estrelas
*
Vento de inverno –
Na superfície do lago
todo o céu se move
*
Nem fome nem sede
O gato em cima do telhado
é só um quadro na parede
Silêncio no templo –
Após tocar o sino
compreendo o silêncio
*
Dias desiguais
Agosto deixa no rosto
uma ruga a mais
*
Brisa da manhã –
O olhar é mais lento
que o carro de bois
*
Na pauta tem blues
As aves enchem de claves
os fios de luz
*
Um ipê na esquina
A pétala cai do pé
feito bailarina
*
O rio vai embora
para nunca mais voltar
A nascente chora
*
Um passo e dois tombos
Sem ai, o bêbado cai
sobre os seus escombros
*
Repleta de inseto
a casa tem um par de asas
em cada objeto
Galeria: Edson Takeuti para o livro "Kaki" .
Alvaro Posselt nasceu em Curitiba. É professor de português. Publicou Tão breve quanto o agora (2012), Um lugar chamado instante (2013), Entre arranhões e lambidas (2014) e Kaki (2015). Alguns de seus poemas estão nas embalagens de Poëse, novo sorvete da franquia Los Paleteros, e também fazem parte de um mural na Travessa da Lapa, Centro de Curitiba. Divulga voluntariamente o haicai através de oficinas em escolas públicas.
Contato: alvaroposselt@yahoo.com.br