No meio da foda,
Quando ela se deu conta do pau dentro dela,
Pediu pra tirar.
Não alterou a voz,
Estava calma,
Segura de si.
Ele aconselhou-a a procurar um psiquiatra
E foi embora.
Ela sorriu,
Brindou a solidão da cama com os dedos,
Fez festa.
Anistiada, sem ter sido condenada,
Gozou, como há tempos não fazia.
E desse dia em diante,
Aprofundou-se num relacionamento de amor livre (com ela mesma).
Transbordou completa
E recriou-se para o próprio prazer.
“LINDA, A DOR NÃO É TÃO GLAMOUROSA ASSIM AFINAL”
Quase toda noite ela fica chapada de prozac
quando não chapa cerveja, cigarros, cocaína e homens
Principalmente homens
Não cola com um tipo específico
Eles pagam
Ela vai
Vez ou outra ganha um corte de cabelo
sapatos
grana pra cheirar
Até ingresso de micareta da Ivete já rolou
Todas essas coisas que costumam tapar vazios
Incluindo amor desenganado e avesso ao afeto
Ela prostitui o coração e tira a alma pra dançar
Anda dormindo
E dorme andando
Para
A dor
mercê
em sonhos
Feito personagem de García Márquez
Cem anos de solidão
Jogou na privada o livro de autoajuda
Rasgou o Herman Hesse manchado de café
Quebrou o vinil e todos os discos da Alcione
Estourou a conta do boteco
Sujou o próprio nome
Entrou nua no Tribunal de Justiça
queria acertar as contas
com o juiz do destino que a sentenciou a sentir assim
Foi presa por desacato
Alegou loucura
Outro amor havia acabado
As putas da boate Sayonara
com cubas livres e batons borrados
já salvaram muitas vidas na rodovia Lindenberg
As putas da boate Sayonara
já foram filhas de uma mãe que não era puta
e suicidam seus corações todos os dias
mártires de meia arrastão e cinta-liga
com seus boquetes sem dentadura
A transa com o namorado do amigo
As moedas roubadas do cofre da minha mãe
pra comprar cigarro
O filha da puta que catou meu fósforo
pra acender o cachimbo de crack
e ainda elogiou meus peitos
O anal com bosta pra todo lado
e o porre tomado e vomitado na blusa
da ciclone do meu irmão funkeiro
O foda-se pensado e dito alto
para o vizinho mórmon
que me viu masturbar da janela do quarto
A foto de quatro que vazou na internet
E me ruboriza o fato
de escrever poesia
e não
sangrar
Cerco ao carrasco do corpo
Uiva mulher liberta,
Uiva!
Não mais derrubarão o seu templo;
O carrasco escorregou no lodo vermelho,
Caiu com a cara putrificada no seu sangue sagrado
E nunca mais emergiu.
Uiva mulher liberta
E galga com sua alma.
Não mais derrubarão o seu templo;
Os espelhos foram todos virados para a parede.
Me faz alvo dos seus olhos tristes
Que se abrem cortina para as chuvas de março;
Saúda meu corpo como a um velho amigo.
Te recebo com todas as portas abertas;
Entra sem tirar os sapatos,
Sujos,
Pelas andanças no mundo de uma outra mulher.
Meus mamilos furados
Enrijecidos
Entre os seus dedos neoclássicos.
Canibal faminto,
Profana minha buceta molhada
Recém-saído de outra cama;
Lençóis amassados
E canções perdidas.
Te chupo.
Chupo brindando ausência
De um amor em taças trincadas,
E você esporra
Na minha cara falsas promessas
Como quem dá flores para um condenado.
* * *
Ingrid Carrafa tem 27 anos de idade e vive em Vitória/ES. Uma artista movida pela crise e pela revolta provocada pela postura de falso moralismo em relação á vida, ainda presente nos dias de hoje.
Flerta com o perigo e com os instintos primitivos.
Autora dos livros “Entre Rosas e Abismos” pela editora Penalux – 2015 e “Não joguem pedras na Geni” publicação independente – 2016.