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o falus e a lingua gulosa do fauno - 12 poemas para não cantar, de Alberto Lins Caldas

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Imagem: Broken Fingaz Crew



homero

● agora vem homero ●
● esse cego filho da puta ●
● desfazendo pra nada o q a gente fez ●

● tudo q ele faz é assim ●
● como se a gente não tivesse vivido ●
● ele inventa sempre outra coisa ●

● outra carne outros ossos ●
● nem foi assim tão belo e facil ●
● nem foi assim tão terrivel ●

● como é pra ele viver ●
● com lady jane e suas putarias ●
● q é como viver com um tubarão ●

● agora vem homero ●
● esse cego filho da puta cantar ●
● as coisas dele como coisas nossas ●

● porq assim parece q a gente viveu ●
● q navegou o grande e doido mar ●
● se bateu e matou e sangrou e tudo ●

● so pra esse velho baiacu ●
● cantar o q ele delira com lady ●
● jane juntos com essa boca suja ●

● ele e essa lady jane vinda ●
● não se sabe de onde q invade ●
● os sonhos os desejos de todos ●

● agora vem homero ●
● esse cego filho da puta bebado ●
● faminto q so vem pra comer ●

● se não fosse lady jane e aquelas ●
● coxas q parecem as colunas ●
● do templo de atena homero ●

● ja teria morrido de fome ●
● porq so faz inventar mentiras ●
● como se a guerra fosse so dele ●

● como se lady jane fosse so dele ●
● como se a gente so vivesse ●
● pra terminar na lingua dele ●

● agora vem homero ●
● esse cego filho da puta e coxo ●
● mastigando panquecas de alho ●

● sei q ficara aqui com esse bafo ●
● de panquecas de alho e whisky ●
● contando historias q delira ●

● sem saber q o q se vive não se ●
● canta não se conta q o q se ●
● vive se consome some no viver ●

● qualquer dia desses vou dizer ●
● o q lady jane faz enquanto ele ●
● fica na rua cantando bebado ●



baco

● as ruinas as colunas a beira mar ●
● o velho deus baco bebado no pier catando ●
● vieiras ostras camarões crus ele ta farto ●

● ele ta gravido de posseidon gravido demais ●
● depois daquele quarto sempre juntos no porto ●
● posseidon toma conhaque como agua de coco ●

● sei q nascera um tritão bem faminto por uvas ●
● um tritão louco por conhaque negro e vinho ●
● mas baco tão besta não sabe dessa gravidez ●

● tão grande tão volumosa q devem ser 2 ●
● tritões q nadam ali no vinho gravido de baco ●
● olhando apenas gordura nessa barriga baleia ●

● sustentada por essas pernas magras de bode ●
● porisso baco grita q venha !o vinho !o vinho ●
● se baco soubesse o q eu sei ficaria puto ●

● violento de loucura contra mim e posseidon ●
● q ta inocente porq foi baco o sedutor ●
● qualquer hora dessas chega o caso pra mim ●

● como sei tudo e não tremo em espalhar ●
● vou por a culpa em posseidon e sua soberba ●
● violenta descuidada futil e perigosa ●

● depois vejo o q acontece com esses 2 ●
● não é a primeira vez q posseidon devora ●
● minha casa com esse mar idiota e monotono ●

● o bom disso tudo é ouvir toda tarde os meninos ●
● berrando !baco !baco ?quem te emprenhou ●
● !foi o mar !foi o mar !foi o mar q te enganou ●



nereu

● sob as arvores do mangue a sombra ●
● os caranguejos devoram a carne gravida ●
● de ophelia a nossa puta rueira berrou ●

● sozinho da birosca filoctetes bebado ●
● desesperado depois do sonho terror de quem ●
● dorme assim sempre em guerras bem antigas ●

● ophelia nossa rueira repetiu filoctetes ●
● tomando agora alguns goles dessa agua fria ●
● q os caranguejos mijam riu filoctetes em pe ●

● rosnando se não fosse nereu o filho de ophelia ●
● os caranguejos não saberiam a diferença ●
● entre carne de mãe e carne de filho ●

● ophelia e nereu agora sabem o mangue ●
● a sombra a fome louca dos caranguejos depois ●
● das enguias depois da treva nos ossos ●

● anfion precisa ver essa merda toda ophelia ●
● e os caranguejos ophelia na sombra salobra ●
● do manguezal ophelia gravida de nereu ●

● de qualquer maneira restara sempre na praia ●
● os espetinhos de carne de porco de ulysses ●
● nossa ratazana q não se sabe e não se cala ●

● com as cervejas geladas da birosca ●
● se não fosse isso diz filoctetes inda tonto ●
● a morte de ophelia e do filho nereu seria ●

● uma merda daquelas q azeda nossa bebida ●
● arruinando dias e noites sem fim noites cruas ●
● q terminariam sempre na perversa hora ●

● quando anfion chegar e eu disser tudo isso ●
● tamos fudidos tamos lascados e o deserto vira ●
● como se fosse a boa e velha torta de maça ●



leite

● ?quantas vezes as ondas e nada desse mar ●
● isso q bate nas pedras como se batesse na carne ●
● geme aquiles depois de heitor nos meus braços ●

● a coisa nua a coisa toda o resto de sangue ●
● nem bem as xotas borbulham jamais o gozo ●
● so a morte calipso com o velho esquecimento ●

● basta ver ali o templo de dioniso aos pedaços ●
● o marmore podre rodeado pelos sargaços secos ●
● nos ovos de maçarico nenhum futuro calipso ●

● nem os espetinhos de carne de porco de ulisses ●
● nem as cervejas do bebado filoctetes e seu gelo ●
● so o mijo dos caranguejos e a lama do mangue ●

● q comeram ophelia e o filho dela nereu dentro ●
● da idiota puta rueira ophelia q teve com anfion ●
● um quase nada q lhe encheu as fuças de nereu ●

● nem bem os barcos saem de manhã cedo ●
● seguem a merda no rubro fio de mijo ●
● mar adentro como um caminho ●

● pois não ha peixe q não coma dessa merda ●
● q todos os peixes meu senhor tem gosto agora ●
● de merda com cheiro de mijo e so fazem boiar ●

● aqui so nada quem não sabe desse mar ●
● q nos envolve como uma mãe q mata os filhos ●
● com esse leite negro com esse leite amargo ●



cloaca

● é a cloaca meu senhor ●
● o q estraga o mar e a maresia ●
● o q desvia o olhar das carnes de medusa ●

● nem o verde nem o azul nem as ondas ●
● meu senhor so a cloaca q aqui se desata ●
● tão amarga tão fria tão perversa meu senhor ●

● aquela entre os espetinhos de porco ●
● de ulisses a birosca do bebado filoctetes ●
● e o mangue onde ophelia foi devorada ●

● mas saiba meu senhor q as carnes de medusa ●
● continuam as mesmas de seios fartos e a bunda ●
● q é uma ode a todo desejo q penetra e goza ●

● é a cloaca meu senhor ●
● mas os negocios vão sempre bem demais ●
● q tudo muda menos o grande lucro ●

● o grande bem meu senhor q vem de medusa ●
● com todas as suas sereias e seus bodes negros ●
● ela inda consegue nos endurecer em pedra ●

● aquiles vive bebado comendo camarões ●
● sempre faminto nas tetas de medeia q aquele ●
● não se sacia nunca nos peitos de medeia ●

● ao mesmo tempo mastigando lulas e camarões ●
● como se o mundo fosse de peitos e camarões ●
● como se o pau de aquiles fosse de fantasia ●

● é a cloaca meu senhor ●
● q vem desde dentro da cidade atraves ●
● da muralha e se despeja no mar como medusa ●

● 1 cerveja meu senhor são 5 duras moedas ●
● 1 cafe com miolos secos 1 ovo e queijo rubro ●
● é bem mais do q uma das sereias de medusa ●

● q leva todo mundo na coleira e faz o q quer ●
● porq todo mundo gosta de ser domado e seguir ●
● os q dizem poder os q mentem os q violentam ●



anfion morto

● de mim pra mim ●
● grito ta todo mundo fudido ●
● todo mundo lascado e muito mal pago ●

● filoctetes ta mais bebado q antes ●
● ulisses não vende mais os espetinhos ●
● de porco com sal do himalaia e alho ●

● a gente aqui feito craca e telha ●
● vendo a agua trazer e bater com gosto ●
● o corpo morto do nosso anfion ●

● do nosso menino pescador q andava ●
● sobre as aguas falando com os peixes ●
● pedindo perdão aos peixes pela morte ●

● isso é uma porra isso é uma merda ●
● agora esse mar q não nos olha e bate ●
● como se fosse mãe como se fosse tolo ●

● esse mar não alimenta sem violencia ●
● agora nem o peixe de anfion morto ●
● ele não sabe q não havera o peixe ●

● de mim pra mim ●
● berro agora é a hora da fome ●
● sem anfion não havera o q alimenta ●

● a loucura contra as ondas ●
● o riso com filoctetes bebado as horas ●
● roubando os espetinhos de porco ●

● correndo de ulisses com a toalha ●
● aberta sobre as vergonhas toradas ●
● nem o choro com a morte de ophelia ●

● com o sem ser de nereu com as linguas ●
● de osiris sim o nosso peixe tostadinho ●
● verduras e folhas e ervas da plantação ●

● de anfion q lutava com tubarões ●
● q tragava a lama q nos invade q ria ●
● como se fosse pai e cuidava de nos ●

● agora como se a gente fosse seus filhos ●
● ele sera sempre lembrado e logo logo ●
● sera como se não tivesse existido ●



baleia

● essas gaivotas tão famintas demais ●
● depois q a baleia encalhou na praia ●
● elas devoram viva a boa carne branca ●

● enquanto ela se debate sonhando abismos ●
● mas temos q convir q as gaivotas q a fome ●
● das gaivotas e essa areia toda é bem menor ●

● q a dor da baleia é menor q todos nos ●
● porisso temos bebido demais nossa cachaça ●
● de milho nosso rum nosso conhaque e tudo ●

● q nos tem caido nas mãos porq ficamos ●
● aqui olhando esses meses todos se debater ●
● a brancura da baleia e a fome das gaivotas ●

● de vez em quando levamos pra baleia ●
● branca nossa cachaça de milho q ela bebe ●
● toneis como se a cachaça fosse agua ●

● assim ela nos tem cantado profundidades ●
● q não podemos compreender mas é bom ●
● quando ela nos canta porq o mar ●

● parece adormecer e nos esquecemos ●
● nos e a baleia branca da cachaça de milho ●
● q é tão dificil fazer nesses tempos ●

● rimos com ela e ela ri ate bem tarde ●
● enquanto as gaivotas dormem de barriga ●
● cheia e o sol não aparece queimando ●

● a pele branca demais da baleia tornando ●
● furiosas no pleno dia as gaivotas e sua fome ●
● sem fim mas as horas acabam e a noite vem ●

● como um descanso pra baleia quase morta ●
● porq restam toneladas de carne ate ela ●
● morrer se bem q muitos acham q ela ●

● não morrera ela ficara assim viva e branca ●
● eternamente com essas gaivotas famintas ●
● bebendo alqueires da nossa cachaça de milho ●

● se for assim precisamos nos acostumar ●
● com a baleia encalhada com a fome ●
● sem fim das gaivotas e com a sede ●

● da baleia por nossa cachaça de milho ●
● isso tudo nos tem tornado bem furiosos ●
● porq não ha trabalho q chegue pra fazer ●

● a tanta e boa cachaça de milho q é preciso ●
● pra saciar a baleia e a cada um de nos ●
● com a fome sem fim dessas gaivotas ●

qualquer dia desses começamos tambem
a comer a carne branca a carne vermelha
dessa baleia como comem as gaivotas

quem sabe assim um dia a gente consegue
acabar logo com essa baleia sem fim
livrando nossa fome e nossa cachaça



marcado

● pelos dentes mastigava tabaco negro ●
● depois cuspia porq os labios tão rachados ●
● a saliva parece o estomago dum ouriço do mar ●

● os cabelos bem ralos caem entre os dedos ●
● nos dedos as unhas tão rachadas por destempero ●
● na cara inda se sente a nausea de todos os dias ●

● faltam as pernas talvez devoradas por tubarões ●
● no peito encontramos bem no lugar do coração ●
● estrelas do mar enroscadas entorpecidas ●

● peixes pequenos comeram a ponta dos dedos ●
● peixes maiores devoraram os olhos o nariz ●
● as orelhas e o sexo q deixou entrar enguias ●

● no braço esquerdo ha uma marca nitida e rubra ●
● q é um coração atravessado por uma flecha ●
● sintoma de mal gosto e duma vida ruim ●

● com certeza era estivador aqui no porto velho ●
● não so pelos musculos mas porq é conhecido ●
● por se meter em arruaças e crimes e tolices ●

● inda não sei o caso mas a idiotice ●
● quer saber como morreu esse caveira ●
● so não sabemos porq a idiotice ●

● se interessa por uma coisa dessas ●
● um sujeito desclassificado q foi devorado ●
● como manda a hora de todos os perdidos ●



ode

pobre filoctetes com aquela perninha
minguada de caranguejo e aquela boquinha
de menina em plena floração e o arco duro

quantos dias perdidos quantas noites inuteis
naquela caverna idiota a beira mar e a fome
agora meu filho são os dias da branquinha

ali vendendo pra quem quer deslembrar cinzas
q toma conta dos arredores e dentro sempre
como uma cobra basta ver a cara de ulisses

basta comer um daqueles espetinhos de carne
de rato pra sentir o q é morrer jogando
as tripas pelo ralo e uma vontade da porra

de morrer ouvindo o filho da puta do ulisses
rindo la fora e o covarde gritando pro mundo
quem não é forte nessa vida se lasca se fode

basta ver os poderes do deus do mar todo dia
aqui mesmo diante dos nossos olhos e tocar
esse poder pra saber quem venceu filoctetes

ou tocar de cada coisa as cinzas q foram
brasas o q tava disposto a ser e não foi nada
porisso meu idiota esquece isso esquece

q esquecer é o melhor esquecer é a vida
quando vc notar nada sera como se queria
e vem a brisa do mar lembrando esse vazio



ariel

é certo q ariel foi morto
q ariel morreu como naufrago
em sua banheira antes da meia noite

quando o imortal e sempre jovem aquiles
arrombou a porta e encontrou ariel
afogado como se tivesse ido pra troia

porq vcs sabem q em troia aquiles o nosso
imortal aquiles não morreu como canta
aquele cego velho maldoso e linguarudo

q o nosso aquiles inda vive entre nos
bebendo sem parar seu conhaque velho
como se a vida fosse infinita e boa

é preciso q se diga q ele jamais
ficou bebado jamais andou como bebado
jamais falou como bebado como filoctetes

esse sim vive bebado como gamba
desses gambas das lorotas idiotas do cego
o mesmo q espalhou q nosso aquiles

sim nosso aquiles era imortal q aquiles
morreu em troia mas isso sim é trolha
burla vergonhosa e deslavada mentira

se não fosse a morte de ariel
na banheira q aquiles esfacelou na rua
como louco ele não saberia o q é sofrer

se bem q ele passou a beber no cranio
aberto de ariel com uma sede sim e sim
essa mais q infinita e bebado aquiles

tem passado seus dias aqui entre nos
numa conversa sem muro com filoctetes
sobre a viscosa metafisica dos mangues



caminhando

● nem as cinzas ●
● digo pra filoctetes bebado ●
● com aquele pe de caranguejo sobre a tartaruga ●

● tambem sempre bebada ●
● pois sabemos q se viciou em conhaque negro ●
● q o safado da pra ela desde q era uma casquinha ●

● depois me curvo com minhas pernas finas de bode ●
● sussurrando pra tartaruga bebada bem serio ●
● nem as cinzas ●

● nem as cinzas ●
● eu berro pra ulisses assando os espetinhos de carne ●
● de porco como se fosse carne fresca de porco ●

● sei q ele me olha com aquele odio de covarde ●
● com aquela inveja de covarde com aquela lingua ●
● impotente de quem nunca levantou o pau ●

● sei q ele sabe mas ele diz apenas são de porco ●
● porco fresco porco do melhor e eu repito ●
● nem as cinzas ●

● nem as cinzas ●
● eu digo gritando na cara de aquiles berrando ●
● porq ele se assusta porq ele ta bebado e chora ●

● rodopia sobre os velhos calcanhares mortais ●
● parecendo fugir mas ele para e diz é a vida ●
● se não fosse assim ariel tava vivo e eu tambem ●

● sei q isso é so mais um drama ridiculo do dia ●
● enquanto olham e balançam a cabeça eu digo ●
● nem as cinzas ●

● nem as cinzas ●
● eu digo quase paralisado pra medusa quase nua ●
● com aqueles peitos duros aquelas coxas tudo ●

● q pode matar um fauno mas eu viro os olhos ●
● q essa carne não é pra mim como não é a carne ●
● das sereias de medusa nem o rum nem o vermute ●

● nem o conhaque q ela serve no nosso puteiro ●
● o q brilha a noite todo enquanto eu digo pra mim ●
● nem as cinzas ●



osiris

● é de mim comer linguas ao molho de coco ●
● servido com favas do mar e musgo irlandes ●
● diz osiris sempre bebado chato e violento ●

● lingua de cobra lingua de merluza linguas ●
● de gaivota lingua de lontra com limo de nos ●
● linguas com vinho rubro bem acido e velho ●

● depois dizem q enlouqueço q deliro e não sei ●
● do mundo esse nada essa porra esse engano ●
● a coisa dessa viagem q termina sem se saber ●

● lingua bem cozida q isso vai e vem é o mar ●
● não a terra não o troço q é cheio de gente ●
● vindo do inferno vindo da puta q nos pariu ●

● q se não cortar as linguas e não comer ●
● os ossos estragam a pele apodrece e cai ●
● os olhos não veem as orelhas não escutam ●

● foi porisso q fui pro mar diz osiris bebado ●
● como a tartaruga tonta do bar de filoctetes ●
● fui pro mar porq aqui não ha travessia ●

● fui pro mar fugindo do sangue q fiz correr ●
● do sangue q bebeu o mesmo leite q bebi ●
● terra puta perversa e gravida de servos ●

● foi no mar a alegria de devorar as linguas ●
● linguas de peixe voador linguas de baiacu ●
● linguas de baleia q a vida não da conta ●


● sabemos q osiris mente demais q osiris ri ●
● de todos nos como se osiris fosse o rei ●
● q jamais nos larga pai mercador e violento ●

● porq osiris não brinca osiris sabe o q fez ●
● osiris matou o irmão e comeu a lingua dele ●
● osiris tem essa fome sem fim uma fome ●

● q so deseja linguas so deseja o mar o mar ●
● inteiro o mar e tudo q no mar tem lingua ●
● na terra osiris tambem deseja linguas ●

● mas na terra osiris tem nojo das linguas ●
● bem bebado ele diz toda lingua na terra ●
● tem o gosto da lingua negra do meu irmão ●


● quando acorda estranha o bar de filoctetes ●
● pois é num barco queu devia viver e sai ●
● batendo mesas e cadeiras com tristeza ●

● com furor arte e destreza de iguana ●
● tanto q parece jovem parece outro parece ●
● q vai dançar a qualquer momento e vai ●

● porq de repente osiris começa a dançar ●
● depois fica olhando o mar derramando ●
● lagrimas de crocodilo marinho ele diz ●

● voltando pro bar de filoctetes sedento ●
● do whisky e do conhaque de filoctetes ●
● mas filoctetes sabe q ele depois morre ●

● de tanto contar a historia das linguas ●
● como se tudo se repetisse sempre e so ●
● num circulo de fome diz filoctetes nu ●

● do outro lado do balcão porq o calor ●
● ta de matar o calor ja matou uns 30 ●
● esse ano diz filoctetes mais bebado ●

● q osiris dormindo num conves de sonho ●
● sim ele dorme sonhando com as linguas ●
● na erva malagueta com alface do mar ●

● qualquer hora dessas ele acorda e vai ●
● lamber com aquela lingua de gato ●
● todas as donas daqui ate o porto ●


● um dia osiris disse q comia linguas ●
● porq sabia q um dia comeria a lingua ●
● do senhor q nos torna tolos e servos ●

● a lingua do rei a lingua de deus ●
● porq todas as linguas q tão no mar são ●
● as linguas do rei linguas do senhor ●

● q somos tolos e servos disse osiris ●
● com aquela fome sem fim a colera ●
● o rancor a dor doida de corno ferido ●

● é bem verdade q depois de bebado ●
● tombou com filoctetes os dois desabados ●
● por 3 dias e 3 noites e q silencio ●


● é verdade q nenhum de nos acredita ●
● nem em osiris nem em filoctetes ●
● q cada um de nos fala escondido ●

● pelas costas de osiris velho idiota ●
● velho imbecil velho ridiculo e tonto ●
● vive como se fosse mais do q pode ●

● com isso de comer linguas com isso ●
● de mentir bebendo igual um lacrau ●
● esse merda parece q é dono do mundo ●

● parece q sabe de tudo e mente demais ●
● pra esconder a roupa rasgada a fome ●
● não de linguas não desse mar o mar ●

● sim a fome de quem não é a fome ●
● de quem não tem a lingua de quem ●
● prefere ser assim como fosse morto ●

● isso dizem alguns e toupeiras repetem ●
● q não passa dum bebado so e vazio ●
● por mim vejo escuto e apenas penso ●

● me calo porq não tenho lingua ●
● não tenho porq cortaram porq sim ●
● dizem rindo os q devoraram a lingua ●

● q foi minha a lingua gulosa q não disse ●
● as dores nem chegou aqui onde tamos ●
● perdendo tudo de tudo e essa lingua ●


● q essa terra não sustenta furia e furor ●
● urra la de dentro acordando fulo osiris ●
● saindo do bar todo rubro possesso e acre ●

● q essas linguas são de trapo essas porras ●
● não falam nada não se revoltam so chiam ●
● como rolo de cobras e so bodejam ●

● tudo grosso tudo rabo de cão sarnento ●
● berra osiris agora pela rua se debatendo ●
● todos gordos demais todos ratos de porão ●

● um assobia o outro rosna e ninguem fala ●
● depois osiris na praia esmurra o mar o mar ●
● bate no mar o mar berra e so fazemos olhar ●



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Alberto Lins Caldaspublicou os livros de contos “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001), “Gorgonas” (CEP, Recife, 2008); o romance “Senhor Krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009) e os livros de poemas "No Interior da Serpente" (Pindorama, Recife, 1987), “Minos” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2011), “De Corpo Presente” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2013), “4x3 - Trílogo in Traduções” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2014) com Tavinho Paes e João José de Melo Franco), “A Perversa Migração das Baleias Azuis” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2015). Blog: www.poemasalbertolinscaldas.blogspot.com.br

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