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Imagem: Marcus Prado |
Atos
I
palhaços sem
cartas na manga
mascaram misérias
no sono dos risos
II
fim de cena
vespas de várzea
recolhem-se
atrás do espelho
*
não fui ao parque
eletrônico futurama
trem-fantasma de
papelão calendário
enferrujado dublagem
de abandonos moldura
de lona na arena
de areia rasgada
*
será de que sorte
o pano do mágico
caiado de estrelas
uma coleção de farsas
espie, disfarce
truque ou invento
atirador de facas
plásticas finca a
esfinge no castelo
de cartas
Santos
Entre alamedas de tempos, litorais no geometrismo das calçadas. Sargaços nos labirintos de Ariadne. O modernismo do prédio Verde Mar, arquitetura dissidente. Porto, presença impregnada nas pedras vitricidade translúcida dos corais. Carnavais, marés de recordações reinventadas ao som de marchinhas antigas. Edifício Planeta, pastilhas nas paredes, corredores intermináveis na desmelancolia juvenil.
Estrada Velha
carrinho de
rolimã tira
lasca da ladeira
uma dança em
ziguezague quase
queda à beira do
meio-fio cáries do
ar constelações de
estilhaços caminho
da boca do mar
Imagem: Erik Jahanson
Dona Cândida
existe um jardim perto dos domínios de concreto
inventário de mapas de infância
poucas plantas, um muro e a mesa
decorada com toalhas brancas
tramadas ao cair da tarde
Artacho Jurado
o desenho
brinca nos vãos
cor que veste o
espaço esquadro
aéreo de latitudes
moderno no traço de
tinta ordem que desafia
a geometria invento
solando improvisos uma
respiração do mar
Monte Serrat
a letra de Itororó inicia a escada
traça sua geografia cortando
a vila que lembra Noel insolação
na manhã atlântica avista a capela
e o cassino desativado entre vitrais
do salão panorama de mapas
e mirantes diluídos em 360 O
Ifá
não apague a passagem do tempo
flor de ventanias colhidas no dia
lago de narciso, beira de abismo
nas contas do colar; ifá
*
no filme de Wim Wenders os peixes moram no deserto
as bandeiras estão sempre escondidas no porão
as cores desbotam em velhas máquinas de lavar
a vida é um fio trapezista na fronteira do Texas
as mulheres usam jeans com remendos amarelos
os anjos de gesso não são esculpidos por Aleijadinho
os aquários estão cheios de areia
os camaleões vestem sempre a mesma pele
Diniz Gonçalves Júnior (Diniz Antônio Gonçalves Bala Júnior) , nascido em 1971 , paulistano. Autor de “ Decalques “ e “ Concha Acústica , tem poemas e artigos publicados em diversos jornais e revistas. Filho e neto de comerciantes lamenta não ter tino comercial, sua única vocação é ser marinheiro de aquário.