você fala em fazer amor
adocicado como uma laranja artificial
penso em te contar que a minha
língua é tão áspera quanto a dos gatos
eu sou um terreno tesliano
onde a invenção é quem move as peças e as regras do jogo
não estou aqui para ser o seu lençol de seda
meu interesse é na abertura
dos ângulos
no rasgo das fitas que selam o fim
das corridas
onde a gente pode romper
com o circuito
e continuar correndo pelos campos
da desobediência
xxx
faço coreografias complexas
no mapa das suas coxas
enroscando pelos até que pareçam
as nuvens espiraladas de van gogh
planto bananeiras dou estrelas
plié passé pas de deux
convite que inunda a boca e transborda
entre azuis e amarelos que não enxergo
mas pressinto nas dobras reclusas
do seu corpo
já deixei meus olhos caírem
no chão há tempos
e agora é você quem me guia por todos
no mapa das suas coxas
enroscando pelos até que pareçam
as nuvens espiraladas de van gogh
planto bananeiras dou estrelas
plié passé pas de deux
convite que inunda a boca e transborda
entre azuis e amarelos que não enxergo
mas pressinto nas dobras reclusas
do seu corpo
já deixei meus olhos caírem
no chão há tempos
e agora é você quem me guia por todos
os labirintos inventando buracos
negros de passagem para outra
dimensão
enquanto a sua língua em mim se debate
ainda
como quem tenta alcançar
o animal invisível
negros de passagem para outra
dimensão
enquanto a sua língua em mim se debate
ainda
como quem tenta alcançar
o animal invisível
dentro da jaula
xxx
o éden é um deserto infinito
com relógios sem ponteiros
minha urgência arranha o topo da tua
garganta enquanto nos engolimos
como cobras a devorarem o próprio rabo
muito em breve vou estar aberta
e entre meus olhos vai nascer
um novo olho
enquanto nos beijamos enquanto você
me mastiga com a mesma paciência
com que mastigaria um polvo e seus tentáculos
calmo
e reticente
meus olhos lacrados a sete chaves
meus olhos afundados na névoa de um útero
mas meu novo olho te olha
te ouve em gemidos trêmulos
de menino que acabou de entender
o final misterioso de um filme
* * *
Maíra Ferreira nasceu em 1990, no Rio de Janeiro, onde mora até hoje. Graduanda em Letras pela UFRJ, publicou seu primeiro livro de poemas, A primeira morte, em 2014, pela Oficina Raquel. Colabora com algumas revistas e, recentemente, deu início à Oceânica, revista voltada para a literatura produzida por mulheres (facebook.com/revistaoceanica).