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Ilustração: Ben Heine |
Uso folhas de louro para cozinhar, para pôr no feijão. Para temperar a carne e a macarronada que tanto aprecio. Já não como sozinho, tenho companhia e assunto durante a refeição. Cozinho para outras pessoas além de mim. Por isso lanço mão desse tempero, para que vejam claramente o que usei. Mal sabem que o louro e eu temos uma união, através dele coloco-me naquilo que cozinho. Comungamos minha pessoa, que pouco tem a oferecer. Pouco, porém temperado.
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Ela sentou-se do meu lado para dar telefonemas, estávamos trabalhando. Aí estendi-lhe um bilhete no meio de suas ligações; ela olhou para mim e disse com rispidez que não era o momento daquilo. Atropelando o bom-senso do ambiente de trabalho, atrapalhando o serviço, desconcentrando, ele não se manifesta de outra forma: meu afeto por você são bois perambulando pelo escritório.
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Liguei-me a você como a uma tomada. Onde liga a força de um autorama. A força do sonho, da projeção do futuro. Nosso amor é brincar de autorama, nós dois. Essa inocência, conservada, é o que temos para nós. Meu amor, por ti, é amar com gosto. Como na infância.