imagem Ingrid Tussel
acirrava-lhe as patas, as unhas, as dobradiças, as ruínas os vestígios de encefalinas e de outras proteínas na corrente sanguínea naquela tarde de cinza. acirrava-lhe a porta, com vestígios de comida, a orla carioca, e os fogos que estouravam lá fora. acirrava-lhe a desmedida, tão pura, entre uma anfetamina e outra em desmesura, entre a melíflua uva com tapioca amanhecida.
pensava na coisa boa, que é bem de se perder o prumo, o ato, o asco, e o rumo, o jeito em decepar (pelo desuso) com foices as pontas de seres que apontam feito gralhas, bicho-de-conta e araras.
acirrava-lhe os conectores, de dois ou três pontos, de se ligar motores de resistências falidas. e, enquanto a casa caia, pensava em seu amor, naquela cidade longínqua, e do mesmo tom de cinza em diapasão.
enquanto os bem-te-vis assobiavam os fios de alta tensão,
meu amor.
adriana zapparolié escritora e tradutora.