Nathan Sousa (Teresina, 1973) é um jovem escritor piauiense dotado de grande sensibilidade, inventividade e domínio de recursos e técnicas literárias. É também um artista empenhado em seu ofício, pelo que se desdobra, muitas vezes, em criador e divulgador de sua obra para além das fronteiras regionais que ainda existam em nosso país. Atuante, surgiu no meio literário como poeta, em 2012, com O percurso das horas (edição do autor), ao que se seguiram No limiar do absurdo (LiteraCidade, 2013), Sobre a Transcendência do Silêncio(LiteraCidade, 2014), Um Esboço de Nudez(Penalux, 2014) e Mosteiros (Penalux, 2015). Ainda como poeta, participou de antologias e venceu prêmios literários.
Sua estreia na narrativa de ficção acontece com Nenhum aceno será esquecido, uma saga familiar de fôlego, construída à maneira das obras mais marcantes dos vários regionalismos brasileiros – ou mesmo da grande tradição da novelística hispano-americana. Pois não é, por certo, de uma dessas vertentes que emanam seus personagens com nome e sobrenome, cada um carregando o peso de uma história de vida consequente, e todos se movendo, no espaço-tempo do relato, arrastados por alguma motivação trágica? Não é a essa tradição que remontam seus vilarejos também nomeados, dispostos numa geografia coerente, medida a léguas incertas e áridas jornadas que se cumprem sobre mulas, por estradas assombradas de traições e emboscadas? Não descende, por certo, dessa mesma matriz literária a figura daquela matriarca enlutada, carregando a viuvez e os filhos num êxodo determinado, para longe do passado, mas sem destino certo?
Iniciada a viagem, os espaços em torno de Acemira e de seus filhos vão sendo preenchidos, ora pela fabulação, ora pelo documento, para compor, ao final, a narrativa dos pioneiros de um “tal lugar” que “ficava lá pras bandas do sul do Piauí”. No traço do romancista, se interceptam, portanto, a recriação ficcional do ambiente e das personagens (sua minuciosa singularidade, tecida em sentimentos, palavras e gestos) e o registro histórico/ étnico/ cultural de ritos e valores de que elas participam – um complexo sistema de representações, em que as superstições e crendices coexistem, sincreticamente, com rituais cristãos.
Nathan Sousaé um criador atento à força do detalhe, que descreve com impressões muito vívidas. Na estrada percorrida pelos protagonistas, por exemplo, recende “o cheiro repugnante das formigas esmagadas pelos cascos dos animais”. Noutra passagem, Acemira se despede ternamente da amiga que a abrigara. Mas, como Constância, pouco antes, "degolava uma galinha para o almoço", o abraço resulta, premonitoriamente, num rosto manchado "com respingos de sangue e restos de vísceras". Outro traço de estilo bastante expressivo são os diálogos escassos, sempre curtos e secos, mas muito densos. “Como é o mundo lá fora?”, pergunta a sonhadora Engrácia, ao viajado Ciríaco. “É melhor não querer saber, moça” – é a resposta do mascate. “– Será que um dia eu terei um marido?”, indaga a jovem cega Maria Clara. “– Peça para ser feliz que é melhor”, lhe responde Acemira. A aridez dos destinos se insinua, assim, em poucas palavras. E tanto melhor, porque, em narrativas de ficção, devem existir mesmo dessas lacunas e silêncios, campo aberto para sugestões, mais do que explicações.
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EXPEDITO FERRAZ JÚNIOR nasceu em Maceió, Alagoas, mas morou em João Pessoa desde os primeiros meses de vida, até 2003, ano em que se transferiu temporariamente para Rondônia, onde iniciaria a carreira de professor universitário. A experiência na Amazônia durou cinco anos, divididos entre Porto Velho e a pequena Guajará-Mirim, na fronteira Brasil-Bolívia. Retornou à Paraíba em 2008. É professor de Teoria Literária da UFPB. Colabora com artigos de crítica em jorna e revistas de cultura locais.
Nathan Sousa nasceu em Teresina (1973). É Tecnólogo em Marketing, escritor, acadêmico, professor, poeta e letrista. Integra várias antologias, venceu vários prêmios literários e é autor dos livros O Percurso das Horas (Edição do autor, 2012), No Limiar do Absurdo (LiteraCidade, 2013), Sobre a Transcendência do Silêncio (Prêmio LiteraCidade 2013), Um Esboço de Nudez (Penalux, 2014 - finalista do Prêmio Jabuti 2015.), Mosteiros (Penalux, 2015) e Nenhum Aceno Será Esquecido (Penalux, 2015 - Prêmio José de Alencar 2015, da União Brasileira de Escritores – UBE.),