Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

4 poemas de Rubenio Marcelo

$
0
0
Adicionar legenda



CLEPSIDRA

Gotas caem
cadenciadas...
Lanças certeiras
e agudíssimas
vão  cravando
o tempo e a solidão...
Uma  sombra
vagando a bombordo
contempla o porão...
Nosso  múnus
em prostração
desbota e definha
na pulsação daninha
que nunca se esgota...

Rota-gólgota...

Retransfiguração
quota a quota...

g o t a

a

g
o
t
a
.
.

.



Mesa rendida


MesA
Mesa  aseM
Redonda  adnodeR
Mesa redonda  adnodeR aseM
Mesma mesa redonda  adnodeR aseM amseM
Mesmíssima mesa redonda  adnodeR aseM amissímseM
Mesma mesa redonda  adnodeR aseM amseM
Mesa redonda  adnodeR aseM
Redonda  adnodeR
Mesa  aseM
AméM






   PARCELA
   1.
   no azul do poema
   a luz da canção
   agora um clarão
   antes tão pequena
   não mais quarentena
   que se encastela
   agora eu e ela
   no leme do dia
   rumo à escadaria
   cantando parcela...
   2.
   assim, infinito
   nessa plenitude
   meus pés, amiúde,
   procuram o grito
   perpassam o mito
   ardente aquarela
   aurora e estrela
   que já predestinam
   sazões que sublimam
   à luz da parcela...
   3.
   oh tempo-verdade
   gravando o eterno
   já não mais hiberno
   a outra metade
   oh fertilidade
   que tudo revela
   com justa cautela
   quero ressurgir
   para refletir
   cantando parcela...
   4.
   no bico do corvo
   deixei o meu múnus
   e os importunos
   punhais do estorvo
   agora não sorvo
   profana querela
   há porta, há cancela
   colunas, mansão
   adeus solidão
   no tom da parcela!
   5.
   permanentemente
   honrarei o rito
   quesito a quesito
   manhã, sol-poente
   se dente é por dente
   ardente é aquela
   retina que zela
   o perfeito instinto
   no áureo recinto
   do canto-parcela!

                                                 
          
  GLOBO DA VIDA


  o mundO é um glObo...
  ou um jogO Online.
  nele, estamOs  tOdOs
  - ao vivo - em vAiVéNs...

  e hoje tem espetáculo?
  ‒ tem, sim senhor! É preciso girar.
  e amanhã?  ‒ o trem já passou...
  e depois de amanhã?
  ‒ não tem mais roda para se brincar.

  o script e a vida
  hão de continuar;
  não se pode cessar
  de buscar a saída...

  o real pode disparar
  e rOdar... abrir o jOgO...
  ou abrir fogo
                  num abrir e fechar
             de OlhOs...

  o mundO não vai reparar a espera
  porventura
  com uma ex-fera.

  a terra é uma esfera,
  o tempo não tem jogo
  de cintura.
  faz jogo de empurra
  em pura aventura
  às vezes se esturra
  e joga à vera.
  o vento do mundo
  quer tudo assanhar...
  entretanto o show
  não pode parar
  nem por um segundo.


  e o sonho
  ah, o sonho há de continuar...

  a Sonhar... a Sonhar... a Sonhar!... 



Ilustrações: Pedro Barreiros para "Clepsydia" de Camilo Pessanha






RUBENIO MARCELO é poeta, membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. É autor de dez livros publicados e dois CDs, e sua obra mais recente é o livro de poemas ‘Veleiros da Essência’. Também revisor, palestrante e advogado, reside em Campo Grande/MS.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548