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Ilustração : Leonel Pina |
Quão longínguo o horizonte perdido
nos cabelos enrolados dos trigos!
Que plenitude de luz nascente à cada instante!
Que solidão de muros caídos e portas arrancadas,
restos de corda amarrados à tramela mofada
numa solitária parede esburacada...
Que teimosia do tempo!
compreendendo todo o mundo
buscando a sombra errante da casa velha
ajuntando curiosidades universais
em campinas solitárias.
Que desperdício do tempo!
Deixam-se relíquias
obras raras
que secretam perfumes da ausência e da existência
onde – com propriedade –
lampejam cântaros vazios
gastos durante os cortejos solenes
(naquele tempo ninguém morria sem confissão)
arrebanhados nos rodapés das portas quando nos despedíamos
das esferas inacessíveis da glória
onde clepsidras predizendo felizes
a morte
– que é o único signo visível –
repelindo a natureza
dessa lembrança recolhida.
Jediel Gonçalves é poeta e crítico literário erradicado na França, mestre em Literatura Francesa, membro do Laboratório de Estudos Intersemióticos e pesquisador em literatura francesa dos séculos XIX e XX, na Aix-Marseille Université. Realiza atualmente Doutorado em estudos intersemióticos sobre a recepção da pintura na obra literária do escritor francês Marcel Proust. Também escreve ensaios e resenhas críticas para revistas de literatura na França, entre elas La Cause