Sem título – Jennifer Sarah Cooper
fronteira da alma
e vago em minhas noites mais
escuras
no meio da dor vibrante
lacero de sueños
açoitar
ao presente
la frontera de la alma
ardente
coiotes chamam das colinas
3 mil quilômetros daqui
mas ouço cada uivo
sinto o cheiro de cada folha da sálvia
sinto o cheiro do silêncio
Mojave
estrellas del
Mojave
y en la mañana
agriabayas de la planta de bayas de limonada
explosiones rojas de flor-mono
nenhum clima mais quente
nenhum clima mais frio
nem de Mossoró
yo soy el desierto
o ddt e a roça de brócolis
o vale imperial inteiro
dentro de mim
e eu sou cada cigarra
e eu sou o canto do meu coração de grilo preto
e eu sou minha alma de tabaibo espinhoso
yyo soynopales
e eu sou as rochas de granito
e eu sou a piscina municipal cheia, fria
e eu sou os terremotos
e sou o sol lascando
e sou os lençóis brancos frescos úmidos no varal na brisa quente
e sou a corrida dos pacotes de Marlboro para Maria
e sou a tristeza rosa do peptobismal
e sou as chuvas temporais
e sou laágua fresca de fresa, sandia, tamarindo
yo soy mango
yo soy los saladitos!
y yo soy Desert Gardens, mi escuela
y yo soy El Centro, Mexicali, San Felipe
e sou as meninas no recreio que me excluem
e sou até cada barata que foge quando se liga
a luz
sou jenny
sou as enxaquecas
sou ensolarada
sou a primeira comunhão
sou a cascavel no recreio
e je suis le grammaire du français du mon père
je suisles frères cantando Dominique
e sou até, em uma certa luz de um certo ângulo, o British Columbia e as trutas e as florestas de amoras da costa do Pacífico do norte e
o ar frio salgado do Pacífico e sou minhas narinas cheias de fria esperança e
o cheiro iluminado da moonshine da voinha e
o cachimbo dela de tabaco doce
e sou até Santa Barbara
e o trem de Santa Fé
e a parte de mim repulsa no inferno que revisitei até
e me torrei total como um Indian Summer chamas purificantes
carvão da alma livre agora
livre
e sou a ladra que roubava as damas degustando chás gelados
nas varandas beira-mar
e sou a criança hippie rica de amor nas nuvens de fumaça de erva
e sons de Joan Baez no
Balboa Park
e sou a deusa do mar
e sou a deusa do mar
e sou a deusa do mar
e sou o amor do lugar sagrado do meu paradiso
e estou apaixonada pelas florestas de algas
e estou apaixonada pelo mistério de algas
eu nado eternamente entre os seus cipós de âmbar
e pertenço ao mar
sou do deserto
mas pertenço ao mar
ponha uma bela mesa meu amor neste meu retorno aos seus braços doces
ou
deixe tudo e deite comigo agora
volto de exílio
beije minha boca de exílio
retorno
segure minha cabeça
e arqueie seu corpo amoroso como a cresta de uma onda
sempre no ato de despojar
Jennifer Sarah Cooper (ou Frota)– É poeta, escritora, tradutora e professora; da Califórnia, radicada em Natal, Rio Grande do Norte, onde atua como professora titular na Universidade Federal do estado (UFRN), Departamento de Línguas e Literaturas Estrangeiras Modernas (DLLEM), Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL). Coordena o grupo de pesquisa Multi-Englishes, com o ensino/aprendizagem de literaturas e línguas pós-coloniais, que investiga ativismo linguístico pelo uso de línguas híbridas – pidgins e creoles. Algumas das suas traduções aparecem nas antologias: Nothing the Sun cannot Explain, de Green Integer Press, editado por Douglas Messerli, e Lies about the Truth, em New American Writing, editado por Maxine Chernoff e Paul Hoover, além de outras edições impressas e online. A sua poesia original é disponível em publicações das editoras Dusie Press, Letterbox, Sibila e outros.