![]() |
Ilustração: Marta Bevacqua |
Onírico
Paisagens oníricas habitam sonhos perdidos.
A vinda daquele que percorreu milhas –
Cedo ou tarde acreditamos no encontro.
Caminhamos até a encruzilhada
Como em um baile de corpos retorcidos.
Bach ocupa o centro da dança,
Lautréamont recita.
Gemem como grito no palco:
Somente a juventude pode cantar o amor.
Caligrafia
Deixei toda a dor para trás
Mas os anos do descobrimento me acompanham:
Flores entre o nascer da consciência,
Um mundo novo que se abre em fenda,
O desvelamento da identidade que me coloca diante de escolhas.
Escrever como martírio e salvação,
Caligrafia fina por sobre a pele dos fatos.
Não se cura a vida de si mesma.
Tece o corpo no tempo-espaço do verbo
Enquanto o céu continua o mesmo a velar sobre nós.
![]() |
Ilustração: Marta Bevacqua |
Beatriz
De todo amor rendido ao fim
Metafísica obscura do adeus
Seria possível olhar em seus olhos
Novamente?
Tudo está perdido
Sabemos
E por saber cantamos idílica noite
O que nos foi profanado:
Todo começo é pureza
ainda que haja o corpo
O soluço e o choro.
Névoa da partida
Do canto estarei atento
Não mais Musas a me inspirar o sentimento sagrado.
Percorre o céu,
Eu ainda estarei na terra.
Adentras o inferno de minha alma,
Turva.
Variações para Drummond
Uma pedra sempre será uma pedra
Aguerrida, a provocar tropeços
Enquanto rola rio abaixo.
Pequenos espasmos lhe acompanham o corpo,
Pequenas tragédias compõem uma vida
A desenrolar sobre o percurso calcinado do tempo.
Fernanda Fatureto (MG, 1982) é poeta e jornalista, Intimidade Inconfessável ( Patuá, 2014).