A CEIA
resta na praia
um corpo frio
sem medo
nada por dentro
ali antes morava o tempo
sonho distante
curva do vento
a palavra praia
rabo de baleia
vontade de sereia
oferenda pra lua cheia
ali na areia
a carne despida
a outra orgia
um corpo frio
sem medo
nada por dentro
ali antes morava o tempo
sonho distante
curva do vento
a palavra praia
rabo de baleia
vontade de sereia
oferenda pra lua cheia
ali na areia
a carne despida
a outra orgia
a ceia
A MORTE CALA SEU CURSO
A morte cala o curso.
Áspera respiração de Marte,
convulsivo e sufocado.
Sem guerra, sem grito,
sem armas.
Antes rasgo infértil,árido
passo a passo avançando
no leito do rio.
Não ouça, porque não há gritos.
A morte cala seu curso.
Os deuses do absurdo marcham líquidos.
A morte cala seu curso.
Cão com olhos de lama fincados
ao longo do fundo.
Não ouça o fim de tudo,
não há o que ouvir.
A morte cala seu curso,
a morte cala seu curso,
a morte cala seu curso.
* * *
Roberto Dutra Jr. é um neurótico social como todo brasileiro de cidade grande. Adora literatura, mas as palavras não fazem mais sentido. Mestre em Letras, tem um livro publicado e diversos artigos de caráter acadêmico e crítico publicados. Foi editor de revista acadêmica, contribuiu para jornais e revistas literárias no Rio de Janeiro e tem um seríssimo flerte com a música. Adora gatos e poemas, que movem-se na penumbra e nunca revelam-se inteiramente. Leia mais textos do autor aqui.