o que atravessa
a terceira margem do pai, Guimarães
aquela que só a dor avista
encalcou no oco quieto, cada vez mais,
este rio sem leito
o rio nomeado é sempre o mesmo
e lento, Quintana. o fixa o arrabalde da morte.
ele para de calafrio.
e contraria o destino dos rios.
se todos os rios são doces, Neruda
o sal no fio do destino
eis um rio que não quer o mar:
nunca passa, e a gente habita.
a cidade era passada pelo rio.
a cidade era passada pelo rio.
agora pelo medo, Cabral
a faca da lama.
acabar. esse rio acaba todo dia.
e morrerá por idades imersas, Cecília.
só, eu avisto um sangue que tem cheiro.
não me deem espelhos. este vale é a doença do mundo.
* * *
Fabíola Mazzini, 52 anos, servidora pública, ilhada em Vitória, esta cidade que tem mar, porto e muitas histórias. Lê e escreve por necessidade.