Mariana
Mariana foi-se embora
deixou a roupa quarando na grama
Deixou o leite coalhando no pano
A nata boiando no leite
E o colostro minando do bico
Deixou o pão e a manteiga no leite
o café, a Abissínia e as Minas Gerais
Mariana deixou o sonho e a fome de vida
e foi pro horizonte, no acostamento da via
A grama morando no grilo
O pano molhando seu leite
A nata coada do copo
A ravina no bico sangrando
Deixou Minas com a ravina na auréola
Retirou-se com o bebê barroco no colo
O sol na cabeça quarando
Foi viver os sonhos nas fossas pacíficas
Dar de cara com os peixes-elétricos
Então Mariana mudou-se à África
Mariana tornou-se malgaxe
Mariana de criança nas costas
caminhando no barro, descendo o barranco
Vai Mariana, morar na savana
Cantar com os grilos no escuro da noite.
* * *
Reinaldo Ramos nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1978. É professor de Filosofia no ensino médio da rede pública estadual. Já estudou Cinema, fez mestrado em Bioquímica Médica e foi premiado em um concurso nacional promovido pela Academia Brasileira de Letras em parceria com o Jornal “Folha dirigida” com uma redação sobre os cem anos da morte de Machado de Assis. Participou da coletânea do projeto “Realengo – Poetas pedem paz”, publicada na revista “Germina” e teve textos publicados no blog “Plástico Bolha” e no caderno “Megazine” do jornal “O Globo”. Também tem publicações nas revistas literárias "Um Conto", TriploV" (Portugal) e "O Bule". Em 2011 publicou seu primeiro livro de poesia, "Livro de Mentira". Blog.