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4 poemas de Julio Urrutiaga Almada

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Ilustração: Tayfun Eker


Heracles
Ninguém sabe 
Degustar
um segredo.
Ele tem a cara
De um Câncer.
Ele tem o cheiro
De um medo.
Eu verto silêncios
E aromas de baunilha
Nesses dias entristecidos.
Eu perambulo
Pelos endereços
Inábeis
Dos tempos felizes.
Eu sofro
De amores voláteis
Desandando 
A maionese dos magos.
Flor de um asfalto retrátil
Devorador de pernas 
dóceis
E sonhos contidos.
Esvoaço a vida
Se esvoaçada
Deixa-se.
Falo a verve
Descontrolada
Dos abismos.
Amo a febre
Dos meus sentidos:
Voz embargada.
Desavisado sorrio
Os dias me dilaceram
Na sorte que anunciam.
Dobro a esquina
Cruzo o rio
Sangro desaparecido.
As mãos prenunciadas
São a febre
Das horas enraivecidas.
O olho inerte
É o remorso
Do tempo vencido.
A outra margem
O rosto da correnteza
cortada.
                                                                               
Palidez é a cor
mais selvagem
à mim permitida.
Morrer centenas
De vezes e não
Morrer sequer um dia:
Trançado de vozes
Calando
As pedras velozes.

(Em um mapa sem cachorros)



Poemas Mal_Ditos

Um poeta em seu reino dos céus
Tem sempre esse inferno particular:
Se cortando na sutileza dos véus
Olha no olho do que há a revelar

Vê claro o que claramente oculto
É o mais escondido dos tesouros.
logo o acusam de estar em surto
ao dançar com a alma dos touros.

Chega de promessas do paraíso
repleto de prazeres artificiais.
Escrevo uma dor ácida e aviso:
sou o menos morto dos mortais!

Vestido com a ousadia nua:
Como flor de lótus nos funerais.
Quero a tinta que a beleza sua
E deitar vivo, aonde a vida jaz.

(Poemas Mal_Ditos)


Ilustração: Tayfun Eker


De Olho : Embriagado
                     
Conheci Junkies on the rocks
Que tristes pareciam
Na meia-noite do mundo
Sem música e poesia
Trash on the street
E pó de nostalgia

Andei mil lábios e nem desfaleci
E quando de olhos abertos
O mundo parecendo certo
Mostrou-me o sangue, o fogo e a flor
De pronto era Alice e o país das maravilhas
Não passava e eu nem sabia
De um conto de fados
E uma cama para sempre vazia

Na última sessão de fotos
Um flash dilacerou
Meu coração cansado

Conheci Junkies on the rocks
Em ruas que não eram minhas
Em dias que me caçavam
De volta às mesmas esquinas
Quando a lua já desistia
De iluminar sagas ensandecidas


Hoje molho no pão vosso de cada dia
Minha pena de securas estarrecidas
Meu olho quase morto onze da manhã
E alguém à espreita da minha fugitiva vida
Um amor verso a verso retalhando
Minha dor na qual ninguém mais acredita
E os maus mal parando em pé
Numa solidão de viés quase comprometida
Conheci sweet and darkness
Far away my heart em plena descida
E ruas de um gosto de sal
Que o sol petrificou pra toda vida
Andando só e mal acompanhado
Quién supo hallar mi corazon alado?
Será que alguém se esqueceu mesmo de mim, Depois de algum tempo haver lembrado?

Ou  quem sabe aqui nos versos
Só e de Olho: embriagado
Posso dizer da vida seus mil lábios
Com línguas de fel e equívocos nos armarios

(O amor é um precipício do cão)



Em terra de Cego

Nessa piscina cheia de ratzingers
Me banham em acido nostálgico
Furando-me olhos em indecifrável
Odor de um paraíso imaginário
De mão dadas com minhas cadeias
Os cães no olho mágico
Dividiram a fome do espelho
Para que querem saber o que
Se mantém vivo ou desperto
Se dentro da alma os ratos
Esgotam o caminho dos esgotos?

(De Olho:Embriagado)





Julio Urrutiaga Almada é poeta, escritor, tradutor iterário  e dramaturgo. Transeunte do Mundo. Identificado com a realidade latino-americana. Geminiano com ascendente em peixes e lua em câncer.  Livros: Proesia(1984,Feira do Poeta -FCC), Instantâneo  Enlace (Poesia Reunida -diversas fases - 2003) inédito, Livro dos Silêncios (2006,Editora Corifeu), Arde (Em Español, 2006) inédito, Poemas Mal_Ditos(2007,Ed. do Autor), Poemas Mal_Ditos (2009,2ª Ed. Alternativa), Em um mapa sem Cachorros (2009, Ed. do Autor), Beira do Caminho (Poesia Reunida - 2010,Ed.Do Autor), Hora Tenaz (2012, Ed. do Autor), Máquina de Moer Carma (2013, Ed. do Autor), O amor é um precipício do cão (2014,Ed.do Autor),Caderno de Ontem (2006) inédito, De Olho : Embriagado (2009,Ed.Autor), O Dia da Perdiz (em fase de conclusão). Tradução: EL RIO de Javier Heraud, traduzido para o Português e editado pela EDITORA CPEC - LIMA(Perú). Apresentou o livro EL RÍO na FeiraLiterária - FIL-LIMA em julho de 2010.

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