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Ilustração: Harmony Sage Lawrence |
A ESTRADA
Tudo era vermelho
Minha cabeça sobre teu ventre
E seu útero me revirando
Como uma bebida amarga no estômago
Eu, após, fechado no canto
Quieto. Agonizando o gozo azul
Com peso de chumbo
Na leveza de se ver
Você, anatômica em luzes,
Tomara-que-caia, soireé
Um jeito puta de dizer fuck you
Para esconder a raiva
De um palavrão vulgar. Eu vendo tua
Boca abrir e fechar
Pensando "não vou me apaixonar"
Mas acontece
Que teu jeito de dançar sem salto
Como quem pisa em pregos
E a terceira curva do seu rosto
Que harmoniza com o meu
E todo este teu gosto de tocar o sexo das plantas
Falar em estigma, estilete e gineceu
É um buraco na estrada do meu destino
Que sigo com faróis apagados
Pela estrada escura.
Minha cabeça sobre teu ventre
E seu útero me revirando
Como uma bebida amarga no estômago
Eu, após, fechado no canto
Quieto. Agonizando o gozo azul
Com peso de chumbo
Na leveza de se ver
Você, anatômica em luzes,
Tomara-que-caia, soireé
Um jeito puta de dizer fuck you
Para esconder a raiva
De um palavrão vulgar. Eu vendo tua
Boca abrir e fechar
Pensando "não vou me apaixonar"
Mas acontece
Que teu jeito de dançar sem salto
Como quem pisa em pregos
E a terceira curva do seu rosto
Que harmoniza com o meu
E todo este teu gosto de tocar o sexo das plantas
Falar em estigma, estilete e gineceu
É um buraco na estrada do meu destino
Que sigo com faróis apagados
Pela estrada escura.
TEU NOME SECRETO
Teu nome era de uma sutileza dramática
Lembro quando se apresentou
E em seguida se sentou
Com tuas pernas tortas e sorriso medroso
Nem você sabia o que estava fazendo
Mas falava sobre esportes
Moda e números
Tudo o que ignoro o tempo inteiro
E acho banal e chato.
Eu sei, pareço um careta
Dentro da roupa social em pleno sol de inverno
— na Bahia não faz diferença —
Teu nome depois que você se levantou
Ficou dedilhando nas minhas memórias
Como um deus punindo pecadores
Eu apenas rezei
Para ser purgado pelo vórtice entre tuas pernas tortas
E segui sem esboçar amor
Lembro quando se apresentou
E em seguida se sentou
Com tuas pernas tortas e sorriso medroso
Nem você sabia o que estava fazendo
Mas falava sobre esportes
Moda e números
Tudo o que ignoro o tempo inteiro
E acho banal e chato.
Eu sei, pareço um careta
Dentro da roupa social em pleno sol de inverno
— na Bahia não faz diferença —
Teu nome depois que você se levantou
Ficou dedilhando nas minhas memórias
Como um deus punindo pecadores
Eu apenas rezei
Para ser purgado pelo vórtice entre tuas pernas tortas
E segui sem esboçar amor
O AMOR É UMA SURRA DE FACÃO
Agora vejo que teu rosto não é tão bonito
E que teu corpo fino de traços amedrontados
Como uma ave migrando
Não é tão latente como cri enquanto iludido
Agora vejo este teu vocabulário com apenas dezenas de palavras
Que se repetem e se repetem
Numa ordem esquizofrênica, chata, melancólica
E esta tua queixa dos símbolos das coisas.
Agora vejo que o amor me cortou tanto a pele
Me surrou tanto a carne
Com lances de facão tal qual uma briga de sertanejos
Eu, ferido e inválido
Pelos lances ásperos de uma amor desbainhado
A colorir de vermelho minha espera romântica.
Agora vejo que já é tarde para dar forma à alma
Tempo ao corpo e realidade à paixão.
E que teu corpo fino de traços amedrontados
Como uma ave migrando
Não é tão latente como cri enquanto iludido
Agora vejo este teu vocabulário com apenas dezenas de palavras
Que se repetem e se repetem
Numa ordem esquizofrênica, chata, melancólica
E esta tua queixa dos símbolos das coisas.
Agora vejo que o amor me cortou tanto a pele
Me surrou tanto a carne
Com lances de facão tal qual uma briga de sertanejos
Eu, ferido e inválido
Pelos lances ásperos de uma amor desbainhado
A colorir de vermelho minha espera romântica.
Agora vejo que já é tarde para dar forma à alma
Tempo ao corpo e realidade à paixão.
OS HOMENS QUE GUARDAM OCEANOS
Mamãe me ensinou,
Quando eu ainda era uma criança,
Que o oceano, no fundo
É escuro. Que os homens,
No fundo, são escuros:
Nunca me atentei para a escuridão que mamãe falava
Pois o fundo é quase inacessível, invisível
Quando se está próximo, quando se está dentro
Porém, quando se está longe
Quando muito longe, quando a Terra é apenas
Uma imagem feita pela NASA
Todos os homens possuem oceanos escuros
Tenebrosos e letais dentro de si
Mamãe estava certa
Não só o fogo é perigoso, mas os homens e seus oceanos também.
Quando eu ainda era uma criança,
Que o oceano, no fundo
É escuro. Que os homens,
No fundo, são escuros:
Nunca me atentei para a escuridão que mamãe falava
Pois o fundo é quase inacessível, invisível
Quando se está próximo, quando se está dentro
Porém, quando se está longe
Quando muito longe, quando a Terra é apenas
Uma imagem feita pela NASA
Todos os homens possuem oceanos escuros
Tenebrosos e letais dentro de si
Mamãe estava certa
Não só o fogo é perigoso, mas os homens e seus oceanos também.
Kauan Almeida é baiano, nascido em 1992, mora em Santa Cruz Cabrália – BA. Escreve porque vida pede, e a vida é uma déspota carrasca, que condena todos os súditos à normalidade quando não obedecem suar ordens. Participou de algumas antologias e pode ser lido em sua página pessoa do Facebook.