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a vertigem surreal do cotidiano - Pedro Spigolon

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Imagem de brazilnatureza.blogspot.com




Poema Abandonado

Instruções de desuso:
a-      Regar o rio três vezes ao dia e com especial zelo em feriados militares;
b-      Esquecer uma utopia na engorda a fim de espernear pelo estatuto dos parafusos ou estatística da tolice, tanto faz;
c-       Contar uma por uma as pernas do mundo para descobrir como fugir sem sair do lugar;
d-      Estender os olhos no varal e justificar a amargura seca pela ausência de lágrimas;
e-      Plantar dinamites antes de começar a horta é a melhor maneira de dizimar gafanhotos e o amor;
f-       Ignorar a indisposição para rezar tentando descobrir como a poeira se junta por conta própria se não tem alma ou sua predileção pelos retratos de família e quinas da saudade;
g-      Visitar o manicômio às terças para obter a previsão do tempo e desenhar a giz, sob tempestade, os filhos espúrios da América;
h-      Esperar a menstruação da pátria descascando uma laranja. Com as cores inventar o poente do descaso;
i-        Enterrar um pardal vivo. Dar-lhe o nome de Judas e admitir-se inocente;
j-        Desistir de curar a doença das pétalas secas. Comprar flores de plástico pela internet;
k-      Jamais inventar uma solução para pesadelos;
l-        Incendiar formigueiros quando criança é revelar aos adultos que a ordem não passa de um subterfúgio para abolir a liberdade em nome da decência. De quem?
m-    Causar inveja aos anjos decifrando o enigma dos corpos, no outro dia constatar amnésia e se ver livre de conclusões;
n-      Esquecer que se existe não é fugir à vida, senão toma-la para si sem senha;

o-      Dançar a melodia do abandono ou sintonizar o chiado do amor com o dos venenos é justamente o que


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Pedro Spigolon nasceu em Araras-SP no dia 16 de Abril de 1992, sob o signo do fogo. Quando criança teve catapora, como quase todas as crianças. Aprendeu a cavalgar no sítio de seu avô. Graduou-se bacharel em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas. Publicou “espanto”, seu primeiro livro de poesias, em maio desse ano; e poemas na revista literária euOnça e na antologia do Jornal RelevO. Já morreu diversas vezes nesta vida. Usa a poesia para dar corpo à sua Imaginação.


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