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"pedras portuguesas mandam postais" - Andréa Mascarenhas

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Imagem de http://calcadaportuguesa-roc2c.blogspot.com.br/



[atriz]
  
serena .
tarde esquecida dessa cena

oblíqua .
resisto ao que m’ invade

antena:
de.ser-tÃo
desconserto em tantos mundos

giro .
rodopio sobre o muro

insana .
bastidores tremem sem frio 
esgano solidão que te alicia

fria .
Malena sem dragão
vendo sorrisos de toda dor

vírgula .

pré interrogação .

só .
sem palco,
apelo aos estilhaços que te chegam

chaga .
até a corrosão completa desse peito
aberto em público

ato .
sem forma
em desassossego equilibrado

pétala .
pálida cortina que m’encerra

esquálida .
desbravadora de tuas vozes

esganiçada .
perco colores findas
em marcha por teus olhos semicerrados

atalho .
pós-palhaço
feito de lágrimas e purpurinas

tétrica .
amasso enredos sem ruge,
falidos por entre os dedos

espera: deixa . não!
sempre tu,
Narciso quebrado em teus espelhos





[de Orfeu] 

luz que brota em teus acenos vem e me espraia . tãoperto.distante . deusa.calma te converte desse sonho .onírico escarcéu escorrega por teus passos . Orfeu de gabinete ainda que testem tua galhardia .pisada ressabiada, eis a vida . orgulho vai na lapela, mal disfarçado de etiqueta . império esquecido a ruir por dentro . encaro a dobra em que me sei . pela cidade, bondes te esperam . pelas tabernas, todas as mulheres . teu lápis rabisca (in)versos de agora . em cada pegada um registro de incertezas . também vacilas, mesmo imortal . por palavras um cancioneiro alça futuros . um desses aqui escrevo .





[an.águas]

pés descalços
molham teus sonhos
em passos
descuidados

por esquinas de areia
deixo espelhos
e teus degredos
enlatados

n’outras baías
escorraço
ilustres abraços
engessados

teu banho,
Maria,
jaz dessalgado
em pranto sem mar

revolves
soluços velhos
em vã tentativa
dere.ter teu futuro

anárquica saia rodada
jaz molhada
e não revela mais
do que escondes

teu seio pulsa
mesmo que inglórias
sejam as marcas
que ainda são de dor

de areia e céu
são teus ofícios
rimados
n’outros fios

teus rios
sangram
em veios
de solidão

anoitece em teu palco
onde baila
luz marinha
e nunca é dia

mãe d'água,
devo-te fantasia
e te peço perdão
ao esgarçar tuas an.águas





[car.ess.ência]

carece do meu
teu olho

nosso lume
não se faz de aceso.acaso

em nossas retinas
luso.fusco.mar

farol apaga
vela da noite

mirantes olhos
d'esguelha

fito teu dentro
desafio

rocas nos fiam
cordões de amar

pedras portuguesas
mandam postais

e nada sei do que virá
só das quintas

algum possível inferno
ou taverna

dos carneiros
chamo o frio

de ti
um verso.rio

n’outras calmas
Portugal


 __________________________________________
Andréa Mascarenhas nasceu no Rio de Janeiro. Reside em Salvador – Bahia | Brasil. Ficou classificada em 13º lugar no 'XII Festival de poesia, crônica e conto', organizado pela Fundação Cultural de Imperatriz, no Maranhão (2001). Edita um Blog literário (http://www.arquivosimpertinentes.blogspot.com.br/). Tem poemas e outros textos literários publicados no Canal SUBVERSA(literatura luso-brasileira), em Coletâneas poéticas da Pastelaria Studio (Portugal), na Elipse(Revista literária galego-portuguesa) e participação em publicações da Editora Pragmatha (Brasil), entre outras. Mestre em Literatura e Diversidade Cultural (UEFS). Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É professora e pesquisadora da área de Literatura (UNEB). Arrisca-se na escrita poética desde meados da década de 1990. Cultiva a escrita manuscrita, em cadernos, cadernetas, folhas avulsas, além da escrita instantânea/digital, "jogada" aos frios espaços do byte. Entende literatura sempre no plural, como uma espécie de magia, feita de algo impreciso que de repente acontece entre sons.gestos.palavras. Por isso a estende muito além da profissão. 

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