CINEMA VERTEBRAL
olhos que exibem dois curtas metragens castanhos cor de amêndoas.
visão caleidoscópica multicolorida de cores tranqüilas.
cinema vertebrado projetado nas paredes das minhas retinas
injeta som de chuvisco nas telhas de amianto da minha cabeça.
escutando Coríntios 13 dentro da eucaristia e dentro da serraria
como se instalasse no meu corpo a musculatura dos braços de um babuíno.
A gente permanece em busca de átomos de oxigênio no meio do sufocamento
busca suco de melão, morfina para um mofo Morfeu, bulbo de papoula, rocamboles,
chá de erva doce
pois anseiam arremessar-nos nas fornalhas de Nabucodonosor.
Entorses,luxações nos ombros e rupturas nos joelhos
desejam ardentemente
cada milímetro do nosso esqueleto .
mas potro que termina de desmamar
logo sossega no colo da sombra de uma gameleira
e sonha com todas as ressonâncias do verbo relinchar.
Feito feto curtido em tonéis de jequitibá
observando cirros e cumulunimbus
relembrar a gente
que também podemos relampejar, trovejar, chuviscar e babar arco íris .
UM ESTRELA E ESTRALA O OUTRO
A partir de então meus olhos são dois telescópios castanhos te avistando,
cometa que orbita o estrelário da minha pupila.
Fotografia massoterapêutica debaixo dos meus cílios.
passo a te medir com sextantes, lumens e volts .
Certo que satélites e sondas espaciais
tentam captar a estrela que gira a galáxia cor de colméia da sua retina
e que todos os sismógrafos e placas tectônicas se agitam quando a gente se abraça,
que todos barômetros enlouquecem quando chove dentro da gente
e o ganso plaina e a hélice da usina eólica decola quando a gente passa.
Tens os mesmos traços de um poema
nave de igreja barroca
que deixa meus cupins estupefatos, atônitos e encantados.
Haste de jurema, terapia, mousse de maracujá, bolo de cenoura, tonel de umburana
da minha cachaça,
lareira e meia de crochê diante destes árticos e áridos dias.
Quando a gente está anoitecido
risca arisca relâmpagos e trovoadas no céu da boca.
com palavra que despenca da voz
queda de andaime
bloco de ardósia
despenca macio dentro do meu ouvido
rio negro mergulhando no boto rosa
chuvisco escalando a parabólica
líquen de encontro ao tronco do meu angico
Poema que pega pelo antebraço e me leva para um sítio dentro da palavra sossego
onde sobra eucalipto
para alimentar a caldeira da usina de açúcar e álcool
instalada nas cavidades do corpo da gente.
TONIFICANDO A MUSCULATURA DA PALAVRA
Todas as manhãs somos arremessados delicadamente
com agilidade de amansador de cavalo árabe e operador de guincho
no corredor de um abatedouro clandestino.
?onde a cabra que pastava nos meus sonhos
?onde o leitão que bacorejava no meu curral
?onde o boi que mugia no meu cocho
Sinto tontura e zonzeira jambo vendo a humanidade pendurada naquele gancho.
Bastante verde coentro bastante verde rúcula
esverdeado enquanto alecrins
esverdear -se enquanto agriões
para tolerar a bosta o esgoto a fossa a caganeira e a disenteria
que tentam despejar nas margens do meu riacho.
No entanto, prosseguimos com esta proteína que a gente nutre a cada segundo,
filhote de vaga-lume conquistando o neon de suas luzes;
roxo e amarelo que a cada minuto seguem abraçando os galhos do seu ipê;
chacrona que toda manhã
segue assumindo a enxurrada de cores brilhantes na haste e na sua folhagem.
E sigo retornando a missa de beatificação de Rosa Egipciana e da palavra Ânimo
pois somos roças longínquas
hectares de mata atlântica distantes
alqueires desmatados sonhando-se lavouras .
e revisto-me com a cartilagem dos ossos dos ombros de Simão de Cirene
para não sentir a cabeça triturada dentro desta brusca betoneira
que é a digestão de uma baleia
que possui a mesma largura dos nossos dias.
Aqui se trafega pelo spa e pela madeireira num átimo.
Aqui percorremos das estrelas ao quartzo num átimo.
Racho vidraçarias e marmorarias quando passo
E sinto que um sentimento do tamanho de um crocodilo
quer morder a região da minha pélvis.
A palavra pretende ser o encanamento que estoura. Decolagem sonhada pela larva.
Cabrito que desaleita na ama-de-leite que é o poema
e logo se aquieta na vastidão do pasto
se lacta de via urbana e de via láctea
e esfrega as mixagens do cinza e do azul.
DE IMPLOSÃO ESTRELAR IRIDESCENTE NA PUPA
Certas ocasiões ocasionando queimaduras e irritações na pele da gente
e somente depois é que se sente o alívio e o ciclone num assopro.
É a cálida calma da taturana caminhando na palmada mão.
Ânimo nos dias de hoje
transforma nossas artérias
em fios de alta tensão desencapados.
Quando demolem meu teto com chutes e tapas
nuvens carregadas chegam para ensinar - me a relampejar.
Quando o mundo,
ferro de martelo e de marreta, despenca no pé do meu verbo caminhar
vejo - me entre o rosnado de gatas siamesas na laje
e o rompimento das comportas e adutoras da usina hidrelétrica.
Mas
a tranqüilidade do besouro pardo que vinca
o estresse acinzentado e o trânsito da rotina
torce contorce a carótida deste barulho baço
que nos envolve
como cidade
como aço polvo tentáculos
e como abraço.
Massagens aiurvédicas ao invés de socos, arranhões e pontapés
no reboco da quitinete do corpo
( este manicômio que acolhe um anjo )
RUMINANDO HORIZONTES E SENSAÇÕES
quando aquela cabra terminar de mastigar o calcanhar do horizonte,
de mastigar a costela deste pasto
descerá do barranco; deixará de ruminar o capim gordura e a aridez do azul
por um minuto
para ruminar todas nossas expectativas,
neurônio por neurônio .
Enquanto prossegue a cidade,
esta ferida aberta com martelete demolidor;
a cidade,
estes 6 gansos gritando no quintal do seu crânio.
Este sono sem pálpebras. Este choro sem retinas.
e a joaninha atravessa sossegadamente o engarrafamento
mastiga a folhagem esverdeada das palavras,
cruza o mapa e a perturbação metálica da metrópole,
esta pressa que foi embutida na nuca da gente
como armário de cozinha com o aço corroído.
sinta a radioatividade que contem esta palavra
sinta o numero atômico que acompanha esta palavra
palavra de poema
poema que se mede com relâmpagos
de um sono cujo sonho surgem sono -
plastias lilases de cinema e teatro.
FULIGEM ESMURRA AS SAMAMBAIAS
o operador da retro escavadeira, a caixa de e-mails,
o fuzuê de bytes, o pau a pique eletro-eletrônico,
as sondas radiofônicas, quilohertz & farmacologia no furdunço cotidiano,
o maquinário industrial construído nos arredores das nascentes dos teus rios;
como um abrupto abutre
que se atrita com o silencio vermelho aliviado do pós parto de uma rinoceronte branca.
como sossego de minério incrustado no intestino do rochedo
o estresse almeja
os milhões de volts, os noventa mil cavalos, os trinta mil gigabytes
que há no trafego calmo sanfonado cor de cores fantásticas da lagarta .
Arco íris apresentando-se na Terra com o seu formato que rasteja.
enquanto a vida trata a alma e o coração da gente
usando movimentos de um velho açougueiro .
Disto o estar-se sempre ensopado
com a alucinação de um carvoeiro
encantado ao ver o canário chover amarelo e o azul babar verdes maritacas no céu.
locomotiva movida a vapor e euforia fumegando dentro da espinha.
Fita adesiva, solda, durex, durepox
naquelas coisas que já não aproximam-se mais por meio de um abraço.
Antes um bromélia conectada no meu tronco
do que implante de tártaros e arames farpados na boca
e luxações em algum tendão da silaba mão .
retorno a missa de beatificação da palavra Ânimo
este analgésico, este sedativo, este entorpecente
em meio a massoterapia e o alicate de pressão.
Pretendendo ser medido por um sextante e ser visto por telescópios
mesmo com esta tarântula de bário
metal alcalino
cuja picada causa febre e delírio
horizonte com corte no supercílio
sobrevivo
exato momento de estalo
de nuvem que descarrega uma chuva de raio
de carpete que amortece um desmoronamento de chapas de aço e compensados.
BIOPSIA DO POEMA
bailado do meu feitio de santo daime;
minha formula mágica;
ladeira de pedra que acolhe minha procissão do rosário;
fogueira do meu ritual indígena;
água que ferve meu peiote;
pequena haste de chacrona que abriga milhões de luzes e cores
salga a textura deste piso com sódio e afeto
retira todo este gosto de soco,
toda esta diarréia, disenteria, cólica
e remova esta indústria química da beira do meu rio.
pittbulls de aço galvanizado rastreiam - nos
e focalizam a região da nossa coxa.
preciso urrar feito silêncio no corredor de um hospital psiquiátrico
ou fundar aquele sono macio,
azul bebê, lilás fofo de incubadora
para expelir esta mazela incrustada
como gangrena na tranqüilidade da gente.
A peçonha de uma naja de cimento e vidro arremessada nas córneas .
curativos, gaze, mertiolate e esparadrapo nas palavras .
Existe a presa do elefante branco
que perfura o pavor hidráulico e o perigo do cinza,
resistindo e insistindo como
convulsão apresentada ao músculo
anomalia em um sistema neural
murro no queixo do mundo
folhas de jurema apresentadas aos neurotransmissores.
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Matheus José, mineiro, autor do livro A Cachoeira Do Poema Na Fazenda Do Seu Astral e dos fanzines Apologia Poética, Alcoologia Poética, Mais Um Cadim De Poesia Aí, Ô Trem Bão Poesia Com Limão, Estrondo Na Bolsa Fetal, Galáxia Pupila, e Costelinha Com Quiabo e Poesia. Participa da Off Flip - Paraty e da Oficina de Experimentação do Poema. Resenhista na Revista Escamandro e Homo Literatus. Publicado na Revista Cult, Suplemento Acre, Jornal Poiesis, Revista Saúva, Revista Subversa, Blog do Noblat, Jornal Plastico Bolha, Revista Usina, Revista Argila, Poesia Espiral, Antologia Prêmio Literatura de Viçosa - Editora UFV, Gambiarra Profana, Sítio Literário Torres Vedras ( Portugal), Tomate Seco, Revista Diversos Afins, Antologia Bar do Escritor, Viagem para Pasárgada Editora Litteris . Expôs na Mostra Poesia Agora MLP - SP, Amostra Grátis Geringonça Norte Comum, Interferência Poética Sesc Tijuca, Intercambio Cultural, Poesia F.C Sesc Campinas, Festival Tomate Seco, AJB - Niteroi, Festival O Grito, Festival Senso Incomum, Africanight - Ilha Grande, Picareta Cultural, Poesia F.C Sesc Campinas e diversos saraus, cidades, vilarejos e calçadas Brasis adentro.