exílio
~ ~ ~
teu nome é estrangeiro
e eu me sinto tão distante de mim
ou melhor
tão perto
que me perco
teu adentro está entre a minha mão
e tua solidão de mundo
íntimo de meus pés e minha fera
meu chamado
meu chamado
meu chamado por alguma voz
que me ouça, me grite, me chame
cindida por mares abertos
lâminas
vozes
segura a outra a ponta
atende o telefone
me dá a mão
se joga comigo da ponte
ser reconhecida por um estranho
tem tantos nomes por aí
te batizo sem nome e te chamo
Divina Farsa
para Bia Troncone
Beatriz
na porta do paraíso
relutante
não sabia se queria
a perfeição
o branco
a candidez
se via então representada e presente
entre inferno astral e primavera
Havia percorrido labirintos em si
os cabelos descabelados
já não remetiam a face pura
“era pura o que?”, pensava
Pura cansaço, horas acordada
transitando por entre horas, limbos e línguas
de fogo que lambem e levam para o olvido
o que não quer ser puro, nulo, esquecido
pura, nula, esquecida da missão inicial
lhe dera um branco
purificada a fogo, a memória
se viu então folha em branco
e já traçado o risco
por ele caminhou
de banda, bamba
saltou pra fora dessa história
rasgara o verbo
rasgara o véu
Carina Castro (SP, 1988) é poeta e pesquisadora. É autora do livro de poesia Caravana (Editora Patuá, 2013). Se dedica também aos textos para crianças e jovens. É estudante de Letras, língua e literatura árabe na USP. Faz parte do grupo de mulheres artistas Mãe da Rua, integra o dúo de poesia-ilustração Selenitas e uma das editoras da Revista Marciana. Reminiscências do mar a embalam a estar perto da poesia, do canto, do sopro, orientar-se pelo que diz o desconhecido. Escreve em: tudoecoisa.wordpress.com