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Ilustração: Alain Etchepare |
O afogado mais formoso do mundo
Você é o afogado
mais bonito do mundo
Retiro do seu rosto branco
os matos de sargaço
e os filamentos de medusa
Revelo a beleza
de suas sobrancelhas ruivas
incandescentes
rubras.
mais bonito do mundo
Retiro do seu rosto branco
os matos de sargaço
e os filamentos de medusa
Revelo a beleza
de suas sobrancelhas ruivas
incandescentes
rubras.
Leão
De repente
o alumbramento
sua bravura flutuando em ondas.
Antevi sua nobreza
a flor de lótus que brota
do seu umbigo.
Como esconder dos mortais
sua coloração castanha
impressa em minha íris?
Como esquecer
o delicado roçar das cabeças
a cernelha, as lambidas?
Corro, louca, pelas savanas
tomada pelo desejo
que você, carnívoro,
me apanhe e me coma
metade homem , metade bicho.
De repente
o alumbramento
sua bravura flutuando em ondas.
Antevi sua nobreza
a flor de lótus que brota
do seu umbigo.
Como esconder dos mortais
sua coloração castanha
impressa em minha íris?
Como esquecer
o delicado roçar das cabeças
a cernelha, as lambidas?
Corro, louca, pelas savanas
tomada pelo desejo
que você, carnívoro,
me apanhe e me coma
metade homem , metade bicho.
Saudade
o que me mata
é o silêncio
e o beijo
não ser na boca
o que me mata
é a falta
de seus olhos
nos meus
o que me mata
é a ausência
de mãos
e palavras
o que me mata
é esse breu.
o que me mata
é o silêncio
e o beijo
não ser na boca
o que me mata
é a falta
de seus olhos
nos meus
o que me mata
é a ausência
de mãos
e palavras
o que me mata
é esse breu.
*
Vou ali chorar e volto.
Juntarei minhas mãos em concha
depositarei lágrimas, com cuidado, até as bordas
e entregarei à terra.
Desse encontro vingará
a cabeceira do rio.
Seu leito não aceitará cuidados
pois é mais forte que eu.
Sulcos de lodo e segredos,
matas de alegria, pedras indomáveis,
sedimentos de saudade e amores mal acabados.
Amanhã chorarei de novo
depois de amanhã também
para alimentar seu curso
de água, sal, sofrimento.
Nesse rio caudaloso
banharei o transtorno, a urgência,
a virulência do sentimento.
Em sua foz,
um dia,
me deitarei
e morte.
Martha Galrão (Salvador-Bahia), graduada em Psicologia, prefere ser poeta e professora. Participou das antologias poetas@independentes(2007), pórtico 3 (2009) e Todas as Mãos, Antologia do Caruru dos Sete Poetas(2014).Autora de A Chuva de Maria(Kalango, 2011), Muadiê Maria, Coleção Cartas Bahianas(P55 Edições, 2013), Um rio entre as ancas, Coleção Pedra Palavra(2013).