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Ilustração: Irma Kusiani |
A placenta que me cuspiu
do morno
jogou-me ao forno
sem piedade
do morno
jogou-me ao forno
sem piedade
nenhum pio de dó
até pão de ló tornar-me
sigo mal passada
até pão de ló tornar-me
sigo mal passada
Alice
Alice tem uma peça sem encaixe
lego, prego, parafuso
um descontínuo
desatino
febre ao acaso
.
.
Uma tachinha no calcanhar
uma anormal idade informal
inferno na língua
do mar estrelas
no céu da boca
.
.
De manhã após os delírios
diluídos em chá
de comigo ninguém pode
sai a regar o jardim de lagartas
que florirá em asas
e será morada para a joaninha
salva todo dia na água do chuveiro
.
.
Alice afaga leões (mais de um por dia)
e envolve-os em mantras da sorte
.
.
Ela fez um inventário
para cada otário um invento
que dissolva ecos
possivelmente danosos
.
.
À noite com conchas no ouvido
ela fecha os olhos bem forte
para que nenhum colírio perigo
penetre em suas pupilas da sorte
e cegue suas miragens
lego, prego, parafuso
um descontínuo
desatino
febre ao acaso
.
.
Uma tachinha no calcanhar
uma anormal idade informal
inferno na língua
do mar estrelas
no céu da boca
.
.
De manhã após os delírios
diluídos em chá
de comigo ninguém pode
sai a regar o jardim de lagartas
que florirá em asas
e será morada para a joaninha
salva todo dia na água do chuveiro
.
.
Alice afaga leões (mais de um por dia)
e envolve-os em mantras da sorte
.
.
Ela fez um inventário
para cada otário um invento
que dissolva ecos
possivelmente danosos
.
.
À noite com conchas no ouvido
ela fecha os olhos bem forte
para que nenhum colírio perigo
penetre em suas pupilas da sorte
e cegue suas miragens
*
Na noite em que roubou minha paz
sonhei gritos
como dores e ressalvas
Sem tábua de salvação
estourei os plásticos
bolhas de ar
oxigenaram a impotência
Não mais espelho
Só
fomes invisíveis
Me alimentei de pequenas ternuras enlatadas
sonhei gritos
como dores e ressalvas
Sem tábua de salvação
estourei os plásticos
bolhas de ar
oxigenaram a impotência
Não mais espelho
Só
fomes invisíveis
Me alimentei de pequenas ternuras enlatadas
*
A idade não vem sozinha
Vizinha de chagas
Pragas que batem e voltam
A idade não dá folga
Rouba toga, melindres
Perdoa deslizes
Dá o troco em doces
A idade é generosa
Vem em prosa ou desalinho
Como vinho bom
Ou sermão de mãe nervosa
Esta menina levada
Amarrota a pele
E passa a limpo nossa ficha
Vizinha de chagas
Pragas que batem e voltam
A idade não dá folga
Rouba toga, melindres
Perdoa deslizes
Dá o troco em doces
A idade é generosa
Vem em prosa ou desalinho
Como vinho bom
Ou sermão de mãe nervosa
Esta menina levada
Amarrota a pele
E passa a limpo nossa ficha
*
Sê bamba menina
entre uma esquina e outra
há universos
loja de flores
calçada fede urina
uma criança brinca de puta
equilibre-se menina
se tua sombrinha não falha
essa navalha vida
corta e dói menos
entre uma esquina e outra
há universos
loja de flores
calçada fede urina
uma criança brinca de puta
equilibre-se menina
se tua sombrinha não falha
essa navalha vida
corta e dói menos
Nilcéia Kremer é gaúcha. Atualmente mora em Passo Fundo. Letras por formação, e as demais linguagens artísticas por paixão. Já passeou pela dança, teatro, cinema, circo, música (voos rasantes) e literatura. É atriz, arte educadora e estudante, só não bordou ainda (já se arriscou a pintar). Escreve por deleite e inquietude. Participou da coletânea Sobre Lagartas e Borboletas publicado eletronicamente pela TUBAP e do Projeto Sete Luas que será lançado pela Scenarium. Mantém o blog In Process (http://caminhantedosolvermelho.blogspot.com.br/)