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QuaTRo PoeMaS De CiDa MoReiRa

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Vestígios

Aquilo que mais doeu
não contei para ninguém
fiz faxina em cada canto
fechei portas e janelas
e no fogo da lareira
queimei todos os lembretes.
Mas a memória num lapso
qual faxineiro relapso
empurrou toda a poeira
pra debaixo do tapete.
Fecho a porta fica a chave
jogo fora resta o vento
sobre a dor restou a pedra
como se não fosse eu
varro a alma fica a poeira
de tudo que mais doeu.

***    **    ***

Fênix

Renasço todos os dias
como se um novo sol surgisse
e meu rosto de girassol o seguisse
por horizontes inventados.
De manhã viro no avesso,
à tarde a vida me esgrima,
à noite me desfaço em rima,
vejo a vida dos dois lados.
Quem justifica o pretérito,
quem questiona o porvir?
Quem dos que ainda estão por vir
herdará os meus legados?

***    **    ***

Poeminha

Fechar os olhos ao mundo
e deixar que a noite lúcida
silencie nossos sonhos...
Fechar os olhos à vida
enquanto gestos cansados
criam raízes na lua...
Fechar os olhos a tudo
e ouvir pássaros antigos
nos ramos verdes de esperas...

***    **    ***

O momento mágico


É labareda, atração,
ímã, influência lunar,
ventre de fogo, fusão,
tensão elétrica no ar.
Boca de fome voraz
curvas, caverna, arrepio,
acenda a chama fugaz,
liberte a noite de cio.
Mel, sexífera lua,
os meus circuitos acione.
Finja que sou obra sua:
sereia ou sharon stone.
Escreva em minha paisagem
soltas palavras sem nexo,
vertigem, ventre, voltagem,
anjo carente de sexo.
Percorra o mapa completo
na viagem que quiser,
penetre o túnel secreto,
desperte a nova mulher.



______________________

CiDa MoReiRaé sócia fundadora da Associação de Escritores de Bragança Paulista - ASES, atualmente exercendo a função de presidente. Os poemas aqui publicados pertencem ao livro Vestígios, publicado em 2009, pela ABR editora.

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