Um Circulador de Alucilâminas Salmando Escombros Humanus em Estrofes de Prosa Poética da Cor Púrpura
Romance, sugere a obra. Romance? Brilhante – e por isso mesmo inominável. Carlos Nejar dispensa apresentação. Certamente que um dos maiores e melhores escritores brasileiros de todos os tempos. Mais, ainda vivo e ético, brilhante, e aqui também no viço de uma criação surpreendente, um dos maiores literatos de nossa historicidade lítero-cultural, por ele assomada de grandeza. Assim, tomando pela mão seu novo livro, O FEROZ CIRCULO DO HOMEM, fica a expectativa pelo que se nos virá, a surpresa, o impacto, o instante-chama do leque se abrindo. E depois do primeiro passo, do primeiro pasmo, da primeira leitura arrebatadora, pelos primeiros parágrafos-estrofes, fica o atordoamento, o encantamento, o júbilo de quem pela (e na) leitura se regozija como se lesse as páginas de um livro sagrado de um, sim, ser feito à imagem e semelhança do criador, mesmo que no açodado narrador ora se desencantando e se recavando no sortido das palavras, imagens, confeitos, e porque não dizer nos atrevimentos esplendentes da criação do autor no auge, como se passando o limbo a limpo, e ora também (por isso mesmo até) se curvando às perdições, bendições e arrependimentos da patuleia pindorama no varejo.
A história. A escória. A poesia, o escárnio. As arrebentações, feridas e cicatrizes. Luz sobre remendos e arre-medos. E o ovo de ser “gente humana” pondo estados cênicos para fora. Entreluzes de escombros? Perdas/pedras. Cercas/círculos. Na descrição, o limo-lume, vertências. Como se uma caixa de bonecas russas. Uma desnascesse do todo para particular-se em uma que é outra, que gera (verte/veste/vértice) ainda outras. Bem isso. Bem assim. Cenas rompantes. Capítulos como versículos. O poeta/profeta kafkiano, trombeteando lugares, sinais, parecenças e lonjuras com os fios arrepiados dos humanus... na teia purgatória do todo...
“As ruinas me trabalham” (Pg). Eis o verbo sentencionado. E no principio era o caos, que depois se dissemina, que depois vira uma espécie, a bendita (maldita?) civilização, essa raça que somos (somos?), e assim desencadeia-se o fado que deu no miseris nobilis de nosotros tantos... A saudade de Deus. A solidão de Deus, que é quando esse livraço se jiboiou no humanus... Venenos. Drenos.
Lampejos em farpas, estados de gloritudes em fardos, cada capítulo o ser de alguma maneira por assim dizer capitulado, o homem em sua laia e jaez contado em salmos de uma voraz prosa poética dentro do território ora do nada, ora do absurdo, ora do acomodamento, do subsolo, que é o horrendo do homem em si mesmo, plâncton de se ser Ser...
A história. A escória. A poesia, o escárnio. As arrebentações, feridas e cicatrizes. Luz sobre remendos e arre-medos. E o ovo de ser “gente humana” pondo estados cênicos para fora. Entreluzes de escombros? Perdas/pedras. Cercas/círculos. Na descrição, o limo-lume, vertências. Como se uma caixa de bonecas russas. Uma desnascesse do todo para particular-se em uma que é outra, que gera (verte/veste/vértice) ainda outras. Bem isso. Bem assim. Cenas rompantes. Capítulos como versículos. O poeta/profeta kafkiano, trombeteando lugares, sinais, parecenças e lonjuras com os fios arrepiados dos humanus... na teia purgatória do todo...
“As ruinas me trabalham” (Pg). Eis o verbo sentencionado. E no principio era o caos, que depois se dissemina, que depois vira uma espécie, a bendita (maldita?) civilização, essa raça que somos (somos?), e assim desencadeia-se o fado que deu no miseris nobilis de nosotros tantos... A saudade de Deus. A solidão de Deus, que é quando esse livraço se jiboiou no humanus... Venenos. Drenos.
Lampejos em farpas, estados de gloritudes em fardos, cada capítulo o ser de alguma maneira por assim dizer capitulado, o homem em sua laia e jaez contado em salmos de uma voraz prosa poética dentro do território ora do nada, ora do absurdo, ora do acomodamento, do subsolo, que é o horrendo do homem em si mesmo, plâncton de se ser Ser...
Li cada parágrafo como um salmo delineado em acesas achas poéticas, em achados luminosos, fora de série, e o autor feito manteiga derretida na alma, à luz dos escombros, pondo-se para fora numa escrita rica, pura, embonitada pela fluidez das imagens, sítios desfocados, nós e pingos de águas furtadas. Ah a cabala mal-caiada da vida efêmera em que nos arrebentamos...
Mini-salmos empoleirados na dor do olhar, puras alucilâminas (de lucidez exercitada no oficio de escriba) cortando desvãos, amarras-amoras, como se ancorando ideias, lampejos; estados de devaneio harmonioso com a epifania criacional do autor em estado de encordoamento, assim soando as barbáries sociais e intertextuais com apuro.
Mini-salmos empoleirados na dor do olhar, puras alucilâminas (de lucidez exercitada no oficio de escriba) cortando desvãos, amarras-amoras, como se ancorando ideias, lampejos; estados de devaneio harmonioso com a epifania criacional do autor em estado de encordoamento, assim soando as barbáries sociais e intertextuais com apuro.
Um de nossos maiores poetas, talvez o melhor de natureza vivo, também aqui romanceando-se em estrofes salmadas. Os feitios narrativos de ‘poeversos’ com arremates de extrema lucidez e sapiência, em maravilhadas contações curtas, feito contículos sequenciais como drops não edulcorados, mas com nervuras e sangrias desatadas, pondo o leitor a per-seguir as pegadas das palavras que por sei se evocam, para não perder o fio do magma literário picoteado em ascensão alumbrante.
Cavar o vão, cevar o voo, ferir a vau. Ceifar o ato minúsculo de uma acontecência, e desnudá-lo da culatra das palavras com seiva límpida. Como se o autor fincasse o cajado de sua pureza limpa de criar, extremado, e fizesse verter o que conta/canta/contém. Feito – nesses tenebrosos tempos pós-moderno de achaques e achismos marotos – um homem-drone pairando acima e sobre todas as causas e coisas, assentasse o que vê/lê, pensa-sente. Ai de nós. E vendo (vendo-se?) escreve o que escavou de ver na releitura do mais íntimo de si, nas arredondezas e entornos como se tocado, e arando. E escrevendo tem o mito, o mato, o espacial e o humano, o real e o despertamento espiritual de tantas vidas conflitadas em confeitos de ocasião e dentro de uma atroz sobrevivência possível. A sociedade-esterco. A vida nódoa.
“Pontal do Orvalho” (Lágrima do céu...); o que foi “Poço dos Milagres (da vida?), rio, florestas, limites, “alma não precisa raciocinar” (Tibúrcio Dalmar...), e as palavras des-paridas; o que não saiu da infância (pureza), visitas, amores, e o círculo vicioso da vidinha/rotina/cotidiana (in-purezas do simples). Palavras árvores. Palavras estrelas. A terra ferida/fendida produzindo seus tantos solilóquios/rebentos/arrebentações/arrebatações. E o disco da terra-dias. O sótão de Tibúrcio narrando os subterrâneos da vidinha salmada pela simpleza contundente. Delírios, filosofias, aves, e a reinvenção da roda (círculo) da vida dessa “gentehumana” passada a margem de si mesma. Delírios-lírios (líricos).
Lendo cada capitulo como se uma alucilâmina de descrição, embeveci-me. Ia e parava. Sentia e sondava. O que será que vem no mesmo quilate pelaí? Como nominar o encantamento da leitura? Ah, deve ser a técnica lavadora de uma urdida pequena cimitarra de picar formas e enlevos, bisturizando-se de arrancar delírios e vantagens, de tirar limo do lodo no lume, e assim o autor vai destrinchando a vida, as amuradas, as relações e decantadas ironias, feito um triturador de escombros, alimentando historietas, compondo o quadro historial do cênico todo. Escombros humanus. Em estrofes da cor púrpura. Senti firmeza nas delicadezas. A alma humana aqui e ali passado a limpo no limbo. Os capítulos revirando entulhos. Revolvendo avessos. Tripas sociais da 'vidamorte', das relações assentadas em escárnios, sonhos, poses e posses. Tudo isso muito Nejariano... Com sua lupa espacial, o grande poeta ainda se reinventa de ser romancista de uma obra espetacular como essa.
E traz ecos. E vai aos becos e remendos. Réstias. Restos. Rudezas e erranças. Os textos encorpados de uma lucidez que ilumina a oração, retrata a vida como ela é, dura na queda, casca grossa, mais que se afina ainda e apesar de tudo, e rompe amarras do romance propriamente dito, jamesjoyciano rupturas com registros de situações pústulas ou de alumbramento no contar. Evolui a cada enfoque, e, por fim, cativa, seduz, embriaga com sua febre de pincelar com requinte, e logo coloca-nos no feroz circulo do homem gritando a vida que explode em si, arrebenta a céu aberto, e talvez nem mais saiba direito o que fazer com ela... Ficamos a pensar, se, para escrever um clássico desse, o autor parou de existir de algum modo. E se de alguma maneira habitou uma outra dimensão que fosse circulo de fogo, circo de água, núcleo de sangue, e ali se deu do mais dentro de si, na contemplação do mundo cão e da vida chã, e quando desceu dessa espécie de sinai numinoso nas escrituranças, não teria trazido o que catou de rastilhos polvorosos dos mandamentos existenciais todos que não couberam na pedra, mas estavam escritos nas areias, ventos, derramas, e em gritos, lanças e estranhezas de peregrinações. A poética de Carlos Nejar não é desse mundo. E o que dizer do romance FEROZ CIRCULO DO HOMEM?
Inominável. Por isso mesmo, já nasceu um clássico. Um dos melhores trabalhos literários que li em toda a minha vida de aprendiz de vertedouros, chorumes, achadouros e carnegões da espécie humana. Um romance de salmos contemporâneos pondo as tripas e as tulipas pra fora? Bravo!
Cavar o vão, cevar o voo, ferir a vau. Ceifar o ato minúsculo de uma acontecência, e desnudá-lo da culatra das palavras com seiva límpida. Como se o autor fincasse o cajado de sua pureza limpa de criar, extremado, e fizesse verter o que conta/canta/contém. Feito – nesses tenebrosos tempos pós-moderno de achaques e achismos marotos – um homem-drone pairando acima e sobre todas as causas e coisas, assentasse o que vê/lê, pensa-sente. Ai de nós. E vendo (vendo-se?) escreve o que escavou de ver na releitura do mais íntimo de si, nas arredondezas e entornos como se tocado, e arando. E escrevendo tem o mito, o mato, o espacial e o humano, o real e o despertamento espiritual de tantas vidas conflitadas em confeitos de ocasião e dentro de uma atroz sobrevivência possível. A sociedade-esterco. A vida nódoa.
“Pontal do Orvalho” (Lágrima do céu...); o que foi “Poço dos Milagres (da vida?), rio, florestas, limites, “alma não precisa raciocinar” (Tibúrcio Dalmar...), e as palavras des-paridas; o que não saiu da infância (pureza), visitas, amores, e o círculo vicioso da vidinha/rotina/cotidiana (in-purezas do simples). Palavras árvores. Palavras estrelas. A terra ferida/fendida produzindo seus tantos solilóquios/rebentos/arrebentações/arrebatações. E o disco da terra-dias. O sótão de Tibúrcio narrando os subterrâneos da vidinha salmada pela simpleza contundente. Delírios, filosofias, aves, e a reinvenção da roda (círculo) da vida dessa “gentehumana” passada a margem de si mesma. Delírios-lírios (líricos).
Lendo cada capitulo como se uma alucilâmina de descrição, embeveci-me. Ia e parava. Sentia e sondava. O que será que vem no mesmo quilate pelaí? Como nominar o encantamento da leitura? Ah, deve ser a técnica lavadora de uma urdida pequena cimitarra de picar formas e enlevos, bisturizando-se de arrancar delírios e vantagens, de tirar limo do lodo no lume, e assim o autor vai destrinchando a vida, as amuradas, as relações e decantadas ironias, feito um triturador de escombros, alimentando historietas, compondo o quadro historial do cênico todo. Escombros humanus. Em estrofes da cor púrpura. Senti firmeza nas delicadezas. A alma humana aqui e ali passado a limpo no limbo. Os capítulos revirando entulhos. Revolvendo avessos. Tripas sociais da 'vidamorte', das relações assentadas em escárnios, sonhos, poses e posses. Tudo isso muito Nejariano... Com sua lupa espacial, o grande poeta ainda se reinventa de ser romancista de uma obra espetacular como essa.
E traz ecos. E vai aos becos e remendos. Réstias. Restos. Rudezas e erranças. Os textos encorpados de uma lucidez que ilumina a oração, retrata a vida como ela é, dura na queda, casca grossa, mais que se afina ainda e apesar de tudo, e rompe amarras do romance propriamente dito, jamesjoyciano rupturas com registros de situações pústulas ou de alumbramento no contar. Evolui a cada enfoque, e, por fim, cativa, seduz, embriaga com sua febre de pincelar com requinte, e logo coloca-nos no feroz circulo do homem gritando a vida que explode em si, arrebenta a céu aberto, e talvez nem mais saiba direito o que fazer com ela... Ficamos a pensar, se, para escrever um clássico desse, o autor parou de existir de algum modo. E se de alguma maneira habitou uma outra dimensão que fosse circulo de fogo, circo de água, núcleo de sangue, e ali se deu do mais dentro de si, na contemplação do mundo cão e da vida chã, e quando desceu dessa espécie de sinai numinoso nas escrituranças, não teria trazido o que catou de rastilhos polvorosos dos mandamentos existenciais todos que não couberam na pedra, mas estavam escritos nas areias, ventos, derramas, e em gritos, lanças e estranhezas de peregrinações. A poética de Carlos Nejar não é desse mundo. E o que dizer do romance FEROZ CIRCULO DO HOMEM?
Inominável. Por isso mesmo, já nasceu um clássico. Um dos melhores trabalhos literários que li em toda a minha vida de aprendiz de vertedouros, chorumes, achadouros e carnegões da espécie humana. Um romance de salmos contemporâneos pondo as tripas e as tulipas pra fora? Bravo!
Silas Correa Leite - E-mail: poesilas@terra.com.br
Blogue: www.portas-lapsos.zip.net
Silas Corrêa Leite, Educador (Prefeitura, Estado, Particular), Jornalista Comunitário e conselheiro diplomado em Direitos Humanos, ciber poeta e livre pensador humanista, começou a escrever aos 16 anos no jornal “O Guarani ” de Itararé-SP. Fez Direito e Geografia, é Especialista em Edu cação (Mackenzie), com extensão universitária em Literatura na Comunicação (ECA), entres outros cursos. Autor entre outros de “Porta-Lapsos”, Poemas, Editora All-Print (SP); “Campo de Trigo Com Corvos”, Contos premiados, Editora Design (SC), obra finalista do prêmio Telecom, Portugal 2007; “O Homem Que Virou Cerveja”, Crônicas Hilárias de um Poeta Boêmio, livro ganhador do Prêmio Valdeck Almeida de Jesus , Salvador Bahia, 2009, Primus Editorial, SP; GOTO, A Lenda do reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, Editora Clube de Autores, Romance, 2014, O Menino Que Queria Ser Super-herói, Romance Infantojuvenil, Amazon, entre outros. Seu e-book de sucesso “O Rinoceronte de Clarice”, onze ficções, cada uma com três finais, um feliz, um de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, por ser pioneiro, foi destaque na mídia como O Estadão, Jornal da Tarde, Folha de SP, Diário Popular, Revista Época, Revista Ao Mestre Com Carinho, Revista Kalunga, Revista da Web, Minha Revista (RJ). e também na rede televisiva, Programa “Metrópolis”/TV Cultura; Rede Band/Programa “Momento Cultural”; Rede 21-Programa “Na Berlinda”, Programa “Provocações”, TV Cultura/Antonio Abujamra. Por ser única no gênero e o primeiro livro interativo da Rede Mundial de Computadores, foi recomendada como leitura obrigatória na matéria “Linguagem Virtual” no Mestrado de “Ciência da Linguagem” da Universidade do Sul de SC. Foi tese de Doutorado na Universidade Federal de Alagoas (“Hipertextualidade, O Livro Depois do Livro”). Texto acadêmico no link: http://bdtd.ufal.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=197. Premiado nos Concursos Paulo Leminski de Contos, Ignácio Loyola Brandão de Contos; Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, Prêmio Biblioteca Mário de Andrade (Poesia Sobre SP/Gestão Marilena Chauí)), Prêmio Literal (Fundação Petrobrás/Curadoria Heloisa Buarque de Hollanda), Prêmio Instituto Piaget (Lisboa, Portugal/Cancioneiro Infanto-Juvenil; Prêmio Elos Clube/Comunidade Lusíada Internacional; Vencedor do Primeiro Salão Nacional de Causos de Pescadores (USP/Parceiros do Tietê), Prêmio Simetria Ficções e Fantástico, Portugal (Microconto). Publicado em mais de 100 antologias, até no exterior, como Antologia Multilingüe de Letteratura Contemporânea, Trento, Itália; Cristhmas Anthology, Ohio, EUA e na Revista Poesia Sempre/Fundação Bib. Nacional (Ano 2000). E-mail: poesilas@terra.com.br-Site: www.itarare.com.br/silas.htm - Blogue: www.portas-lapsos.zip.net escolhido um dos melhores do UOL em 2011.