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Ilustração: Melissa/deviantART |
I
seu olhar diz o que não devo
e ordena despe
seu olhar aprisiona minha culpa
deito nua nesse olhar
que atravessa
rasga
desobriga.
II
mistura tudo
com um pouco de graça
começa larga separa desfruta
vida se agita entre as pernas
prédios emoldurados
onipresente espaço que voa interage eterno
espasmos se alternam em meu amor eterno
mistura a graça separa
pernas onipresentes
e me larga na rua
de novo.
III
feita de reconstruções abro as asas de cortes profundos
colho alegrias cultivadas
a poesia que aprendi dos seus lábios
brota agora mutilada
não me espanto
você se apossou de tudo o que é meu
já não posso dar um passo
sem tropeçar nos seus sapatos.
IV
para não acabar o jogo mudei as regras
abandonei as ruas para velar seu sono
cruzei a estrada
acompanhei o cortejo
por amor desci mergulhei tão fundo
despejei o passado
desalojei lembranças
feri gritei desaprendi a andar
me despi de tudo
desisti do arrependimento
faria tudo de novo.
V
enquanto me enfeito
mancho os lábios na taça de vinho
e suspiro
não serve mais a roupa da última festa.
Poemas de O SOL DA TARDE.
ADRIANA ANELI nasceu em São Paulo, em 1976. Estreou na literatura aos 13 anos com Jogo da Vida, esgotando a primeira edição na 11ª Bienal Internacional do Livro. Pela Editora Brasiliense, publicou seu conto Marise no livro Erótica: contos eróticos escritos por mulheres (2ª edição). Ao lado de Lourival Pacheco, comandou o programa “Poetas da Madrugada”, na Rádio Bandeirantes. Trabalhou com poesia também nas rádios Boa Nova de Guarulhos e ABC de Santo André. Poemas do livro Todas as Cores do Amor compõem letras da banda espanhola SalamanRai (cd homônimo) que reúne músicos de diversas nacionalidades e combina ritmos latinos, brasileiros e africanos. Promove recitais de poesia e oficinas literárias. É roteirista e dramaturga do grupo Baila Comigo e idealizadora do projeto Tempestade Urbana, comunidade que reúne artistas e trabalhos de várias partes do mundo. Ao lado de Chris Herrmann, é editora da página literária “Boca a Penas”.