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A fada-madrinha - Daniel Perroni Ratto

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A fada-madrinha


Iara é a porra-louquice
A transgressão

Iara é a louca junkisse
A subversão

Iara é a bela crendice
A inspiração

É a liberdade sangrando
Na tua cara!

É o desejo pedindo
A tua tara!

Ela é a noiva
Da Rua Augusta
Amante de Bukowski.

Três dias virados
Iara entre putas, beats
Conhaque e whisky

A sarjeta é meramente
Ilustrativa
As mesas de sinuca
Pretextos

A vida pede pressa
A noite está com sede
Iara não se importa
O caos é seu deleite

Acabaram os cigarros
A garrafa tem um dedo
Em busca de outros maços
Pelas ruas vai sem medo



Soneto Busca


Num dia a palavra pensa Descontentamento
Noutro faz arte Brinca de fazer encanto
Como falar sobre seu descobrimento
Revogando o direito para outro canto

Ela come rápido para próprio intento
Quem ignora os braços do eterno manto
E universaliza nosso sofrimento
Poucos tentam reinventar a arte enquanto

Então deixo que a palavra me procure
Assim como em lugares vastos estive
Nas salas da imaginação Bela Fama

Perdido nas ruas em busca dum aclive
Nos labirintos fabricados nesta cama
Espero que a todos, a palavra cure.



Águas de Marrecas (Gereraú)


Existe um lugar
Onde a magia existe
Esta é coisa simples
A natureza vai contar

Pássaros voam livres
Flores colorem o verde
É muito verde!
Frutas vivem

No céu o gavião sobrevoa
Imponente
Aqui a lagoa destoa
Intermitente

“Soinhos” pulam da mangueira
Anuns pretos nos cajueiros
A família de raposas, caça
E a coruja espreita

Nas casas de taipa
O fogão à lenha queima sabiá
Para alimentar o caboclo
É madeira que faz estaca

As redes no alpendre
O vento nas folhas
A vida no ventre
A esperança nas chuvas

Como é bom!
Comer caju no pé
Ou chupar manga coité
Colher o milho plantado
e vê-lo feito assado

Tem cururu do tamanho de sapato
De fato, o mel é das africanas
No pé, sandálias havaianas
E o menino leva o recado

As estradas ainda são de piçarra
O povo é daqueles que faz pirraça

Carroças e charretes
insistem em andar
levando vida
daqui para acolá

Esse lugar começou
Com a família Ferreira
Gente guerreira
Bem que se queira
Juntou-se à família Siqueira
Fazendo estória verdadeira

Esse lugar
das Águas de Marrecas
Pelos índios,
chamado Jererahú
Perpetua a magia
das estórias
que aparecem
nos sonhos do Uirapuru.



Foto de Daniel Perroni Ratto: Claudia Perroni 



 

Daniel Perroni Ratto é poeta, jornalista, músico, letrista, turismólogo, professor, especialista em mídia, informação e cultura (ECA/USP), e servidor público federal. A lista de campos de atuação de Daniel Perroni Ratto de Morais da Costa é tão múltipla e instigante quanto seus poemas. O autor de Urbanas Poesias (Ed. Fiúza, 2000), prefácio de Willis Guerra, Marte mora em São Paulo (A Girafa, 2012), orelha do tropicalista José Carlos Capinan e Marmotas, amores e dois drinks flamejantes (Ed. Patuá, 2014) com apresentação do músico Tatá Aeroplano, prefácio do poeta Roberto Bicelli e posfácio da escritora Natércia Pontes, nasceu em São Paulo, em 1976. No vai e vem da vida, passou a infância em Fortaleza, a adolescência em São Vicente e, hoje, fica a maior parte do tempo na capital paulista. No Ceará, conviveu com grandes nomes da música, das letras e da arte, como Fagner, Fausto Nilo, Francis Vale, Manasses, Sérgio Redes, Capinan, Teti, Rodger Rogério, Antônio José Silva Lima, Neno Cavalcante, Petrúcio Maia, Augusto Pontes entre tantos outros – influências percebidas em suas rimas, seus versos e no seu processo de criação. Participou das bandas Loco Sapiens, Criolo Branco e Luz de Caroline. É professor de Cultura Brasileira, Jornalismo Cultural, Gestão de Negócios e Turismo; colaborador na editoria de música do portal Culture-se.com; cronista do UOL, na rádio UOL; cronista do Jornal Diário do Nordeste; e também faz parcerias de composição com algumas bandas promissoras na cena paulistana.

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