aeroporto
estrangeira
sua tendência a perfeição
ensinou:
- tudo é verdade e mentira
numa cidade que ruiu há anos
[a expectativa de alguém
esperando presentes
na volta]
sempre
palavras perdidas
- jogadas fora -
no trânsito caótico de um lugar estranho
- oscilando e passeando -
o primeiro "bom-dia"
virando esquinas
circula com uma bolsa
cheia
de frases feitas
o passado não tem nenhum propósito
- agora -
[documentos perdidos
neve no oceano]
uma vez
acreditou em mais que isso:
palavras num dicionário velho
- o cheiro delicado das páginas -
e percebeu que era possível
transformar "maçã"
numa metáfora
estrelas caem do seu bolso
tudo é sinal
livros de milhões de histórias
pausa no tempo
uma criança pálida
seis cordas de violino
tempestades apenas aparecem quando findas
enquanto você continua no tempo de nenhuma certeza
o anoitecer de hoje, a luz da lua
um azul raro que se põe no mar
as coisas imutáveis
cada margem lembra
o mar profundo de mágoas
e desassossego
você murmurando perto do oceano
prova que ainda existam para amar
algumas coisas neste mundo
{veludo negro pérolas suaves}
cheiro de fumaça
seu coração em chamas
{essa noite}
esse ninho inabitado de possibilidades
o lugar onde você pronuncia seu nome
lambe as beiradas que o transformam (
palavra)
alguma inspiração rude
preenchida por requintes de crueldade (
rodada)
entre o que acontece agora
e o que você acredita que escutou
rabiscando (
arranhar)
do outro lado
da porta
Imagens: Jack Ryan (DevianArt)
* * *
Carioca de 1978, Juliana Hollanda atua na poesia desde 2005 (CEP 20.000, Ponte de Versos e etc). Além de fazer parte do trio de poetas "Madame Kaos" (com Beatriz Provasi e Marcela Gianini), também compõe a dupla "Ju & Juju" (com Justo D'Avila). Possui três livros publicados: "Acordei num Iceberg" (Ibis Libris, 2008), "Entre sem bater" (2010) e "Vertentes" (2012), os dois últimos, independentes, editados por Tavinho Paes para a coleção Heart.Action. Atualmente trabalha em “Juju in the Box” (a ser lançado em 2014), também em parceria com Tavinho Paes.