Des-conexão
Desplumada lua
alegoriza
e desvirtua
minha complacência
Estrangeiro fogo
redime a paleta
dos erros daqueles
de passos caídos
Salvo uma montanha
Prometeu em êxodo
morde tenazmente
o próprio fígado
Enquanto isso só
a festa pró-segue
e a lua pestaneja risos
para o louco ser curar
Quanto pagas de impostos para que possas Existir?
Qual o saldo de tua vendida liberdade concedida como coisa e lixo aos vis e pútridos poderes políticos?
Tua angústia está inflacionada?
Teu medo, é matéria de capa nos jornais de todos os dias?
E o alimento que pagas para na mesa estar antes que os ratos o comam, quanto dele ainda não traz o vírus da gosma purulenta dos algozes sedentos de sangue?
De quantos algozes precisas para dar a chancela de tua altiva sordidez humana?
Qual o custo de teu oceânico orgulho e insignificância perante o Cosmos?
A custo de que planteias uma participação no Estado, e no estado geral das coisas e do Homem, corroídos por infinitas mil atrocidades e barbáries?
E, ao final do fim, por fim pergunto-te: quantas commodities equivalem-se aos inextrincáveis rincões e redutos de teu Ser?
Pontiaguda ascese
Florilégio do anguloso devir
Atemporal disritmia humana
Poliglota quadrimensionalidade
Equilátera gagueira do espanto
Hiato convulsivamente plácido
Supernova estalando neurônios
Labirintico chão dos quereres
Da Solidão
minha amiamável solipão
solstício criadouradorado
de primaveracidades e
angulogos quadrifusos
metágora do coracanção
leitossatura melifluindo
da sala do estâmago
ao meioveio
do transmundo
mundanoso
porém
protoprenhe de
infiniluzes
Prima pagina
Mergulho no palimpsesto branco deste mar profundo
Cardumes de silencio passam e correntes tergiversam as naus do inaudito
Enquanto isso
ruborizando takes azuis
soa o jazz dilatando mil loas
nesta incipiente alvura
cujo mar amar
sou maré-moto
Tertúlia (ou do que se quer)
Um diz isso
outro diz aquilo
aqueloutro diz
outra coisa
Um diz este
aquele diz outro
fulano diz nem
uma coisa nem outra
Um quer isto
outro quer aquilo
e dois outros
não querem nada
Aquele não cala
esses não falam
já o de antes
nada ouve
Esse nada não vê
já aquele vê tudo
e não diz nada e o que
diz diz pela metade
E ninguém diz
nada mas todos
querem chafurdar
no sol do prazer
- No sol do prazer
ou de um dizer
que somente
compete ao poder?
E todos entre si
vão falando querendo
e se impondo
como mestres e algozes
Ate que irrompe um
entre este e aquele
outro maior que decide
finalmente o que se é!
Dos perfeitos artistas
(pequeno poema inútil)
Ó novos criadores e construtores do eterno novo
e inabalável panteão das nove Musas;
Vós – Voz? Tendes voz? – que inebriais e encheis
de Felicidade os corações dos apreciadores e espectadores;
Vós que, junto a eles quereis eternizar vosso nome e gênio,
vossa arte imprescindível às auréolas, bravatas e gravatas do Tempo;
Vós que ousais passar, ou melhor, transpassar
por dentro mas ainda por cima dos filões eleitos
da propaganda última e absoluta do dito e inaudito,
divino, mercado cultural;
Vós que sois os arautos intocáveis
da perfeita realização artística e humana;
Vós que sois os intrépidos feitores
da “gramática” da boa e autêntica realização;
Vós que sois os ganhadores dos prêmios
e editais por onde vossa arte alcança o povo,
o tempo, e os altos céus do orgulho, digo,
do auto-orgulho, pois sois Musos, ou Musas,
e, como tal, dignos de excelsas reverências!
Ó artistas! Sois o que há de perfeito
e intocável na Vida e na natureza!
Diante de vós não há quem não medre
e se sinta como uma nada por não instituir verdades,
digo, criar, fazer arte, fazer-se obra de arte...enfim!
Criar! Esse é vosso credo e vosso pão!
Mas criar apenas, para vocês, não basta!
É preciso abocanhar as mentes e os corações...
É preciso ser comentado, citado, absorvido, bebido
por todos, pelas melhores e piores mentes,
se é que isso se pode dizer.
É preciso, necessário e fundamental ter a aprovação
e a chancela do deus-capital, do deus-mídia, do deus-mercado...
cujos critérios e juízos são o que há de mais certo , nobre e elevado;
critérios irrevogáveis e extemporâneos, além de toda e qualquer
corrente estética de qualquer pensador ou tempo!
Vós, os únicos e inexoráveis criadores, se acham no direito
de dar diretrizes para o elaborar do trigo e do barro da Vida!
Par tudo que não corresponda a vossa tão sublime
e auratizada ourivesaria, vocês logo dizem: “Ó, não são artistas!
São como velhos fracos e banguelas, acomodados no côvado cômodo
de suas preguiças!
Ó, quão distantes da glória! Da glória do reconhecimento!
Quão distantes da suprema alegria de ser visto e ouvido, lido e respeitado,
ou, ao contrário, odiado por todos...” mas, desde que se se esteja no “panteão da arte”,
da fama, da fama de se sentir a própria Musa, ou Muso, tudo é válido,
ainda que vossa arte seja de fato arte e não guloseima a serviço de uma boca podre
e sem dentes que diz: “Tens de ser querido, absorvido, glorificado e eternizado
por toda tua vida, tu e tua arte!”
Ó artistas! Ó artistas! Quanto de vossa arte não é ainda um odre vazio,
uma ânfora vazia mas cheia do ar mais orgulhoso e pretensioso da vida!
* * *
Alberto Eloy: 35 anos, ator, poeta e “músico”. Paraibano (desterritorializado por vontade própria) de Campina Grande. Estudou Letras na Universidade Estadual da Paraíba por 2 anos e Filosofia na Universidade Federal da Paraíba também por 2 anos, esta em João Pessoa. Antes destas, já havia se embrenhado pela moda aos 13 anos e aos 17 (quando também começa a rabiscar os primeiros versos) entrou no furacão sagrado e epifânico do teatro e desde então não saiu mais. Aos 22 anos vai morar no Rio de Janeiro, onde ganha uma bolsa de estudos na Escola de Teatro do Tablado; faz oficina na Casa da Gávea com Gilberto Gawronski e logo depois começa a ensaiar uma coreografia de dança contemporânea com atores e bailarinos do Nós do Morro. Não se passam nem 3 meses e é aprovado numa audição para montagens de textos de Fernando Arrabal com a Companhia de Teatro Epigenia Arte Contemporânea, onde atuou por 6 anos – “O cemitério de automóveis”, “Fando e Lis”, “Oração”, “Ariano” etc. Nesta Cia. Também atuou fazendo pesquisa e tocando trompete, uma vez que estudou por 8 meses no Conservatório de Música do Rio de Janeiro com o professor/músico Paulo Mendonça. Fez vários espetáculos na UniRio, “Os gigantes da Montanha” etc . e na UFRJ, “Crônica de uma morte anunciada”, “Os sapatinhos vermelhos”, “Aquele que diz sim, aquele que diz não” etc. Em 2010 participa da montagem de uma ópera na reinuaguração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob direção de Bia Lessa e regência de Sílvio Viegas. Eloy também fez várias campanhas publicitárias no Rio, na Paraíba e em Pernambuco. Trabalhou como modelo vivo na EBA – UFRJ e no Parque Lage, neste, posando para aulas de desenho do professor/pintor Gianguido Bonfanti além de ter posado para aulas do ilustrador Renato Alarcão. Há 3 anos quase reside me São Paulo, onde já passou pelo grupo de pesquisa em performance, Desvio Coletivo, atuou e tocou na Cia. Quimeras e fez sua primeira campanha publicitária em terras paulistanas além de ter publicado 5 poemas no site da Revista Cult.