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Ilustração: Carl Spitzweg |
quem escreve
para seus pares,
escreve para
seus pares.
o poeta ímpar
escreve
para qualquer
um.
*
o homem mais alto do mundo
tinha os pés no chão
e a cabeça nas nuvens.
*
o lobo lobo
olha a Lua
de olho na lebre
e na loba boa.
o lobo bobo,
esse não toma jeito:
vive mesmo
é no mundo da lua.
*
o pássaro
precisa de um par
de asas.
à trapezista,
um par de cordas
basta.
um par de cordas
também basta
ao voo da cantora.
ao ouvinte,
resta apenas
um par de mãos.
*
o primeiro a ter
a cabeça nas nuvens
viu a Lua branca,
ideia tornada folclore.
outro inquieto
quis ir além,
mas voltou as costas
e viu a Terra, azul.
a História preferiu
um terceiro,
que teve os pés
no chão da Lua.
*
a teia da aranha
ficou
às moscas.
*
um grilinho verde
do outro lado
do vidro canelado.
um peteleco no vidro
e.... upa!
a sorte é fugidia.
*
da zoeira do dial de ondas curtas
emerge a Truta,
de Schubert.
*
apressado pro trabalho
os carros me impedem
preciso atravessar a rua
um saxofonista na calçada
música gospel, talvez
o saxofone na calçada
os carros inda lutam na rua
forças acima de mim
de minha pressa pro trabalho
*
morto no ônibus
sem lugar para sentar
o peso do sono nos olhos
o balanço-lentidão da viagem
a criança alegre no assento
corre com a pipoca
pula grita ri
volta para o assento
o lugar é dela
morto nos olhos
os joelhos
recusam a dobrar-se
*
no guichê,
a fala da cliente
lembrou-me uma canção
do milton nascimento
outro dia,
a máquina de lavar
cantando over the rainbow
a freada do ônibus
tocou um acorde
da sagração, do stravisnky
como é mesmo
que se dá o total
nessa bendita autenticadora?
Paulo Roberto Pereira Vallim nasceu em 1962 em Curitiba-PR, onde vive até hoje (passou parte da infância em Cornélio Procópio-PR e aos 40 anos morou por 10 meses em Itanhaém-SP). Começou a escrever poemas por influência do ambiente universitário, quando estava já com 25 anos de idade. No início dos anos 90 frequentou a Feira do Poeta. Possui poemas publicados em antologias coletivas e nos jornais Correio de Notícias e Folha de S. Paulo. A maior parte da produção está concentrada nos anos de 1991 e de 2014, ano este que marca o reencontro com o poeta, animador cultural e editor Geraldo Magela Cardoso, que o encorajou a voltar a escrever e a lançar o primeiro livro, cujo nome deverá ser POESIA ÍMPAR. Atualmente é servidor público e nas horas de folga cuida de sua mãe