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lágrima
despi-me de tudo
só o manto do olhar ainda me veste
desta bruma eu não posso me livrar
troco
quão fora eu sem recato
sem timidez atrevida
atirar-me em teus braços
melhor nem tivesse ido
cobriste com tua pele
meu velho corpo ferido
de ti fiquei tatuada
como se fosse um tecido
depois partiste e eu sem nada
vivi invernos seguidos
profissão de ferro
malhar o insuportável
o que deveria ter outra forma
outra fórmula
:
forjar-nos noutra bigorna
madrugada
afora a luz do poste e as estrelas
que parecem piscar
nenhum movimento
as árvores não se mexem
e não há ninguém na rua
chego a ouvir o coração da terra
que parecem piscar
nenhum movimento
as árvores não se mexem
e não há ninguém na rua
chego a ouvir o coração da terra
tumtumtum
alívio
o vento seca-me os olhos
o vento sopra minha dor
o vento faz-me esquecer
que a morte
é questão de tempo
a vida é para os fortes
sussurra-me
o vento
à coroa do rei
das nossas montanhas
foi-se o miolo de ferro de ouro
de amantes
sobrou-nos a casca e nós
os bobos da corte
caligrafia
escrevo torto
por linhas certas
Ilustrações; Frederico Zarco
Líria Porto - professora, poeta, natural de araguari – mg – autora dos livros borboleta desfolhada e de lua, publicados em portugal – 2009 – e garimpo e asa de passarinho, publicados no brasil pela editora lê – 2014.